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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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CONGRESSO

Deputado avisou presidente de que criticaria convocação extra do Congresso; petista disse que não responderia

João Paulo combinou ataque com Lula

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ciúmes, combinação e manobra nos bastidores antecederam a reação do presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), de atacar a convocação extraordinária do Congresso Nacional em janeiro.
Na sexta, o deputado classificou a convocação como um "escândalo". "Não sei se o Palácio já convocou. Se convocou, está errado. discordo do presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva]". A decisão custará cerca de R$ 50 milhões. Os congressistas recebem dois salários extras. A intenção é acelerar a tramitação na Câmara da PEC (proposta de emenda constitucional) paralela da Previdência -aprovada no Senado, que alivia as regras para servidores.
Na noite anterior à crítica, João Paulo esteve em um churrasco oferecido por Lula na Granja do Torto. O presidente disse a deputados que precisaria convocar o Congresso. Quer cumprir o acordo da PEC paralela -a reforma da Previdência só foi aprovada no Senado com a condição de que essa outra emenda prosperasse.
Lula também citou que, no dia seguinte, o Senado começaria a votar dois assuntos vitais: 1) a alíquota de 27,5% no Imposto de Renda e 2) a nova Confins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Sem a convocação, os senadores poderiam desconfiar e deixar de votar.
Na roda de deputados, Paulo Bernardo (PT-PR) desaconselhou o presidente a convocar o Congresso. Pouco depois, João Paulo se aproximou: "É ruim. Justamente amanhã [sexta-feira], no dia em que serão promulgadas as emendas da Previdência e tributária, anunciar a convocação? Vai parecer que as reformas não são boas, pois já é necessário a PEC paralela", disse João Paulo.
Lula concordou. Haveria desgaste. Relatou que o ministro José Dirceu (Casa Civil) trabalhava uma opção. Mas estava difícil. João Paulo voltou a se opor à convocação: "Vou ter de dizer isso publicamente". O presidente respondeu: "Eu não vou rebater". Ficou subentendido que uma crítica pública seria tolerada.
O jantar terminou sem consenso sobre se a convocação seria anunciada já na sexta ou nesta semana. Quando o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), confirmou a convocação na sexta de manhã, João Paulo irritou-se. Por duas razões. Primeiro, por não ter sido avisado que o anúncio seria naquele dia. Segundo, porque Mercadante é seu adversário direto -ambos cobiçam o governo paulista.
No Planalto, a reação foi considerada alguns decibéis além do combinado. O desvio de tom foi relevado e creditado ao ciúme mútuo entre ele e Mercadante. A relação de João Paulo com o Planalto ficou praticamente inalterada. Na própria sexta, após classificar a convocação como um "escândalo", recebeu Dirceu na sua casa e falou três vezes ao telefone com Lula. Pelo menos uma vez após a queixa pública.
O Congresso ainda funciona hoje e amanhã. O Senado deve aprovar a nova Cofins e Câmara deve votar o Orçamento.



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