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CONGRESSO
Deputado avisou presidente de que criticaria convocação extra do Congresso; petista disse que não responderia
João Paulo combinou ataque com Lula
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ciúmes, combinação e manobra nos bastidores antecederam a
reação do presidente da Câmara
dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), de atacar a convocação extraordinária do Congresso
Nacional em janeiro.
Na sexta, o deputado classificou
a convocação como um "escândalo". "Não sei se o Palácio já convocou. Se convocou, está errado.
discordo do presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva]". A decisão
custará cerca de R$ 50 milhões. Os
congressistas recebem dois salários extras. A intenção é acelerar a
tramitação na Câmara da PEC
(proposta de emenda constitucional) paralela da Previdência
-aprovada no Senado, que alivia
as regras para servidores.
Na noite anterior à crítica, João
Paulo esteve em um churrasco
oferecido por Lula na Granja do
Torto. O presidente disse a deputados que precisaria convocar o
Congresso. Quer cumprir o acordo da PEC paralela -a reforma
da Previdência só foi aprovada no
Senado com a condição de que essa outra emenda prosperasse.
Lula também citou que, no dia
seguinte, o Senado começaria a
votar dois assuntos vitais: 1) a alíquota de 27,5% no Imposto de
Renda e 2) a nova Confins (Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social). Sem a convocação, os senadores poderiam
desconfiar e deixar de votar.
Na roda de deputados, Paulo
Bernardo (PT-PR) desaconselhou
o presidente a convocar o Congresso. Pouco depois, João Paulo
se aproximou: "É ruim. Justamente amanhã [sexta-feira], no
dia em que serão promulgadas as
emendas da Previdência e tributária, anunciar a convocação? Vai
parecer que as reformas não são
boas, pois já é necessário a PEC
paralela", disse João Paulo.
Lula concordou. Haveria desgaste. Relatou que o ministro José
Dirceu (Casa Civil) trabalhava
uma opção. Mas estava difícil.
João Paulo voltou a se opor à convocação: "Vou ter de dizer isso
publicamente". O presidente respondeu: "Eu não vou rebater". Ficou subentendido que uma crítica
pública seria tolerada.
O jantar terminou sem consenso sobre se a convocação seria
anunciada já na sexta ou nesta semana. Quando o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), confirmou a convocação
na sexta de manhã, João Paulo irritou-se. Por duas razões. Primeiro, por não ter sido avisado que o
anúncio seria naquele dia. Segundo, porque Mercadante é seu adversário direto -ambos cobiçam
o governo paulista.
No Planalto, a reação foi considerada alguns decibéis além do
combinado. O desvio de tom foi
relevado e creditado ao ciúme
mútuo entre ele e Mercadante. A
relação de João Paulo com o Planalto ficou praticamente inalterada. Na própria sexta, após classificar a convocação como um "escândalo", recebeu Dirceu na sua
casa e falou três vezes ao telefone
com Lula. Pelo menos uma vez
após a queixa pública.
O Congresso ainda funciona
hoje e amanhã. O Senado deve
aprovar a nova Cofins e Câmara
deve votar o Orçamento.
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