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GOVERNO
Instituto mediu e pesou os entrevistados para calcular o déficit de peso
IBGE contesta declarações do presidente sobre a fome
PEDRO SOARES
ANTONIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva partiu de uma premissa errada ao comentar indiretamente,
anteontem, pesquisa do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) que revelou, na semana passada, a existência de
mais adultos com excesso do que
com déficit de peso no Brasil.
Lula disse, em comemoração no
Palácio do Planalto, que as pessoas "têm vergonha" de declarar
que passam fome: "A fome não é
uma coisa medida em pesquisa
(...). Pode colocar todos os institutos de pesquisa para saber se as
pessoas estão com fome e, possivelmente, o resultado será negativo (...). Não é todo ser humano
que reconhece que passa fome".
Na realidade, a POF (Pesquisa
de Orçamentos Familiares) do IBGE não extraiu os números sobre
déficit de peso e obesidade a partir de perguntas subjetivas sobre
fome. Como diz o próprio presidente do IBGE, Eduardo Pereira
Nunes, não há nenhuma referência à fome, desnutrição ou pobreza: "O que a pesquisa fez foi medir
e pesar as pessoas e determinar,
segundo padrões estabelecidos
internacionalmente [pelo Índice
de Massa Corporal], quem está
abaixo do peso indicado e quem
está acima. Não há nada de subjetivo nesse cálculo".
Embora Lula não tenha mencionado diretamente a POF, ela
foi a última pesquisa de grande
repercussão a tratar da alimentação dos brasileiros.
Ontem, dois funcionários do
IBGE interromperam uma entrevista coletiva sobre Estatísticas de
Registro Civil de 2003 para reclamar das declarações de Lula. Nunes afirmou que esse protesto
constituiu um fato isolado e que
não há nenhum mal-estar no órgão em relação aos comentários
do presidente. "Não acho que comentários sobre a pesquisa, mesmo se feitos pelo presidente da
República, coloquem em dúvida a
reputação do IBGE", disse.
Apesar de ressaltar que Lula não
contestou a pesquisa do IBGE, o
diretor do Departamento de
Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, afirmou que "a informação
que deve ter faltado ao presidente
é que a pesquisa foi baseada em
medidas antropométricas (Índice
de Massa Corporal)".
Para Guimarães, a existência de
obesidade não é "contraditória"
com a política do governo federal
de combate à fome: "Uma coisa
nada tem a ver com a outra. A fome crônica, manifestação subjetiva e às vezes extremada da desnutrição, é uma dívida social remanescente. A obesidade é uma dívida social emergente", disse.
Realizada pelo IBGE em 48.470
domicílios de todo país, a POF revelou que a insuficiência de peso
afeta 4% da população adulta, ou
3,8 milhões de pessoas. Outras
40,6%, ou 38,8 milhões, têm excesso de peso. Segundo padrões
internacionais, uma taxa de até
5% é considerada normal, pois
corresponde ao percentual de
pessoas de constituição hereditariamente magra. O IBGE ainda
não divulgou informações sobre
crianças e adolescentes.
Em maio, na divulgação prévia
da POF, foram apresentadas informações baseadas em perguntas subjetivas. Nenhuma delas se
referia diretamente à fome. Nos
resultados dessa parte da pesquisa, 46,6% das famílias afirmaram
que tinham restrições para comprar alimentos -para 13,83%, o
alimento era normalmente insuficiente. Ao todo, 85% das famílias
responderam que tinham dificuldades para chegar ao final do mês
com sua renda.
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