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ELIO GASPARI
Uma cartinha de Lula Noel
Um teste para curiosos:
Os presidentes do Brasil
e dos Estados Unidos, na defesa
do progresso de suas sociedades, escreveram cartas a alguns
milhões de cidadãos.
Um escreveu aos jovens que
conseguiram as melhores notas
nos colégios onde estudavam:
"Vejo com satisfação que estudantes excepcionais como você
vão nos ajudar a conduzir o
país (à). Fique com o meu estímulo para continuar buscando
altos objetivos, acreditando em
você".
O outro presidente escreveu
aos aposentados e pensionistas
da Previdência avisando-os de
que foi criada uma linha de crédito que lhes oferece empréstimos a juros camaradas: "Esperamos que essa medida possa
ajudá-lo a atender melhor às
necessidades do dia-a-dia. Por
meio de ações como essa o governo quer construir uma Previdência Social mais humana,
justa e democrática".
O país onde o presidente oferece dívidas para o "dia-a-dia"
(a juros de 1,75% ou 2% ao
mês) é o Brasil. Nos Estados
Unidos, onde os juros dos carros
novos estão a 6% ao ano, o presidente não é doido de aparecer
na casa dos outros oferecendo
empréstimos como se eles fossem uma realização do seu governo. Na carta do presidente
americano não há referência ao
tal de "governo".
À custa da Viúva, Lula e o ministro Amir Lando, do PMDB e
da Previdência, escreveram aos
aposentados de todo o país informando:
"Em maio passado o governo
federal encaminhou ao Congresso um projeto de lei para
permitir aos aposentados da
Previdência Social acesso a linhas de crédito com taxas de
juros reduzidas.
Agora, o Legislativo aprovou
o projeto e acabamos de sancioná-lo. Com isso, você e milhões
de outros beneficiários(as) passam a ter o direito de obter empréstimos cujo valor da prestação pode ser de até 30% do seu
benefício mensal".
O cidadão que recebe um benefício de R$ 360 por mês (10%
da aposentadoria de vítima da
ditadura que a Viúva paga a
Lula) pode tomar cerca de R$
100 emprestados. Amortizando-os em dez prestações, desembolsará pelo menos R$ 119.
Nos juros da banca que não lhe
empresta dinheiro pagaria pelo
menos R$ 170. É bom negócio.
Pena que esse mesmo dinheiro
colocado na poupança do andar de baixo paga apenas R$ 7,
enquanto rende o dobro nos
fundos do andar de cima.
Há na carta de Lula o cheiro
da propaganda. Esse é o aspecto
mais velho e menos relevante
da questão. Que o PT Federal
faça o que criticava em Paulo
Maluf (condenado a ressarcir a
Viúva por uma emissão de cartas à custa da prefeitura) não
chega a ser surpresa. O verdadeiro problema está no teste lá
de cima. Foi fácil intuir qual
presidente estimula estudantes
bem sucedidos.
Um felicita o jovem cidadão
pelos seus êxitos. O outro comporta-se como se fosse o construtor da Previdência. Dirige-se
ao contribuinte como se estivesse a "ajudá-lo" emprestando-lhe dinheiro. Um lidera uma sociedade. O outro patrocina-a.
Depois Lula oferece lições de
moral à patuléia, dizendo que é
preciso deixar de ver no Estado
uma espécie de Paizão que vai
resolver todos os problemas.
Tudo bem se Lulão não se apresentasse no papel de Paizinho
para oferecer emprestado um
dinheiro que não é dele.
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