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JANIO DE FREITAS
Variações invariáveis
Saiu de moda. Talvez por cansaço, como é comum nas modas, talvez porque o noticiário
econômico seja influenciado demais pelo governismo, e o dado é
impiedoso. Mas o fato está aí: a
dívida do governo, que é nossa
porque somos os condenados a
pagá-la, tem crescido assombrosamente. Mais de 30% em apenas
24 meses. O governo Lula recebeu-a em R$ 623 bilhões e ao entrar neste janeiro já a elevava a
R$ 812 bilhões. Obra da sua política de juros.
Os títulos da dívida governamental são, hoje em dia, a melhor
fonte de enriquecimento fácil. Assim se explica a insignificância do
investimento produtivo procedente do exterior e sua preferência pela chamada aplicação de
curto prazo: aplica, recebe o lucro
presenteado pelos juros sem
iguais no mundo, e leva o dinheiro de volta. O lucro que vai embora é dinheiro que foi pago ao governo sob a forma de impostos e
contribuições compulsórias, ou
proveniente de mais aumento da
dívida. É, portanto, um modo de
empobrecimento da população e
da economia do país.
Quando a dívida era um quinto
ou um sexto da atual, costumavam defini-la como uma bomba
relógio. Dívida que se tornava
impagável e fatalmente levaria a
estrangulamento de consequências atômicas. A definição desapareceu (lucros recordistas sempre preferem o silêncio), mas sua
verdade é cada vez mais verdadeira.
Privatização
A coletivização das terras agrícolas na União Soviética na era
stalinista, segundo a estimativa
consagrada, exterminou seis milhões de vidas. O número é contaminado pela propaganda anticomunista, o provável é que fosse
inestimável por falta de registros
à época, mas por certo foram milhões de vidas perdidas. Apesar
da coletivização imposta, foi o
pequeno agricultor, a gente da
agropecuária familiar, que manteve alimentadas as cidades soviéticas. Durante o regime comunista e depois dele.
A decapitação coletiva da diretoria da Embrapa, feita agora pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi a reação de
um homem interessado no agronegócio, no empreendimento de
grande produção, à preferência
da Embrapa por estudar modernizações da agropecuária familiar. Entre outras boas razões, a
Embrapa procurava tornar menos problemático o êxito de assentados, remotos e recentes, da
reforma agrária.
A nova Embrapa de Lula vai
pesquisar para a grande agroindústria que tem capital para fazer suas próprias pesquisas. É
mais uma modalidade de privatização.
Afinal ou final
O Plano de Gestão Programada
da Segurança, entregue ao governo federal pelo governo fluminense, adotou uma posição inteligente: não pediu nem propôs o
tipo ou o tamanho da colaboração, em forças policiais, militares
ou qualquer outra, com que o governo Lula entraria nas ações
conjuntas contra a criminalidade
no Rio. O governo federal ficou
compelido a dizer se colabora e
que colaboração quer dar, sem
ter mais a saída do "ah, isso não é
possível porque o Palocci não libera, ou porque os militares não
sei o quê".
Na sexta-feira, o governo federal, por intermédio do secretário
nacional de Segurança Pública,
Luiz Fernando Correa, comunicou ao secretário fluminense
Marcelo Itagiba a concordância
com o plano proposto. Com que
participação federal? Bem, isso ficou para amanhã.
Até agora, as promessas e os
compromissos de Lula em relação
ao Rio, e particularmente em relação às responsabilidades federais na criminalidade, foram submetidos ao interesse político de
combater o casal Garotinho, no
qual viceja o projeto de uma candidatura presidencial anti-Lula
em 2006. O Plano de Gestão Programada parece ser a última
oportunidade de que Lula e seu
governo entendam que o problema da criminalidade não é político, não é eleitoral, é da sociedade.
O que basta para atestar que o
principal responsável por ele é o
governo federal. Cuja omissão,
vinda de longe, configura muito
mais do que complacência: é conivência.
De botas
Quem foi contemporâneo das
eleições e reeleições de Trumann,
Nixon, Reagan, não tem o que estranhar na reeleição de George
W. Bush como sucesso de uma
mentira monumental -as armas de destruição em massa do
Iraque. Do tanto que se poderia
dizer, e muitos disseram alguma
coisa, ficou uma síntese primorosa, no título de um pequeno artigo no NY Times (republicado pelo
Globo) sobre o baile da nova posse: "Black-tie e botas". Foi o nome
do baile e, não há dúvida, é o próprio George W. Bush.
Aproveite a ocasião e as férias
para entender esta combinação
que governa o mundo: está nas livrarias o livro "O Império Contra-Ataca", do correspondente
Argemiro Ferreira, um jornalista
brasileiro que sabe tanto dos subterrâneos da vida nos Estados
Unidos quanto os melhores jornalistas norte-americanos. Em
certos assuntos, mais.
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