São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Presidente diz que convenção oficial do partido só é em junho, mas a oposição tenta impedi-lo de inaugurar obras pelo país

Lula afirma que só definirá candidatura no último momento

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Em visita à Bolívia para a posse de Evo Morales, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que vai "continuar andando no limite do tempo" para anunciar sua candidatura à reeleição e que, enquanto isso, manterá o ritmo de inaugurações de obras.
Anteontem, em Rio Branco (AC), Lula disse que tem até junho para definir sua candidatura: "Ainda é muito cedo para o presidente da República definir se é ou não é [candidato à reeleição], porque o partido tem convenção oficial só em junho. O que que os adversários querem? Os adversários querem que eu entre em campanha agora porque para eles interessa. Para mim, não interessa".
Ontem, Lula atribuiu à pressão de opositores o interesse por sua decisão de anunciar a candidatura à reeleição: "Não posso permitir que meus adversários fiquem dizendo que cada ato que eu faço é um ato eleitoreiro, senão eu não posso mais nem sair de casa".
O presidente deu a entrevista ao desembarcar do avião presidencial, em La Paz. De bom humor, brincou sobre a altitude -o aeroporto fica a cerca de 4.100 metros. "Tengo que hablar poquito", disse, adaptando um conselho famoso dos diplomatas para enfrentar essas alturas: "Andar despasito, comer poquito e dormir solito".
Lula disse que os adversários não mudarão sua rotina e que ele manterá as inaugurações. "Qualquer coisa que eu faça é eleitoreira. Na verdade, eles dizem isso para evitar que eu saia para inaugurar as coisas. Mas nós trabalhamos três anos plantando, agora está na hora de nós colhermos".
Foi aí que Lula mostrou até onde irá sua disposição de inaugurar obras enquanto não for impedido pela lei de fazê-lo. "E eu vou continuar andando no limite do tempo que eu tenha de tomar a decisão. Não sou obrigado a assumir a candidatura, os adversários é que são obrigados, que têm de se afastar em março. Eu não sou", disse.
No dia anterior, ainda no Brasil, Lula afirmara que "as pessoas que estão incomodadas com as minhas viagens tenham paciência, porque vou viajar muito mais".
Nas últimas semanas, o presidente tem se dedicado a uma intensa agenda de inaugurações país afora. Esteve no Norte, Nordeste e Sudeste na mesma semana, sempre para eventos públicos. No Nordeste, chegou a vistoriar obras na mesma estrada em três Estados diferentes num só dia.
Pela lei, cada partido tem de fazer sua convenção até o fim de junho para indicar seu candidato à eleição, e é a esse prazo que Lula se refere quando fala sobre o "limite". Já seus dois principais oponentes, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), são obrigados a deixar os cargos que ocupam até 1º de abril se quiserem disputar outro posto.
Mesmo sempre negando que tenha decidido se candidatar, Lula já deu vários sinais de que tentará a reeleição. Ontem, depois de se dizer "muito tranqüilo", afirmou: "Só peço a Deus que me dê forças para continuar com a disposição que eu estou de governar este país e melhorar a vida do nosso povo".
Todos os ministros mais próximos de Lula acreditam que o presidente vá sair candidato. No final de 2005, ele chegou a admitir que iria disputar a reeleição, mas depois disse que foi um "lapso".

Café da manhã
Em café da manhã ontem na residência do governador do Acre, o presidente Lula voltou a ouvir pedidos para lançar sua candidatura à reeleição e avaliou que um anúncio desse tipo o prejudicaria.
De acordo com a assessoria do governador Jorge Viana (PT), Lula disse que não quer dar munição aos adversários. Ele afirmou que, se anunciasse sua candidatura, seria alvo de questionamentos na Justiça por uso da máquina a seu favor. Além de Viana, participaram do café com Lula o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, e o senador Sibá Machado.


Colaborou EDUARDO DE OLIVEIRA, da Agência Folha, em Rio Branco


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