|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cartões do governo pagam até despesas em joalheria
Ministra da Igualdade Racial, por exemplo, gasta R$ 461 em free shop e diz que se enganou
Portal do governo mostra que instrumento indicado para gastos "emergenciais" foi usado em choperia e loja de instrumentos musicais
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os cartões de crédito corporativo do governo federal, indicados para gastos "emergenciais", como a compra de material, prestação de serviços e diárias de servidores em viagens,
foram usados em 2007 para pagar despesas em loja de instrumentos musicais, veterinária,
óticas, choperias, joalherias e
em free shop, conforme dados
do Portal da Transparência, site do próprio governo.
Os responsáveis pelas compras afirmaram que a prática é
legal e todas as compras eram
necessárias. Não foi o que aconteceu com a ministra Matilde
Ribeiro (Igualdade Racial), que
pagou despesa de R$ 461,16 em
um free-shop em outubro do
ano passado. Alertada pelo ministério, ela reconheceu o "engano" e afirmou ter ressarcido
o valor à União só neste mês.
Os gastos nesses estabelecimentos, alguns irrisórios, foram feitos por funcionários e
pelos próprios ministros. No
ano passado, toda a máquina
federal gastou R$ 75,6 milhões
com o cartão de crédito corporativo, aumento de 129% em relação aos gastos de 2006. A elevação se deve pelo fato de ter
aumentado o uso do cartão que,
segundo a CGU (Controladoria
Geral da União), é mais transparente e fácil de fiscalizar.
Apesar de os gastos serem
"emergenciais", o Ministério
do Trabalho pagou R$ 480 para
consertar um relógio importado numa joalheria de Brasília.
O ministro dos Esportes, Orlando Silva, gastou R$ 468,05
no restaurante Bela Cintra, nos
Jardins. O valor médio da refeição lá é de R$ 150 por pessoa.
Não consta da agenda do ministro na internet nenhuma atividade na data (25 de setembro).
Sua assessoria, contudo, enviou
à Folha agenda que assegura
ser a do dia, quando Silva estaria em São Paulo. Disse que a
ausência da programação no site do ministério se deve a "problemas de atualização".
Orlando Silva usou o cartão
em outros restaurantes: R$
198,22 em uma churrascaria na
capital paulista, em 22 de outubro, quando também não havia
nenhuma atividade em sua
agenda na internet. No mesmo
dia, segundo o portal da Transparência, há o registro de outro
gasto com restaurante: R$
217,80 no francês Le Vin Bistro, também no Jardins. A assessoria informou que os gastos ocorreram em dias diferentes, quando o ministro cumpria
agenda em São Paulo.
No dia 29 de junho de 2007,
quando a agenda de Orlando
Silva informa que ele iria "despachar internamente", o extrato de seu cartão mostra gasto
de R$ 196,23 em uma churrascaria na capital fluminense.
Já o ministro Altemir Gregolin (Pesca) gastou em julho
passado R$ 70 na choperia Pingüim, em Ribeirão Preto (SP).
Ele, contudo, justifica que foi
ao local jantar, e que não consumiu bebidas alcóolicas. Os
dados disponíveis na internet
não descrevem os itens consumidos. O ministro tinha uma
agenda oficial na cidade.
O Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), órgão ligado
à Presidência, pagou compra
de R$ 80 em uma loja de instrumentos musicais no centro
de Porto Velho (RO). Em Porto
Alegre, funcionários da Empresa de Trens Urbanos, que tem a
União como acionista majoritária, gastaram R$ 209,99 em
uma veterinária, R$ 630 em
uma loja de eletrodomésticos,
R$ 1.178 em duas óticas e R$
695 em uma floricultura.
As despesas com cartões corporativos vêm aumentando
desde sua criação, em 2001.
Eles substituem as contas "tipo
B", quando um servidor recebe
o dinheiro e depois presta contas. Essas contas ainda são usadas -em 2007, os gastos com
elas chegaram a R$ 101,3 milhões, valor superior ao dos
cartões (R$ 75,6 milhões).
Erramos
BRASIL (23.JAN, PÁG. A4) Orlando Silva, ministro do Esporte, gastou
R$ 468,05 com cartão corporativo no restaurante A Bela Sintra, e
não Bela Cintra, como informou
o texto "Cartões do governo pagam até despesas em joalheria".
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Controle: Ministérios, TCU e CGU realizam a fiscalização Índice
|