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Brasil bloqueia dinheiro fora do país de alvos da Satiagraha
Governo anuncia US$ 2 bi, mas Procuradoria diz que US$ 450 milhões foram atingidos
Suspeita é que valor tenha sido enviado de forma ilegal por meio do Opportunity, de Dantas; em nota, banco diz que bloqueio é "infundado"
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro anunciou ontem o bloqueio de US$ 2
bilhões (cerca de R$ 4,6 bilhões) em contas bancárias
mantidas no exterior por investigados na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. O valor
foi divulgado pelo Ministério
da Justiça como o maior bloqueio de recursos supostamente ilícitos da história do país.
O Ministério Público Federal, em São Paulo, que investiga
a Satiagraha, divergiu do montante apresentado pelo Ministério da Justiça. Segundo a Procuradoria, o dinheiro bloqueado no exterior é do banco Opportunity e soma US$ 450 milhões, depositados em um banco de Nova York.
Procurado pela reportagem,
o Ministério da Justiça manteve o valor de US$ 2 bilhões e informou ainda que US$ 500 milhões resultam de cooperação
com a Justiça americana.
As autoridades suspeitam
que o dinheiro tenha sido remetido ilegalmente para o paraíso fiscal das ilhas Cayman,
por meio de aplicações no Opportunity Fund, fundo "offshore" do banco, que é controlado
por Daniel Dantas, principal alvo da Operação Satiagraha.
Em nota divulgada ontem à
noite, o Opportunity disse que
não foi notificado sobre o bloqueio e que, "se foi pedido bloqueio de recursos administrados pelo Opportunity, o pedido
é infundado e arbitrário".
Também informou que só aceita
aplicações de bancos que adotam "procedimentos de combate à lavagem de dinheiro".
O bloqueio é resultado de
cooperação internacional entre
Estados Unidos, Reino Unido,
Suíça, além do Ministério Público Federal e do DRCI (Departamento de Recuperação de
Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional), órgão do Ministério da Justiça responsável
por ações de lavagem e repatriação de dinheiro e pelo combate ao crime organizado
transnacional.
Em dezembro, reportagem
da Folha revelou que autoridades dos três países estavam no
Brasil em missão sigilosa e queriam analisar documentos
apreendidos na Satiagraha com
o objetivo de bloquear supostos recursos ilícitos de Dantas.
Esta foi a terceira vez que recursos de investigados na operação foram bloqueados -e a
segunda envolvendo contas no
exterior. Em setembro, dois
meses após a deflagração da
operação, a Justiça do Reino
Unido congelou US$ 46 milhões (R$ 107,1 milhões) em
contas do Opportunity no país,
após pedido do procurador da
República Rodrigo de Grandis,
que também atuou no bloqueio
anunciado ontem.
Naquele mesmo mês, a pedido do juiz Fausto De Sanctis, da
Justiça Federal de São Paulo,
foram bloqueados no Brasil outros R$ 545 milhões.
A Satiagraha foi uma das
maiores investigações já realizadas pela Polícia Federal. Desencadeada em julho do ano
passado, prendeu o banqueiro
Daniel Dantas, executivos do
grupo Opportunity, além do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Eles são acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta, entre
outros crimes.
Divergência
Confrontado com a diferença
dos valores anunciados, o secretário nacional de Justiça,
Romeu Tuma Jr., não soube explicar o motivo. Mas contou
que os US$ 2 bilhões bloqueados são inéditos, ou seja, não
entram na conta os valores já
congelados no ano passado.
"São várias cifras em conjunto", afirmou. "As informações
oficiais transitam por dentro da
autoridade central, então elas
passam por nós. Não sei o que o
Ministério Público está falando", afirmou Tuma Júnior.
Segundo o relatório da Operação Satiagraha, de julho, o
Opportunity Fund movimentou cerca de US$ 1,9 bilhão entre 1992 e 2004.
"Não adianta só prender e
processar as pessoas, temos de
cortar o fluxo financeiro delas e
das organizações", disse Tuma
Júnior, sem detalhar nomes.
Colaborou FELIPE SELIGMAN, da Sucursal de Brasília
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