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TERRA SEM LEI
Presidente disse que o governo assumiu as dores dos trabalhadores rurais
Morte no PA foi ato pensado
de madeireiros, afirma Lula
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SIDROLÂNDIA (MS)
Em um discurso de críticas, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a apontar empresários do setor madeireiro como responsáveis pelos assassinatos ocorridos na semana passada
no Pará, entre os quais o da freira
Dorothy Stang. "Foi uma atitude
pensada de alguns empresários
do setor madeireiro."
Segundo o presidente, a atual
onda de mortes no Estado motivadas por conflitos agrários -segundo Lula uma "desgraça"- fez
com que o governo assumisse as
"dores" dos trabalhadores rurais.
E prometeu: "Quem tiver terra
grilada, o governo vai tomar conta dessa terra, porque o Brasil não
é terra de ninguém. Este país tem
governo, tem lei, e a lei vale para o
presidente e para um pistoleiro".
Lula esteve ontem pela manhã
em Sidrolândia (MS), onde participou da inauguração da rede de
eletrificação em assentamentos
rurais do Estado. Usando uma camiseta e um boné do programa
federal Luz para Todos, o presidente falou, por meia hora e de
forma improvisada, para cerca de
2.000 trabalhadores rurais assentados e acampados da região.
"A morte dos sindicalistas e da
freira, no Estado do Pará, não foi
por acaso e é importante que o
povo compreenda. A morte da
freira e dos sindicalistas foi uma
atitude pensada de alguns empresários do setor madeireiro, que
estão revoltados com a política
que estamos fazendo no Pará."
Anteontem, em seu programa
quinzenal de rádio, Lula, num
tom mais brando, já havia atacado os madeireiros, chamando-os
de "reacionários" e "conservadores". E, tanto no rádio como em
sua fala de ontem, Lula creditou o
atual recrudescimento dos conflitos no Pará à "revolta" dos empresários diante das ações do governo federal na área ambiental.
Na semana passada, depois das
mortes no Pará, o governo federal
anunciou um pacote sobre o tema, como a criação de cinco unidades de preservação na região
amazônica e a interdição de 8 milhões de hectares próximos à BR-163 (que liga Cuiabá a Santarém).
Ontem, Lula disse que o primeiro objetivo, o de prender os assassinos, já foi alcançado. Agora,
afirmou, o foco são os mandantes.
"Os madeireiros podem saber
que a morte da freira, em vez de
colocar o governo recuado, vai
colocar o governo mais ativo. E
vamos fazer o que tem que ser feito. A impunidade, companheiros,
acabou (...) Agora nós queremos
chegar ao mandante, porque nós
queremos acabar com essa história de empresários, alguns empresários, é verdade, comprarem glebas de terras de milhares de hectares em algumas regiões mais distantes do nosso país, contratarem
jagunços e mandarem matar
quem está lá organizado, como
estavam os trabalhadores rurais."
Lula disse que não há prazo para que deixem o Pará os 2.000 homens do Exército enviados ao Estado na semana passada numa
tentativa emergencial de o governo responder aos assassinatos.
O atual momento, segundo o
presidente, tem de ser usado para
"moralizar" a questão fundiária
em todo o país. "Nós, agora, vamos aproveitar essa desgraça que
eles fizeram para que a gente possa moralizar a questão fundiária
no Estado do Pará e no Brasil. Se
acharam que com isso vão parar o
movimento, eles podem ficar certos de que o governo assumiu as
dores daqueles que querem fazer
justiça social neste país."
Lula não poupou nem os governadores. Disse que muitos mudaram o nome do Luz para Todos e
colocaram o nome deles "para
vender para a sociedade a idéia de
que o programa era deles. Tem
outros que vão mais devagar porque acham que não podem ser
bem rápidos para não favorecer o
presidente Lula".
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