São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

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TERRA SEM LEI/OUTRO LADO

Para engenheiro ambiental, governo erra ao culpar exclusivamente o setor e ao simplificar o problema

Madeireiros vêem prejulgamento de Lula

Jefferson Coppola - 14.fev.2005/Folha Imagem
Área de desmatamento próxima ao PDS Esperança, em Anapu, onde Dorothy Stang foi assassinada


MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO

Organizações ligadas à atividade madeireira reagiram às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que culpou "alguns empresários do setor madeireiro" pela morte de Dorothy Stang e de sindicalistas no Pará.
Para Jeziel Oliveira, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) houve prejulgamento no discurso do presidente. Segundo ele, culpar o setor pela violência e pelo desmatamento no Pará é um "contra-senso": "O presidente misturou madeireiro, grileiro, assassino, pecuarista no mesmo balaio. Somos um setor que exportou US$ 3,84 bilhões em 2004 e gera, em toda cadeia produtiva, cerca de 2 milhões de empregos".
Segundo Jeziel, as afirmações de Lula reforçam a idéia de que a atividade é culpada pela violência e pelo desmatamento, o que, segundo ele, não é verdade: "O compromisso é de preservar a floresta porque dependemos dela para nossa atividade econômica. Se não repusermos o que cortamos, como vamos sobreviver?".
A suposta simplificação do problema foi criticada pelo engenheiro ambiental Fernando Castanheira Neto. Para ele, as afirmações de Lula tratam uma questão complexa de forma simplista e refletem um desconhecimento da realidade da Amazônia.
"Qualquer um que tenha formação técnica percebe que as clareiras vistas em fotos de desmatamento são resultado de conversão florestal [destinada a pastos, agricultura e assentamentos] e não de manejo florestal [destinado à atividade madeireira]. O corte das árvores é raso, sem seleção das árvores de maior potencial econômico e sem a manutenção de árvores menores ou matrizes."
Para o engenheiro, superintendente do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal, o governo se distancia da questão e age como se não tivesse responsabilidades. "O governo tem de parar de apagar fogo com querosene e apresentar soluções integradas em vez de baixar pacotes."
O presidente Lula, no entanto, foi "absolvido" pelo diretor da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Pará: "O presidente é uma pessoa sensata. Prefiro interpretar as declarações de hoje [ontem] no contexto das de ontem [segunda-feira], quando disse que os bons madeireiros estão juntos do governo para buscar soluções para o problema."


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