São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

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Há invasões "compreensíveis", diz ministro

Petista afirma que a lei deve ser respeitada, mas diz que ações em terras griladas, por exemplo, podem ser aceitáveis

Cassel chama de "bravata" ataques de Rainha à pasta e critica secretário de SP, que afirma que reforma agrária é competência da União


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao comentar as invasões de terra promovidas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no final de semana, no interior de São Paulo, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) afirmou que "tem casos que são, no limite, compreensíveis". Apesar de afirmar que defende a lei, o ministro disse, sobre as invasões, que "poderia haver compreensão em casos comprovados de grilagem de terras públicas", por exemplo. Cassel, filiado ao PT-RS, também rotulou de "bravatas" as críticas feitas à pasta pelo líder do MST José Rainha Jr. e afirmou que, ao responsabilizar a União, o governo do Estado de São Paulo "não ajuda em nada a resolver o problema" da reforma agrária.

 

FOLHA - Que avaliação o sr. faz das invasões de terra em São Paulo no final de semana?
GUILHERME CASSEL -
Temos uma situação antiga no Pontal [do Paranapanema] envolvendo terras devolutas, sendo a maioria delas estaduais. O Incra [de SP] está tomando todas as medidas, entrando em contato com os movimentos, tentando, na medida do possível, diminuir o foco de tensão. Mas, especialmente no Pontal, deve haver um trabalho conjunto dos governos federal e estadual.

FOLHA - O sr. fala em trabalho conjunto, mas o secretário da Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Marrey, diz que a realização da reforma agrária é competência da União.
CASSEL -
De fato, a atribuição é da União, menos quando são terras devolutas estaduais. Todo o procedimento de destinação dessas terras é estadual. E eu acho que não ajuda ficar jogando responsabilidade em A ou em B. [Temos] sempre de trabalhar em parceria, somando esforços.

FOLHA - O secretário Marrey disse que os movimentos sem terra e a CUT, por conta de seus vínculos políticos com o governo, deveriam cobrar diretamente a União.
CASSEL -
Essa é uma opinião que não ajuda em nada a resolver o problema.

FOLHA - A relação de diálogo do governo federal com os sem-terra não prejudica no momento de ser duro com certas ações dos movimentos, como as invasões de terra?
CASSEL -
Tenho muito respeito com os movimentos, mas preservo divergências com a maioria deles. O fato de respeitá-los não me impede de condenar aquilo que acho errado, de tomar providências e fazer que a lei prevaleça.

FOLHA - As 13 invasões em São Paulo são condenáveis?
CASSEL -
Sempre que a gente trabalha com ocupação de terra é preciso ver caso a caso. Tem que ver cada uma dessas [13] ocupações, ver se é terra pública, se é terra abandonada, se é terra que já está na Justiça. Tem casos que são, no limite, compreensíveis. Outros casos não. Os casos não-aceitáveis devem ser tratados de forma rigorosa. Existem leis para isso.

FOLHA - O que são casos compreensíveis?
CASSEL -
Eu defendo que se aplique estritamente a lei, sempre. Mas poderia haver compreensão em casos comprovados de grilagem de terras públicas, com crimes ambientais, ou então em casos comprovados de terras com trabalho de escravo, o que não é o caso do Pontal. Mas, mesmo nesses casos, eu defendo que se aplique sempre a lei.

FOLHA - Para diminuir essa tensão, há como priorizar o assentamento dos acampados do Sudeste e Nordeste, por exemplo, em vez de criar projetos na Amazônia?
CASSEL -
O nosso esforço e a orientação do presidente é para priorizar os acampados.

FOLHA - Mas essa demora tem causado reclamações dos sem-terra. O líder do MST José Rainha Jr. fala em "incompetência" do ministério.
CASSEL -
Acho que bravata geralmente vende manchete de jornal, mas nunca ajuda a resolver os problemas. Eu prefiro um diálogo mais sério e mais propositivo.


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