São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Outro lado

PSDB afirma que empresa não é fantasma

DA REDAÇÃO

O vice-presidente-executivo do PSDB nacional, Eduardo Jorge Caldas Pereira, enviou a seguinte carta à Folha, a respeito das reportagens "Prestação de contas de Serra em 2002 contraria dados do PSDB", publicada em 21 de fevereiro, e "Receita detecta notas frias na campanha de Serra em 2002", de 19 de fevereiro.

Íntegra da carta
"A matéria da Folha de 21 de fevereiro, "Prestação de contas de Serra em 2002 contraria dados do PSDB" omite informações obtidas pela própria Folha. Cabe recapitular os fatos: em 2005, por solicitação de uma CPI, a Receita Federal abriu auditoria sobre as contas do PT e de outros partidos envolvidos no escândalo do mensalão. Por razões não explicadas, a mesma providência foi tomada em relação às contas do PSDB e alguns outros partidos.
Escrutinando as contas do PSDB no período 2002-2004, tudo o que a Receita encontrou para questionar foram seis notas fiscais. Elas totalizam R$ 381 mil, o que corresponde a 0,5% das despesas do partido no período. E o mais importante pelo contexto em que a auditoria foi feita: nenhum problema foi encontrado na origem dos recursos usados pelo PSDB. Quanto à destinação dos recursos, o partido comprovou que os serviços correspondentes às notas questionadas foram efetivamente prestados e pagos.
A Receita acolheu parcialmente as explicações. Mesmo assim, com base em alegadas irregularidades formais que não dizem respeito ao PSDB, mas a duas empresas prestadoras dos serviços em questão, a Receita entendeu de cassar a imunidade tributária do partido dos anos de 2002 a 2004 e cobrar-lhe impostos no valor de R$ 3 milhões. O PSDB está contestando essa decisão absurda, por enquanto na esfera administrativa, e está seguro de que a correção de suas contas ficará comprovada ao fim do devido processo legal.
Antecipando-se a isso, em 19 de fevereiro último, a Folha revelou que teve acesso a informações do processo. A despeito das explicações previamente fornecidas pelo PSDB, a matéria trouxe vários erros, a começar pelo título, "Receita detecta notas frias na campanha de Serra em 2002", que liga erroneamente as notas fiscais questionadas pela Receita à campanha presidencial do PSDB. No mesmo dia, o PSDB enviou carta à Folha, publicada em 20 de fevereiro, esclarecendo, entre outras coisas, que aquelas notas específicas se referem a despesas efetuadas pelo partido antes do início oficial da campanha.
Dia 20 de fevereiro, a Folha procurou novamente o PSDB e indagou se a campanha presidencial de 2002 também teria usado os serviços da empresa Gold Stone, emitente de quatro das seis notas fiscais questionadas. O partido informou que sim, ou seja, que a empresa também prestara serviços à campanha e esclareceu que tal fato não tinha qualquer relação com a auditoria realizada pela Receita.
As notas fiscais questionadas pela Receita, a cujos emitentes, numeração, data e valores o repórter teve acesso, não se referem portanto a despesas da campanha presidencial. Outras notas fiscais de uma dessas empresas, com numeração, data e valores diferentes, fornecidos ao repórter, sim, referem-se a despesas da campanha, mas não foram objeto de auditoria pela Receita. Onde está a contradição mencionada no título da matéria? Ao contrário, a Folha tinha todos os elementos para noticiar que ambas as informações prestadas pelo PSDB são rigorosamente verdadeiras.
Como se o simples cotejo dos dados das diferentes notas fiscais não bastasse, explicou-se exaustivamente à Folha a diferença entre as duas situações. Também explicou-se que não cabia qualificar de "fantasma" uma empresa que, quando prestou serviços ao partido, tinha CNPJ em situação ativa e conta bancária, e cuja existência é expressamente reconhecida pelo próprio despacho do delegado da Receita que deu origem às matérias da Folha. O que não impediu que o jornal trouxesse mais esse erro em sua matéria do dia 21. Lamentamos que a Folha tenha reincidido no erro de falar de notas "frias", sabendo que nem a lei nem o relatório da Receita respaldam esse qualificativo. Portanto, as manchetes, o teor e o tratamento editorial das duas matérias, dos dias 19 e 21, erram e induzem o leitor a erro.
Estamos convictos da comprovada lisura das contas do nosso partido e reiteramos nossos protestos de estima e consideração."

 

Resposta do jornalista Leonardo Souza
"Segundo a Delegacia da Receita de Brasília, a empresa Gold Stone nunca foi localizada desde sua criação. Os auditores constataram que a empresa nunca existiu fisicamente nem jamais pagou um centavo de tributos. Também nunca teve registro na Junta Comercial de São Paulo, onde informou ser sua sede. A delegacia manteve entendimento dos auditores de que o PSDB não comprovou a prestação de serviços pela Gold Stone. A delegacia considerou "frágil" a prova apresentada pelo partido (fotografias sem data). Portanto, a empresa é fantasma, e as notas, frias.
Segundo a Receita, as notas de número 081 e 084, emitidas pela Gold Stone, referem-se a serviços "prestados na contratação de pessoal para realizar a distribuição de material de propaganda eleitoral, assim como alimentação e bebida dos mesmos em comícios do candidato a Presidente da República do PSDB" em SP, RJ, MG e PB. Já as notas da Marka Serviços de Engenharia, de propriedade do ex-secretário-geral do PSDB e tesoureiro da campanha de Serra em 2002, Márcio Fortes, foram consideradas inidôneas (irregulares e/ou ilegais) pelo fisco. O missivista, em entrevista gravada, e o advogado do partido Afonso Ribeiro, na presença de dois funcionários do PSDB, confirmaram à Folha que o auto de infração (que inclui o imposto devido, multa e juros) foi da ordem de R$ 7 milhões.


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