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Foco
Projeto que cria Museu da Imprensa Comunista abre conflito entre PPS e PCB
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Futura sede do Museu da História da Imprensa Operária
ANDRÉ ZAHAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
A imprensa comunista ganhará um memorial na casa
da Gamboa (zona portuária
do Rio de Janeiro), onde em
1950 começou a funcionar a
gráfica do PCB (Partido Comunista Brasileiro). O espaço será convertido pelo PPS
-que surgiu a partir do antigo "Partidão"- no Museu da
História da Imprensa Operária e Comunista.
A homenagem reativou a
disputa do PPS com o "novo"
PCB, registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e
autointitulado herdeiro político do "velho" partido comunista fundado em 1922.
O PPS foi criado em 1992
no 10º Congresso do antigo
PCB, quando 58% dos delegados presentes decidiram
refundar a sigla, adotando
uma nova denominação. Os
delegados derrotados no encontro se reorganizaram e
recriaram o PCB em 1996.
O prédio de 180 metros
quadrados e dois andares, situado na rua Leôncio de Albuquerque, será restaurado
para abrigar jornais, revistas
e livros editados até o fim da
ditadura militar (1964-1985).
O secretário-geral do PCB,
Ivan Pinheiro, 62, procurou
a direção do PPS para reivindicar que o PCB também administre o museu. "Não tem
sentido o museu ser administrado por quem quis acabar com o PCB. Eles fizeram
um ardil jurídico para transformar o PCB no PPS, mas
não são os sucessores políticos do Partido Comunista."
Para aparar as arestas, os
dirigentes do PPS Givaldo
Siqueira, 74, e Francisco Almeida, 69, consentiram na
participação de outros partidos de esquerda no conselho
responsável pelo projeto.
"Vamos botar PC do B, PDT
e PT no conselho. Nós nunca
trabalhamos com exclusivismo", afirmou Almeida.
Segundo Siqueira, o PPS
tem financiamento de empresas interessadas em isenção fiscal, além de recursos
do fundo partidário. A reforma será feita pelo arquiteto
Cydno Silveira, que trabalhou com Oscar Niemeyer.
Cesar Maia
Para viabilizar a obra, o
então prefeito Cesar Maia,
que pertenceu ao PCB nos
anos 60, encaminhou à Câmara Municipal um projeto
de remissão de todas as dívidas com a Prefeitura do Rio e
isenção tributária.
Os títulos editados pelo
PCB incluíam os jornais
"Novos Rumos", "Para todos", "Voz Operária" e
"Emancipação". Siqueira cita que, nos anos 40 e 50, estes veículos tinham contribuições de nomes importantes como Carlos Drummond
de Andrade, Jorge Amado e
Graciliano Ramos.
"A ditadura empastelou e
interditou as gráficas. Os dirigentes foram processados
e passamos a trabalhar na
clandestinidade, em subterrâneos, até 1975. Depois, começamos a imprimir a "Voz
Operária" em Paris", conta
Siqueira.
O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, 74,
trabalhou na "Imprensa Popular" em 1956 e 57. Ele recorda que, mesmo antes da
ditadura, o irmão Raul Azêdo Neto, então revisor do
jornal, participou de mobilizações nas oficinas para resistir às ameaças de invasão
pelos adversários do PCB.
"Eles defendiam as oficinas contra ameaças externas, inclusive de armas na
mão. Não houve nunca necessidade de reação a tiros,
mas foi um período muito
difícil, que exigia muita coragem e resistência", assinala.
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