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SAÚDE
Contratos sob suspeita totalizam R$ 4 milhões; sindicância apura
Hospital municipal fez compras superfaturadas
JOÃO BATISTA NATALI
DAVID FRIEDLANDER
da Reportagem Local
Um dos maiores
hospitais da Prefeitura de São Paulo, o
do Servidor Municipal, foi envolvido
em desvio sistemático de dinheiro público na gestão
Celso Pitta, segundo documentação obtida pela Folha. Estão sob
suspeita contratos que até agora
totalizam pouco mais de R$ 4 milhões. Entre 1997 e 1999, os recursos do hospital foram alvo de pelo
menos dois tipos de operações
fraudulentas.
Uma das ações consistia na
compra superfaturada, em até
3.700%, de medicamentos e material hospitalar. Em outra frente,
dirigentes do hospital pediam
mais dinheiro do que realmente
precisavam para quitar contratos
com fornecedores.
O secretário da Saúde, Jorge Pagura, foi acusado por Nicéa Pitta,
ex-mulher do prefeito, de estar
por trás das irregularidades. Pagura nega, dá o troco e põe a própria Nicéa na linha de tiro.
O secretário instaurou duas comissões internas para fazer a varredura em compras suspeitas.
Chegou ao nome de Hussein Hassan Yaktine, superintendente do
hospital quando foi feita boa parte das operações superfaturadas.
Yaktine foi nomeado em junho
de 1998 por indicação direta da
ex-primeira-dama. Deixou o posto em abril do ano passado porque, segundo Pitta, era portador
de um diploma falso em administração hospitalar.
Durante certo período o ex-superintendente foi tão próximo de
Nicéa que chegou a estar entre os
poucos convidados para um dos
aniversários dela.
O superfaturamento esparramava-se por grande quantidade
de compras miúdas.
Em abril do ano passado, por
exemplo, o Hospital do Servidor
adquiriu um lote de 600 drágeas
do anti-hipertensivo Captoril, pagando R$ 0,44 cada comprimido.
O mesmo remédio poderia ter sido comprado por R$ 0,01, ou 37
vezes mais barato, segundo lista
de preços de fornecedores já licitados da Secretaria de Saúde.
Outros 600 comprimidos do
diurético Lasix custaram ao hospital R$ 0,28 cada um. O preço
correto, de acordo com a secretaria, seria R$ 0,02. A Folha constatou 16 dessas operações entre 98 e
99. Essas compras totalizaram R$
115.779,00.
A estratégia usada era deixar
acabar o estoque de determinado
remédio, para comprá-lo em regime de urgência. Em um única vez
foram comprados, nesse regime,
80 tubos da pomada oftalmológica Epitezan. Isso daria um terço
de tubo para cada um dos 280 pacientes, inclusive aqueles que estivessem internados por problemas
cardíacos ou ortopédicos.
O outro escoadouro de verba
pública estava apoiado em contratos de valor inflado. Para pagar
fornecedores, o Hospital do Servidor precisa fazer uma reserva de
dinheiro no orçamento da Saúde.
A fraude consistia em aumentar
os valores na hora de informar
quanto iriam precisar para fazer
os pagamentos.
A Folha teve acesso a uma lista
de contratos entre o Hospital do
Servidor e 57 fornecedores. Procurou, aleatoriamente, seis dessas
empresas para conferir se tinham
recebido tudo aquilo que o hospital registrou.
Em três casos os valores estavam corretos, mas outras três empresas disseram ter recebido menos que o apontado pela planilha
do hospital. Esses contratos, em
conjunto, totalizam R$ 3,9 milhões.
Um exemplo. O laboratório
Medifar, de Santos (SP), teria, segundo o hospital, R$ 35.190,00 para receber pela venda do antidepressivo Pamelor. Mas a nota fiscal que emitiu era de uma quantia
bem menor: R$ 6.720,00. A diferença de R$ 28.470,00 ninguém
sabe onde foi parar. O Ministério
Público suspeita de que o mesmo
esquema tenha funcionado nas
cooperativas do PAS (Plano de
Assistência à Saúde).
Informações recebidas pela Folha apontavam irregularidades
em duas cooperativas do PAS, as
de números 9 (Santo Amaro) e 10
(Campo Limpo).
Seus responsáveis, Roberto
Tozze, para a primeira, e Márcio
Joel Estevam, para a segunda, negaram tê-las cometido. Mas não
forneceram, conforme lhes pedira o jornal, a relação dos contratos
com laboratórios farmacêuticos e
o valor pago por serviços ou cada
lote de remédios ou material ambulatorial e hospitalar.
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