São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2000


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CONTA
Ex-primeira-dama pagou apartamento adiantado e fez compras
Para decorador, despesas de Nicéa em Nova York ultrapassam US$ 130 mil

 "Ela queria que o apartamento fosse confortável para a filha."

 "Tem que fazer tudo com 'legal matters', senão 'doesn't work."

MALU GASPAR
de Nova York


Os gastos da ex-primeira-dama de São Paulo Nicéa Pitta durante os três meses que passou em Nova York excedem em muito os US$ 37,5 mil pagos, adiantados, pelo aluguel do apartamento da filha Roberta Pitta. As despesas feitas pela ex-mulher de Celso Pitta passam dos US$ 130 mil.
A afirmação é do decorador Gabriel de Souza, que montou, em Nova York, o apartamento de um quarto no edifício de classe média alta The Gershwin, nos arredores da Times Square. Roberta mora no imóvel desde setembro. A decoração custou US$ 57 mil, segundo o decorador.
O brasileiro Gabriel de Souza afirma conhecer Nicéa desde o tempo em que ela morava no Rio de Janeiro e o prefeito trabalhava na Casa da Moeda. Ele afirma que a ex-primeira-dama não mediu esforços em tornar o apartamento da filha confortável.
Procurada pela Folha ontem, a ex-primeira-dama disse que era "uma audácia" o jornal telefonar para ela. Disse que falaria com outros veículos, mas "nunca" com a Folha. Sobre o decorador, disse que processaria quem "deu as informações ao jornal". Roberta Pitta também foi procurada e não deu entrevista à Folha.
"Ela (Nicéa) só queria o melhor, porque se tem uma coisa que ela conhece é coisa de qualidade", disse o decorador. O resultado, segundo ele, foram gastos de US$ 42 mil só com os móveis. Só a cama, da marca Ralph Lauren, custou US$ 4.200. Ainda no quarto, uma televisão de US$ 1.800,00 e uma poltrona Barcelona de US$ 1.630 completavam o ambiente.
Nicéa, que fuma muito, preferia dormir na sala, segundo Souza. "Compramos para ela um day-bed, que é como uma espreguiçadeira."
Segundo Souza, o passatempo preferido de Nicéa em Nova York era fazer compras. Ele afirma que ela chegou a gastar US$ 6.500 só num dia, em lojas como Gucci, Robert Clegidre e Annik Goutal, comprando pares de sapato para o prefeito e para o filho, Victor. Para ela, calças Gucci.
Outro hábito de Nicéa era falar ao celular. Nicéa teria adquirido, logo ao chegar em Nova York, três telefones celulares, um para ela, um para a Roberta e outro, cujo número era privado, para a família Pitta se comunicar. Os celulares, pré-pagos, custaram US$ 1.000 cada.
Apesar da riqueza de detalhes com que relata a sua convivência com a primeira-dama, Souza afirma que não gosta de falar de seus clientes, a maioria deles antigos.
Segundo Souza, a viagem da ex-primeira-dama para Nova York foi motivada por uma briga entre Roberta e Raquel de Moura Borges, prima de Pitta.
Raquel, disse Souza, havia assinado o contrato de leasing do apartamento e, após um desentendimento, proibiu a entrada de Roberta no imóvel, no qual elas viviam havia três meses. Em represália e com a ajuda do decorador, Nicéa e a filha teriam procurado um juiz e um promotor de Nova York na tentativa de conseguir a deportação de Raquel.
Souza diz ter sido também o intermediário na locação do apartamento em que Roberta vive. Ele também decorou o local. Leia, a seguir, trechos da conversa da Folha com o decorador.

Folha - Você já a conhecia (Roberta Pitta)?
Souza -
Sim, eu fiz o apartamento por causa da Roberta. Porque a mãe não ia viver aqui de qualquer maneira.

Folha - O que eu queria...
Souza -
E a Roberta, quando fez o escândalo... Em 18 anos que eu moro aqui, eu sei que a Roberta é o seguinte: é bocuda. E aqui você tem que fazer tudo com "legal matters" (dentro da lei), senão "doesn't work" (não funciona). Mas ela não tinha o nome dela no leasing (do apartamento), que ela falou para mim que o nome dela não estava no "lease", eu falei então: "Você não pode entrar no apartamento". E a essa altura a Raquel já tinha chamado a polícia.

Folha - Elas já haviam brigado antes? Porque Raquel faria isso?
Souza -
Porque ela não queria a Roberta. Porque nós fomos entrando no prédio, o "doorman" (porteiro) veio: "Desculpe-me, não não estamos autorizados a deixá-la entrar". Então eu "jump", "oh, but what is happening?" (o que está acontecendo). E ele: "Não, é que ela não está no contrato, e a dona do contrato não...)".

Folha - Mas havia acontecido uma coisa antes?
Souza -
O que aconteceu entre elas foi o seguinte: a Raquel não queria botar o nome da Roberta no lease. E a Roberta dividia o apartamento com ela. E a Roberta então não achava certo ela fazer esse mico com ela. Porque que ela não poderia ter o nome no apartamento se ela estava ajudando a pagar o apartamento?

Folha - E desde quando as duas estavam morando juntas, na época?
Souza -
Uns três meses, mais ou menos

Folha - E quanto era o aluguel, você sabe?
Souza -
Naquele tempo elas já estavam pagando uns US$ 4 mil de aluguel. Ela chegou aqui no dia 17. E ela chegou e eu lembro porque o meu motorista foi pegar a Nicéa no aeroporto. E isso foi outro problema que eu tive sério com ela, porque ela ficava usando meu motorista o tempo todo. E eu sou filho da p... com dinheiro, eu sou a pessoa mais mercenária com dinheiro e não escondo de ninguém. Mal conheço já falo: adoro dinheiro.

Folha - Nicéa foi embora no dia 15 de novembro.
Souza -
Exatamente. Uma semana antes de ela ir embora, se não foi dia 7, foi dia 6, ela me disse que ela não poderia pagar o sofá. Então eu automaticamente liguei e cancelei o pedido do sofá, que eu conhecia o pessoal, que eu já tinha tido um problema com eles, porque... Aí, então, eu não coloquei esses móveis, mas o resto eu coloquei tudo, que o meu trato com ela, de fazer para o apartamento, eu fiz. Mesmo assim, fiz porque, eu vou ser honesto com você, ela não é má pessoa. O meu argumento para você é o seguinte: ela é deslumbrada. "Nothing else besides" (nada além disso). Ela só é deslumbrada. Porque quando ela me pediu para apresentar os juízes a ela, esse que é um grande amigo meu que é juiz em Nova York. E a linda maravilhosa, ela queria que ou meu outro amigo, um "assistant district attorney", eles, no jantar, que nós estávamos no Paper Moon, ela virou e falou assim para ele, que ela não falava inglês, que você sabe disso.

Folha - Mas me conta a origem da briga das duas primas.
Souza -
Foi quando a Raquel não quis colocar o nome da Roberta no leasing, que ela queria conhecer esses juízes, que ela queria aprontar com a Raquel, porque realmente foi absurdo, ela (Roberta) querer entrar no apartamento para tentar pegar as coisas dela e não poder. E tem um outro detalhe: só não prendeu porque eu liguei pro promotor e falei: "Pelo amor de Deus, você não pode prender essa menina". E aí você vai me perguntar porque ela (Roberta) ia ser presa? Ela iria? Iria, porque a partir do momento que você entra num apartamento que você não tem o direito, isso é "invasion".

Folha - Mas por que elas começaram a brigar? Por que a Raquel não colocaria o nome no apartamento? Havia outro motivo?
Souza -
Nenhum. Tudo foi aí. Porque a Roberta é uma pessoa tinhosa, e a Raquel também. Tanto é que a Raquel lida com dinheiro. Ela mexe com a Bolsa. Quem mexe com muito dinheiro não tem muito tempo para besteira. E quando começou a dar problema, a Raquel falou: ""O dinheiro é meu, o lugar é meu. Saia daqui". Foi aí que a Roberta não aceitou. E elas então começaram a querer deportá-la. E quando eu fui apresentar elas para esse juiz e esse promotor, eles falaram: "Mas como é que eu vou pegar essa mulher..." E a Roberta é o seguinte: ela começou realmente a ficar pegando no pé. Ela deixava recados abusados para a Raquel. Mas o juiz falou: "Como que eu vou deportar essa mulher se não tem nada para deportar ela? Eu não tenho base nenhuma, e por causa de um mísero apartamento..."
(...)
Souza - (...) É como a Roberta veio falar para mim: "Você sabia que a minha mãe falou que estava morando em Queens, você nunca podia ter dito que fez o apartamento dela..." Eu falei: "How come?, um trabalho que é meu. Não tenho nada a ver com as coisas da sua mãe, não. Eu não estou enrolado com a sua mãe, não". Falei na cara dela. "Eu não tenho nada que sua mãe está enrolada, não, não tenho nada com isso".

Folha - Você é que não podia dizer que estava decorando um apartamento no Queens.
Souza -
"Nãão. Em Queeens!" Foi o que eu falei com ela. "Eu vou fazer apartamento em Queens?"

Folha - Ela dizia que estava dormindo no chão.
Souza -
Verdade, quando elas mudaram para o Gershwin (prédio onde Roberta hoje mora).

Folha - E ela te deu alguma orientação (sobre decoração)?
Souza -
Não, o que ela me disse foi o seguinte: que ela queria que o apartamento fosse confortável para a filha. E de uma certa maneira talvez para ela, que tinha vontade de morar aqui.


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