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CONTA
Ex-primeira-dama pagou apartamento adiantado e fez compras
Para decorador, despesas de Nicéa em Nova York ultrapassam US$ 130 mil
"Ela queria que o apartamento fosse confortável para a filha."
"Tem que fazer tudo com 'legal matters', senão 'doesn't work."
MALU GASPAR
de Nova York
Os gastos da ex-primeira-dama de São Paulo Nicéa Pitta durante os três meses que passou em Nova York excedem em muito os US$ 37,5 mil pagos, adiantados, pelo aluguel do apartamento da filha Roberta Pitta. As despesas feitas pela ex-mulher de Celso Pitta passam dos US$ 130 mil.
A afirmação é do decorador Gabriel de Souza, que montou, em Nova York, o apartamento de um quarto no edifício de classe média alta The Gershwin, nos arredores da Times Square. Roberta mora no imóvel desde setembro. A decoração custou US$ 57 mil, segundo o decorador.
O brasileiro Gabriel de Souza afirma conhecer Nicéa desde o tempo em que ela morava no Rio de Janeiro e o prefeito trabalhava na Casa da Moeda. Ele afirma que a ex-primeira-dama não mediu esforços em tornar o apartamento da filha confortável.
Procurada pela Folha ontem, a ex-primeira-dama disse que era "uma audácia" o jornal telefonar para ela. Disse que falaria com outros veículos, mas "nunca" com a Folha. Sobre o decorador, disse que processaria quem "deu as informações ao jornal". Roberta Pitta também foi procurada e não deu entrevista à Folha.
"Ela (Nicéa) só queria o melhor, porque se tem uma coisa que ela conhece é coisa de qualidade", disse o decorador.
O resultado, segundo ele, foram gastos de US$ 42 mil só com os móveis. Só a cama, da marca Ralph Lauren, custou US$ 4.200. Ainda no quarto, uma televisão de US$ 1.800,00 e uma poltrona Barcelona de US$ 1.630 completavam o ambiente.
Nicéa, que fuma muito, preferia dormir na sala, segundo Souza. "Compramos para ela um day-bed, que é como uma espreguiçadeira."
Segundo Souza, o passatempo preferido de Nicéa em Nova York era fazer compras. Ele afirma que ela chegou a gastar US$ 6.500 só num dia, em lojas como Gucci, Robert Clegidre e Annik Goutal, comprando pares de sapato para o prefeito e para o filho, Victor. Para ela, calças Gucci.
Outro hábito de Nicéa era falar ao celular. Nicéa teria adquirido, logo ao chegar em Nova York, três telefones celulares, um para ela, um para a Roberta e outro, cujo número era privado, para a família Pitta se comunicar. Os celulares, pré-pagos, custaram US$ 1.000 cada.
Apesar da riqueza de detalhes com que relata a sua convivência com a primeira-dama, Souza afirma que não gosta de falar de seus clientes, a maioria deles antigos.
Segundo Souza, a viagem da ex-primeira-dama para Nova York foi motivada por uma briga entre Roberta e Raquel de Moura Borges, prima de Pitta.
Raquel, disse Souza, havia assinado o contrato de leasing do apartamento e, após um desentendimento, proibiu a entrada de Roberta no imóvel, no qual elas viviam havia três meses. Em represália e com a ajuda do decorador, Nicéa e a filha teriam procurado um juiz e um promotor de Nova York na tentativa de conseguir a deportação de Raquel.
Souza diz ter sido também o intermediário na locação do apartamento em que Roberta vive. Ele também decorou o local.
Leia, a seguir, trechos da conversa da Folha com o decorador.
Folha - Você já a conhecia (Roberta Pitta)?
Souza - Sim, eu fiz o apartamento por causa da Roberta. Porque a
mãe não ia viver aqui de qualquer
maneira.
Folha - O que eu queria...
Souza - E a Roberta, quando fez
o escândalo... Em 18 anos que eu
moro aqui, eu sei que a Roberta é
o seguinte: é bocuda. E aqui você
tem que fazer tudo com "legal
matters" (dentro da lei), senão
"doesn't work" (não funciona).
Mas ela não tinha o nome dela no
leasing (do apartamento), que ela
falou para mim que o nome dela
não estava no "lease", eu falei então: "Você não pode entrar no
apartamento". E a essa altura a
Raquel já tinha chamado a polícia.
Folha - Elas já haviam brigado
antes? Porque Raquel faria isso?
Souza - Porque ela não queria a
Roberta. Porque nós fomos entrando no prédio, o "doorman"
(porteiro) veio: "Desculpe-me,
não não estamos autorizados a
deixá-la entrar". Então eu
"jump", "oh, but what is happening?" (o que está acontecendo).
E ele: "Não, é que ela não está no
contrato, e a dona do contrato
não...)".
Folha - Mas havia acontecido
uma coisa antes?
Souza - O que aconteceu entre
elas foi o seguinte: a Raquel não
queria botar o nome da Roberta
no lease. E a Roberta dividia o
apartamento com ela. E a Roberta
então não achava certo ela fazer
esse mico com ela. Porque que ela
não poderia ter o nome no apartamento se ela estava ajudando a
pagar o apartamento?
Folha - E desde quando as
duas estavam morando juntas,
na época?
Souza - Uns três meses, mais ou
menos
Folha - E quanto era o aluguel,
você sabe?
Souza - Naquele tempo elas já
estavam pagando uns US$ 4 mil
de aluguel. Ela chegou aqui no dia
17. E ela chegou e eu lembro porque o meu motorista foi pegar a
Nicéa no aeroporto. E isso foi outro problema que eu tive sério
com ela, porque ela ficava usando
meu motorista o tempo todo. E eu
sou filho da p... com dinheiro, eu
sou a pessoa mais mercenária
com dinheiro e não escondo de
ninguém. Mal conheço já falo:
adoro dinheiro.
Folha - Nicéa foi embora no
dia 15 de novembro.
Souza - Exatamente. Uma semana antes de ela ir embora, se
não foi dia 7, foi dia 6, ela me disse
que ela não poderia pagar o sofá.
Então eu automaticamente liguei
e cancelei o pedido do sofá, que eu
conhecia o pessoal, que eu já tinha
tido um problema com eles, porque... Aí, então, eu não coloquei
esses móveis, mas o resto eu coloquei tudo, que o meu trato com
ela, de fazer para o apartamento,
eu fiz. Mesmo assim, fiz porque,
eu vou ser honesto com você, ela
não é má pessoa. O meu argumento para você é o seguinte: ela é
deslumbrada. "Nothing else besides" (nada além disso). Ela só é
deslumbrada. Porque quando ela
me pediu para apresentar os juízes a ela, esse que é um grande
amigo meu que é juiz em Nova
York. E a linda maravilhosa, ela queria que ou meu
outro amigo, um "assistant district attorney", eles, no jantar, que
nós estávamos no Paper Moon,
ela virou e falou assim para ele,
que ela não falava inglês, que você
sabe disso.
Folha - Mas me conta a origem
da briga das duas primas.
Souza - Foi quando a Raquel
não quis colocar o nome da Roberta no leasing, que ela queria
conhecer esses juízes, que ela queria aprontar com a Raquel, porque realmente foi absurdo, ela
(Roberta) querer entrar no apartamento para tentar pegar as coisas dela e não poder. E tem um
outro detalhe: só não prendeu
porque eu liguei pro promotor e
falei: "Pelo amor de Deus, você
não pode prender essa menina". E
aí você vai me perguntar porque
ela (Roberta) ia ser presa? Ela iria?
Iria, porque a partir do momento
que você entra num apartamento
que você não tem o direito, isso é
"invasion".
Folha - Mas por que elas começaram a brigar? Por que a Raquel não colocaria o nome no
apartamento? Havia outro motivo?
Souza - Nenhum. Tudo foi aí.
Porque a Roberta é uma pessoa tinhosa, e a Raquel também. Tanto
é que a Raquel lida com dinheiro.
Ela mexe com a Bolsa. Quem mexe com muito dinheiro não tem
muito tempo para besteira. E
quando começou a dar problema,
a Raquel falou: ""O dinheiro é
meu, o lugar é meu. Saia daqui".
Foi aí que a Roberta não aceitou. E
elas então começaram a querer
deportá-la. E quando eu fui apresentar elas para esse juiz e esse
promotor, eles falaram: "Mas como é que eu vou pegar essa mulher..." E a Roberta é o seguinte:
ela começou realmente a ficar pegando no pé. Ela deixava recados
abusados para a Raquel. Mas o
juiz falou: "Como que eu vou deportar essa mulher se não tem nada para deportar ela? Eu não tenho base nenhuma, e por causa
de um mísero apartamento..."
(...)
Souza - (...) É como a Roberta
veio falar para mim: "Você sabia
que a minha mãe falou que estava
morando em Queens, você nunca
podia ter dito que fez o apartamento dela..." Eu falei: "How come?, um trabalho que é meu. Não
tenho nada a ver com as coisas da
sua mãe, não. Eu não estou enrolado com a sua mãe, não". Falei na
cara dela. "Eu não tenho nada que
sua mãe está enrolada, não, não
tenho nada com isso".
Folha - Você é que não podia
dizer que estava decorando um
apartamento no Queens.
Souza - "Nãão. Em Queeens!"
Foi o que eu falei com ela. "Eu vou
fazer apartamento em Queens?"
Folha - Ela dizia que estava
dormindo no chão.
Souza - Verdade, quando elas
mudaram para o Gershwin (prédio onde Roberta hoje mora).
Folha - E ela te deu alguma
orientação (sobre decoração)?
Souza - Não, o que ela me disse
foi o seguinte: que ela queria que o
apartamento fosse confortável
para a filha. E de uma certa maneira talvez para ela, que tinha
vontade de morar aqui.
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