|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DÍVIDA DE SP
Ney Suassuna, da Comissão de Assuntos Econômicos, evita questionamento de irregularidades
Senado ouve Pitta e vai aprovar rolagem
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília
A Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado, que
ontem ouviu o depoimento do prefeito Celso Pitta, deve autorizar a rolagem da maior
parte da dívida paulistana por 30
anos, apesar de a CPI dos Precatórios ter detectado irregularidades
na emissão de 76,6% dos títulos
da prefeitura.
Os papéis considerados irregulares poderão ser rolados por apenas dez anos. O relator do pedido
de rolagem da dívida, senador
Romero Jucá (PSDB-RR), deixou
claro que não seguirá os critérios
da CPI para determinar se os títulos são regulares ou não. "CPI não
é dogma", disse o tucano.
O plenário da Câmara dos Deputados rejeitou ontem, por 265
votos a favor e 189 contra, o pedido de urgência para a criação de
uma nova CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Precatórios motivada pelas denúncias
feitas pela ex-primeira dama de
São Paulo Nicéa Pitta.
O Palácio do Planalto argumentou com os líderes que a criação
da CPI criaria conflito com o Senado, que já realizou a CPI dos
Precatórios, e dificultaria o funcionamento da Câmara, atrapalhando a votação de outros temas
de interesse do governo federal.
No depoimento de ontem, o
prefeito praticamente não falou
das denúncias. O presidente da
CAE, Ney Suassuna (PMDB-PB),
procurou impedir que os senadores questionassem o caso.
Pitta defendeu a rolagem da dívida integral por 30 anos, alegando que todos os títulos da prefeitura foram emitidos legalmente.
A Constituição, porém, estabeleceu que, a partir de 1988, Estados e municípios só poderiam
emitir títulos para pagar precatórios -dívidas resultantes de decisões judiciais.
Em 97, a CPI dos Precatórios
constatou que, do total de recursos obtidos com a venda de títulos
da prefeitura, apenas 23,4% foram gastos no pagamento de precatórios. O restante foi desviado.
Em valores de dezembro do ano
passado, a dívida em títulos da
prefeitura era de cerca de R$ 10 bilhões. Se os critérios da CPI fossem seguidos, apenas uma parcela de cerca de R$ 2,34 bilhões poderia ser renegociada por 30 anos.
O relator do processo de rolagem, porém, não vai levar em
conta a utilização irregular dos recursos. Ele analisará somente se,
no momento das emissões de títulos, a prefeitura tinha precatórios a pagar em valor equivalente.
"Se depois os recursos foram
desviados, esse é um problema
para a Justiça", disse Jucá.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), criticou a interpretação
do relator. "A irregularidade está
justamente na aplicação dos recursos. Isso não pode ser desconsiderado", afirmou.
Outros integrantes da CAE deixaram claro que vão seguir a interpretação do relator. "Sou paulista e paulistano. Estarei sempre
lutando pela viabilidade do Estado e do município", disse Pedro
Piva (PSDB-SP).
Em junho do ano passado, o Senado chegou a cogitar a proibição
da rolagem dos títulos paulistanos que fossem considerados irregulares pela Justiça.
Os senadores governistas recuaram quando souberam que praticamente todos os títulos haviam
sido comprados pelo Banco do
Brasil. O governo argumentou
que, se a rolagem não fosse aprovada, os títulos não seriam honrados e o banco quebraria.
Ao defender a suposta legalidade das operações, Pitta apresentou ontem aos senadores uma
certidão do Tribunal de Contas
do Município, segundo a qual os
valores foram "conferidos e julgados consistentes".
O senador Roberto Requião
(PMDB-PR), autor do relatório
da CPI dos Precatórios, disse que
a certidão é "dúbia e safada".
Senadores foram advertidos pelo presidente da CAE a questionar
o prefeito sobre a rolagem.
Texto Anterior: Elma Farias morreu em julho de 94 Próximo Texto: Requião acusa discriminação Índice
|