São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2010

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JANIO DE FREITAS

O vício dos assessores


Nada convém menos ao setor militar do que a infiltração de um subproduto que carrega sempre carga da pior política


O PROJETO DE reestruturação do Ministério da Defesa, entregue a Lula pelo ministro Nelson Jobim, contém uma impropriedade grave. Fruto provável da origem de quem assina o plano, o escancaramento das portas da Defesa a civis nomeáveis e substituíveis por atos só de cada ministro da área, sem concurso, segue o vício que mais degenera a política e os partidos e sua relação com os governos.
A modernidade dos setores militares necessita de cientistas, técnicos e teóricos de formação civil, incluídos ou não no sistema ministerial e nas Forças. Mas o que o projeto propõe não é isso, ou só isso. Mais 647 cargos civis "de confiança" do ministro, no elevado nível de Assessoramento Superior (os chamados DAS), têm um só significado para quem sabe o que são Brasília e seus efeitos colaterais: cobranças e ofertas de nomeações em troca de voto na Câmara, no Senado, nas urnas de tal ou qual município.
Nada convém menos ao setor militar do que a infiltração desse subproduto que carrega, sempre, uma carga da pior política, a serviço dos padrinhos. E não é preciso conhecer o plano administrativo da Defesa, não divulgado, para afirmar que a grande maioria dos 647 cargos novos não justifica a transitoriedade seguidora do entra e sai de ministros. Logo, não justifica a dispensa de concurso.
Esquisito também é que só a esta altura, quase fim de março, seja liberada alguma informação sobre o projeto entregue à Presidência no mês passado. Não é incomum o uso de divulgações assim para pressionar por um andamento que o destinatário não deu, seja pelo que for.

O estadista
A vitória de Barack Obama na dissensão com a maioria dos congressistas e da opinião pública, a propósito da reforma do sistema de saúde nos Estados Unidos, não é exemplar só por cumprir uma promessa muito difícil da campanha, e ser um feito buscado sem êxito por presidentes anteriores.
É uma lição completa do que é um estadista em ação. Obama não comprou nem um deputado ou senador, não atraiu nenhum jornalista, não vendeu ministério algum nem alto cargo, não se submeteu em abraços festejantes, sorrisos e bajulações aos oponentes ásperos ou ofertantes.
Barack Obama saiu pelo país todo a expor seus argumentos, tentar convencer dos menos expressivos aos maiores auditórios da opinião pública adversa; cancelou sua presença em eventos internacionais para não interromper a pregação de seus argumentos aos congressistas, aos meios de comunicação, à população.
Não consola, mas alivia ver que existe quem se conduza assim, mesmo que não seja isso a chamar as atenções.


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