São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2010

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Polícia liga deputado do PMDB a mensalão do DF

Relatório da PF cita Eunício Oliveira, ex-ministro de Lula e pré-candidato ao Senado

Polícia considera discrepante pagamento de R$ 666 mil feito pelo governo do DF a uma empresa do deputado; ele nega irregularidades


FILIPE COUTINHO
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O escândalo do mensalão do DEM chegou ao Congresso e ao maior partido do país, o PMDB. Relatório da Polícia Federal pela primeira vez incluiu um deputado federal no inquérito da Operação Caixa de Pandora: Eunício Oliveira, ex-ministro do governo Lula e hoje o peemedebista mais importante do Ceará.
A polícia suspeita que uma empresa de Eunício se beneficiou do esquema que desviou dinheiro público e distribuiu propinas no Distrito Federal -e que levou à prisão do governador agora cassado José Roberto Arruda.
A Folha obteve cópia desse novo relatório da PF, que já foi entregue ao Ministério Público Federal. Ele é o resultado da análise do material apreendido na segunda etapa da Caixa de Pandora, realizada em 21 de dezembro do ano passado.
O documento cita quatro vezes o nome de Eunício e oito vezes os de empresas das quais ele é sócio. Ele sugere ainda que sejam aprofundadas as investigações sobre os contratos das empresas com o DF.
Como deputado, Eunício tem foro especial. Para que ele seja alvo da polícia, é preciso que o inquérito da Caixa de Pandora receba a chancela do Supremo Tribunal Federal.
As suspeitas da PF giram em torno de uma autorização de pagamento a uma das empresas de Eunício, a prestadora de serviços de limpeza Manchester. A verba foi liberada por Gibrail Gebrim, ex-funcionário do governo e apontado como operador do mensalão na Secretaria de Educação do DF.
A polícia classificou como "paradoxal e discrepante" um dos pagamentos à Manchester, no valor de R$ 666 mil. Disse haver indícios que a autorização de liberação dessa verba foi "enxertada fora do padrão".
Chamou a atenção dos investigadores o descompasso entre datas e números da autorização dos repasses. O pagamento para a Manchester ganhou o número 1.197 e foi autorizado em 15 de dezembro de 2009 -antes de outras empresas que estavam à frente na ordem de liberação. A autorização 325, por exemplo, foi expedida três dias após a da Manchester.
"As solicitações de pagamento apresentam incompatibilidade cronológica, como se tivessem sido enxertadas posteriormente em uma sequência previamente existente", escreveu a PF no texto.
"Resta indagarmos acerca da verdadeira natureza que possa envolver, ainda que eventualmente, os parlamentares", afirmou a PF, aludindo a Eunício e ao ex-deputado distrital Leonardo Prudente (ex-DEM e hoje sem partido), cujos filhos têm contratos na Secretaria de Educação.
Eunício é da ala governista do PMDB. Foi ministro das Comunicações de 2004 a 2005 e é pré-candidato ao Senado.
O delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa, já havia entregue à PF um vídeo em que deputados do PMDB eram citados como beneficiários do esquema. Entre eles, o presidente da Câmara, Michel Temer.


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