São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

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Para procurador, contadora está no centro das fraudes

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Documentos aprendidos com Maria Auxiliadora Barra Martins fizeram a Polícia Federal e a Procuradoria da República concluir que ela "centralizava a operação" do esquema de fraude que desviou pelo menos R$ 1,8 bilhão da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
Os documentos mostram que Maria Auxiliadora operou também os negócios do ranário de Márcia Cristina Zahluth Centeno, mulher do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB). Auxiliadora foi contadora e procuradora da empresa até o ano passado.
A Procuradoria da República vai requerer amanhã à Justiça Federal, em Tocantins, a quebra de sigilo bancário e telefônico de Maria Auxiliadora para investigar o destino dos recursos desviados.
"A Maria Auxiliadora é o nervo ótico da investigação. Ela emprestou seus serviços de elaborar projetos, forjar declarações de renda de "laranjas", conseguir notas fiscais frias e pagar propinas a quase todas as empresas envolvidas na fraude", afirmou à Agência Folha o procurador da República no Tocantins, Mário Lúcio Avelar.
Os mecanismos criados para burlar a legislação têm se repetido nos projetos operados por Maria Auxiliadora, levando os delegados e procuradores envolvidos na investigação a denominá-los de "kit-fraude da Sudam".
Procurada, a contadora e ex-diretora financeira da Sudam não quis comentar as acusações contra ela. Sua advogada, Maria Socorro Miralha, diz que ela é inocente, mas que só prestará esclarecimentos à Justiça.
O ranário da empresa presidida pela mulher de Jader entrou em processo de cancelamento pela Sudam por suspeita de fraude. A Sudam quer saber onde foram parar R$ 9,6 milhões (valor com correção, multas e juros) enviados a Centeno & Moreira S/A. Jader diz que a empresa é regular e que os valores apontados pela Sudam são "astronômicos". Segundo ele, o valor liberado foi R$ 422 mil.
Segundo a Sudam, a empresa só investiu a metade dos recursos liberados em dez anos. O ranário está produzindo rãs, mas não construiu o frigorífico para industrializar a carne e a pele do animal.
A PF e a Procuradoria até ontem não haviam definido a convocação da mulher de Jader para depor. A necessidade do depoimento dela dependerá de uma análise mais aprofundada dos documentos apreendidos com a contadora.
Na casa de Maria Auxiliadora, a PF encontrou uma agenda que continha o seu plano de trabalho para 2001. Foram apreendidos 34 cheques que somam mais de R$ 800 mil, todos de empresas incentivadas pela Sudam. Os cheques revelam, segundo a PF, o esquema de pagamento de propinas, porque teriam sido emitidos sem data e sem destinatário.
Maria Auxiliadora atuou nos principais casos de fraude descobertos e que levaram a Justiça a decretar a prisão de 27 pessoas na semana passada, a maioria já solta por habeas corpus, inclusive ela.
As relações dela com empresários e escritórios de lobby estão discriminadas em relatório que baseou o pedido de prisão. No documento, o empresário José Soares Sobrinho, acusado de utilizar "laranjas" em projetos, comenta um erro de Maria Auxiliadora que poderia revelar o esquema.
Maria Auxiliadora prestou serviços para pessoas ligadas a Jader. Sobrinho é ex-vice-prefeito do PMDB de Altamira (PA) e o homem que recebe Jader na cidade.
Ela trabalhou também para José Osmar Borges, acusado de desviar mais de R$ 100 milhões da Sudam. Borges foi sócio do senador, entre 1996 e 1998, na compra de uma fazenda no Pará.


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