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Para procurador,
contadora está no centro das fraudes
ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Documentos aprendidos com
Maria Auxiliadora Barra Martins
fizeram a Polícia Federal e a Procuradoria da República concluir
que ela "centralizava a operação"
do esquema de fraude que desviou pelo menos R$ 1,8 bilhão da
Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
Os documentos mostram que
Maria Auxiliadora operou também os negócios do ranário de
Márcia Cristina Zahluth Centeno,
mulher do presidente do Senado,
Jader Barbalho (PMDB). Auxiliadora foi contadora e procuradora
da empresa até o ano passado.
A Procuradoria da República
vai requerer amanhã à Justiça Federal, em Tocantins, a quebra de
sigilo bancário e telefônico de Maria Auxiliadora para investigar o
destino dos recursos desviados.
"A Maria Auxiliadora é o nervo
ótico da investigação. Ela emprestou seus serviços de elaborar projetos, forjar declarações de renda
de "laranjas", conseguir notas fiscais frias e pagar propinas a quase
todas as empresas envolvidas na
fraude", afirmou à Agência Folha
o procurador da República no Tocantins, Mário Lúcio Avelar.
Os mecanismos criados para
burlar a legislação têm se repetido
nos projetos operados por Maria
Auxiliadora, levando os delegados e procuradores envolvidos na
investigação a denominá-los de
"kit-fraude da Sudam".
Procurada, a contadora e ex-diretora financeira da Sudam não
quis comentar as acusações contra ela. Sua advogada, Maria Socorro Miralha, diz que ela é inocente, mas que só prestará esclarecimentos à Justiça.
O ranário da empresa presidida
pela mulher de Jader entrou em
processo de cancelamento pela
Sudam por suspeita de fraude. A
Sudam quer saber onde foram parar R$ 9,6 milhões (valor com correção, multas e juros) enviados a
Centeno & Moreira S/A. Jader diz
que a empresa é regular e que os
valores apontados pela Sudam
são "astronômicos". Segundo ele,
o valor liberado foi R$ 422 mil.
Segundo a Sudam, a empresa só
investiu a metade dos recursos liberados em dez anos. O ranário
está produzindo rãs, mas não
construiu o frigorífico para industrializar a carne e a pele do animal.
A PF e a Procuradoria até ontem
não haviam definido a convocação da mulher de Jader para depor. A necessidade do depoimento dela dependerá de uma análise
mais aprofundada dos documentos apreendidos com a contadora.
Na casa de Maria Auxiliadora, a
PF encontrou uma agenda que
continha o seu plano de trabalho
para 2001. Foram apreendidos 34
cheques que somam mais de R$
800 mil, todos de empresas incentivadas pela Sudam. Os cheques
revelam, segundo a PF, o esquema de pagamento de propinas,
porque teriam sido emitidos sem
data e sem destinatário.
Maria Auxiliadora atuou nos
principais casos de fraude descobertos e que levaram a Justiça a
decretar a prisão de 27 pessoas na
semana passada, a maioria já solta
por habeas corpus, inclusive ela.
As relações dela com empresários e escritórios de lobby estão
discriminadas em relatório que
baseou o pedido de prisão. No documento, o empresário José Soares Sobrinho, acusado de utilizar
"laranjas" em projetos, comenta
um erro de Maria Auxiliadora
que poderia revelar o esquema.
Maria Auxiliadora prestou serviços para pessoas ligadas a Jader.
Sobrinho é ex-vice-prefeito do
PMDB de Altamira (PA) e o homem que recebe Jader na cidade.
Ela trabalhou também para José
Osmar Borges, acusado de desviar mais de R$ 100 milhões da
Sudam. Borges foi sócio do senador, entre 1996 e 1998, na compra
de uma fazenda no Pará.
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