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JANIO DE FREITAS
O anti-social
Voz sempre recebida com
especial consideração em todas as instâncias do PT, e portanto da ala petista (sic) do governo,
a professora Maria da Conceição
Tavares está vista como autora
de um marco divisório na contradição suscitada no petismo, ou na
esquerda em geral, pelo ministro
Antonio Palocci Filho e sua política econômica.
O marco (expressão bastante
aplicada nos últimos dois dias)
está configurado nas considerações incisivas de Conceição Tavares, recolhidas por Gabriela Athias na Folha de anteontem, a
partir do documento "Política
Econômica e Reformas Estruturais" lançado, dez dias antes, por
Antonio Palocci. Sob os grossos
obuses verbais com que alveja assessores do ministro, em aparente
cuidado político de poupá-lo,
Conceição Tavares identifica no
documento o endosso, no Ministério da Fazenda, de políticas anti-sociais ditadas por entidades
como o Banco Mundial. São medidas que, "empurradas pelo
Banco Mundial, desmontaram o
sistema de saúde pública do Chile, o melhor da América Latina, a
Previdência e o sistema de saúde", e tudo se arruinou. Na Argentina deu-se o mesmo.
As considerações de Conceição
Tavares penetram no PT exatamente quando em sua bancada
na Câmara emergem, e se propagam, rebeldias como a do ex-líder
Walter Pinheiro e até do atual líder, Nelson Pellegrino, contra
propostas reformistas do governo
que contrariam a doutrina e a
prática petistas em toda a sua
existência. E Conceição Tavares
acusa no documento, como mais
uma arma da resistência que se
dissemina, a recusa da tese, de
"todos os grandes empresários e
economistas", de que o problema
do Brasil está "no aumento dos
passivos externos". Ao passo que
documento emitido por Palocci
considera que o problema decorre de insuficiente ajuste fiscal
(leia-se arrocho geral nos gastos
governamentais), o que explica o
endosso do documento de Palocci
ao corte de benefícios sociais.
Os resistentes do PT, que já se
mostram como maioria na bancada parlamentar, passam a ter
no documento da Fazenda e no
desnudamento que dele fez Conceição Tavares, ela própria ex-parlamentar petista, a base para um novo estágio no inconformismo com as propostas de reforma,
tal como são hoje, e com a política econômica. Mas Conceição
Tavares foi mais longe.
"As estatísticas sociais apresentadas no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foram
falsificadas" - é mais do que
uma informação, é uma denúncia cuja gravidade não pode ficar
sem explicação do governo, particularmente da Presidência e dos
ministros da Fazenda e do Planejamento. Estes, aliás, já protagonistas do show de inverdades que
foi a explicação do corte de R$ 14
bilhões no Orçamento, que asseguraram não atingir verbas sociais e, no entanto, logo se descobria que um terço era de tais verbas.
Não é tudo. Uma ONG, revela
Conceição Tavares, "recebe em
torno de US$ 250 mil do Banco
Mundial para fazer o tal estudo
especial" que foi objeto de sua devassa. E integrante do trio detentor da ONG é o secretário de Polícia Econômica do Ministério da
Fazenda, o qual, então, estaria
recebendo, simultaneamente,
"dinheiro público e do Banco
Mundial" para produzir no governo os documentos com propostas desejadas pelo banco. Explicação, no caso, seria pouco.
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