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BRASIL PROFUNDO
Processo na Justiça Federal envolve quatro cintas-largas, também suspeitos de formação de quadrilha
Índios são acusados de exploração ilegal
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO (RO)
Quatro índios cintas-largas da
reserva Roosevelt, sendo dois caciques, respondem a processo na
Justiça Federal de Rondônia por
extração ilegal de pedras preciosas e formação de quadrilha desde
o mês passado. O líder guerreiro
Pio Cinta Larga, acusado em outros três processos, chegou a ser
preso por dez dias no fim do mês
passado, na Operação Kimberley
da Polícia Federal.
A Operação Kimberley, cujo
nome faz referência ao certificado
internacional de legitimidade dos
diamantes, foi deflagrada em
março, pela PF. Além de Pio, os
caciques João Bravo Cinta Larga e
Oita Cinta Larga foram indiciados. O índio Raimundo Cinta
Larga é o quarto da tribo que responderá ao processo.
A assessoria de imprensa da Funai (Fundação Nacional do Índio), em Brasília, não quis se manifestar ontem sobre o envolvimento dos índios com extração.
Em entrevista à "TV Amazonas", afiliada da Rede Globo em
Rondônia, o cacique Daniel Cinta
Larga afirmou que os índios estão
"cansados" de retirar garimpeiros
da reserva. E negou envolvimento
da Funai no massacre de 29 garimpeiros na área, no dia 7.
"Os próprios garimpeiros vinham ameaçando os índios.
Mandavam recados que iriam pegar todos os índios. Então, nós
não queríamos liberar [a reserva]
para os garimpeiros. Hoje nós temos o apoio da Funai, da Polícia
Florestal. Muitos garimpeiros estão acusando a Funai, dizem que a
Funai é culpada, mas a Funai não
é culpada, porque os próprios índios é que fizeram esse serviço, a
Funai não tem nada a ver", afirmou Daniel.
Segundo Pio, em entrevista divulgada anteontem, a morte dos
garimpeiros foi um "aviso" para
que evitem entrar na reserva.
Apontado como o principal
comprador de diamantes da reserva, o empresário Marcos Glikas aguarda julgamento na carceragem da PF, em Porto Velho.
Segundo o processo, sob sigilo
judicial, Glikas utilizava duas pistas abertas pela Funai no interior
da reserva para buscar diamantes
com o avião de prefixo PT-JXO.
O negócio era feito em dinheiro,
e as pedras levadas para São Paulo
ou Cuiabá (MT), de onde eram retiradas do país, segundo a PF. O
contato de Glikas com os índios
era feito pelo funcionário da Funai José Nazareno Torres de Moraes, próximo do índio Pio.
Dois policiais civis também foram denunciados pelo Ministério
Público Federal como membros
da quadrilha. A Folha não conseguiu falar com Glikas e com os
acusados apontados pela PF.
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