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PARAÍSO TROPICAL
Empresário que deve se casar com a socialite Ana Paula Junqueira compra terras na Amazônia com área maior que a cidade de São Paulo
Floresta privada sela affair de magnata britânico com Brasil
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
À exceção de um seleto grupo
da alta sociedade e, quem sabe,
dos leitores atentos de revistas de
celebridades, os brasileiros não
conhecem Johan Eliasch.
Agora esse milionário sueco-britânico começa a despertar
atenções em outras esferas do
país, depois de comprar uma
enorme porção de terra na Amazônia. O negócio foi feito em outubro, mas só veio à tona no mês
passado, noticiado pelo diário
londrino "The Times". A área
-na verdade duas fazendas, a
maior em Manicoré, a outra em
Itacoatiara, ambos municípios
do Amazonas- tem 160 mil
hectares, extensão equivalente à
da Grande Londres.
Preservação lucrativa
Grosso modo, o plano anunciado por Eliasch é preservar a
floresta tropical. Mas, conforme
ele mesmo tem feito alarde, vai
além, em ousadia e polêmica.
O magnata almeja modificar o
Protocolo de Kyoto, o acordo internacional para reduzir a emissão de gases que causam o efeito
estufa, de modo a permitir que
proprietários de florestas preservadas possam também vender
créditos de carbono. Hoje, quem
faz reflorestamento pode vender
os créditos -títulos dados a países que contribuem para redução
de poluentes-, que podem ser
comprados pelas nações que
mais emitem esses gases. Pela legislação atual, quem só conserva
a floresta não pode vendê-los.
Ou seja, Eliasch, proprietário
da empresa de material esportivo
Head e dono de uma fortuna
pessoal avaliada em 355 milhões
de libras (cerca de R$ 1,4 bilhão),
quer lucrar com a preservação.
O milionário
O envolvimento de Eliasch
com o Brasil vai além do que supõe um ambientalista desavisado e suscita dúvidas de até onde
pode levar sua empreitada.
O sueco de 44 anos, nascido em
Estocolmo e radicado em Londres, vive desde 2002 com a socialite paulista Ana Paula Junqueira, ex-aspirante a cantora e
ainda aspirante a política. Vão se
casar oficialmente em setembro.
De beleza incomum, Ana Paula
concorreu ao cargo de deputada
federal nas eleições de 1994 (pelo
PMDB) e estadual em 2002 (pelo
PFL). Perdeu ambas, e hoje é secretária-geral da Associação das
Nações Unidas no Brasil.
"Ela é muito preocupada com
o meio ambiente, sempre falou
da beleza das florestas e das coisas horríveis que eram feitas ali.
Então ela teve uma influência
muito forte [na decisão da compra]", afirmou Eliasch, à Folha.
O empresário tem amigos poderosos no Brasil, como o jogador Ronaldo, o governador de
Minas Gerais, Aécio Neves
(PSDB), os irmãos empresários
João Paulo e Pedro Paulo Diniz e
o apresentador Luciano Huck,
entre outros.
É ao lado desse grupo que o casal costuma aparecer nas revistas
de celebridades, em camarotes
no Carnaval e festas do circuito
Rio-São Paulo. "Ela conhece todo mundo no Brasil", explica
Eliasch sobre Ana Paula. "Ronaldo é um amigo, o encontro com
freqüência, somos ambos interessados em esportes, às vezes jogamos golfe juntos. Ele é um golfista muito talentoso, parecido
com o Tiger Woods", brinca.
As amizades influentes transcendem o "show business" e incluem a política. Eliasch -vice-tesoureiro do Partido Conservador britânico, ao qual fez empréstimos revelados na recente
devassa no financiamento de
campanhas no país- conta que,
para comprar um naco da Amazônia, teve uma "grande ajuda"
do ex-senador pefelista Gilberto
Miranda, assim como do governador do AM, Eduardo Braga
(PMDB). "Todos foram muito
solícitos e compreenderam meu
plano de preservar a floresta."
A compra
Não significa que a operação
tenha sido um sucesso. Reportagem do "Correio Braziliense" informou que a posse da área ainda
é investigada pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Eliasch se declara tranqüilo.
"Diria que não há muitos problemas. Estou certo de que a maior
parte da área é regular."
A floresta privada do sueco foi
adquirida do grupo americano
GMO Renewable Resources, que
controlava a madeireira Gethal.
Ele demitiu mil funcionários da
empresa e diz manter 120 pessoas, entre seguranças e "gente
envolvida com a terra" na área,
para evitar desmatamento.
Ele não revela o valor gasto no
negócio. A mídia britânica fala
em 8 milhões de libras (cerca de
R$ 30 milhões). O valor diverge
do cálculo realizado por Eliasch,
segundo o qual um hectare da
floresta amazônica custa US$ 30
-o que resultaria em cerca de
R$ 11 milhões pelas fazendas.
Eliasch avalia que os 400 milhões de hectares da floresta
amazônica podem ser comprados por US$ 12 bilhões (e não
US$ 50 bilhões, como publicou o
"Times", de acordo com ele,
equivocadamente).
E abriu campanha para que
outros estrangeiros sigam o seu
caminho. Tem falado com políticos e celebridades internacionais
e aconselhado interessados em
embarcar na luta por créditos de
carbono para preservacionistas.
"Tenho recebido centenas de
consultas toda semana sobre
pessoas dizendo: também quero
comprar terra na Amazônia, como posso fazer isso? O mais importante é que não sejamos vistos como estrangeiros chegando
para comprar um pedaço do
Brasil, mas como uma iniciativa
para ajudar a preservar a floresta.
Não como colonialistas tentando
explorar os mais pobres", afirma.
Projetos
Eliasch planeja outras fontes de
renda para sua floresta. "Remédios alternativos, óleos essenciais, produtos com biodiversidade", descreve. Para isso procurou o médico Drauzio Varella,
que conduz um projeto de pesquisa da Unip (Universidade
Paulista) na Amazônia de coleta
de plantas para desenvolver medicamentos.
"Expliquei como era feito nosso trabalho, que tecnologia é utilizada. Ele disse que estava interessado em trabalhar com desenvolvimento sustentável, fazer
pesquisas com óleos minerais, de
uma forma que pudesse criar
viabilidade econômica para
aquela área sem destruir a floresta. Pareceu-me uma pessoa séria
e bem intencionada", diz Varella.
Ana Paula, que se diz empolgada com a compra, traçou o projeto de um documentário sobre a
Amazônia. "Acho super importante a gente ter essa responsabilidade com o meio ambiente,
principalmente eu e o Johan, que
participamos de muitas conferências pelo mundo. A preocupação mundial hoje é essa. É que
no Brasil temos outras prioridades, as pessoas não dão ainda o
devido valor", afirma.
"Nasci e cresci em uma fazenda, sempre tive esse contato com
a natureza, esse respeito. A família Junqueira é tradicional por essa coisa de estar junto com a terra. Cresci com esses valores, é
uma coisa com que sempre me
preocupei."
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