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Integrantes do STF defendem presidente
Após três horas de reunião para decidir teor de nota, posição de "meio-termo" prevaleceu sobre a mais enérgica contra Barbosa
Ao ser procurado para se retratar, ministro afirmou que lamentava a discussão em público, mas que não retiraria "jamais" o que disse
FELIPE SELIGMAN
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de três horas e meia
reunidos, oito ministros do
STF (Supremo Tribunal Federal) divulgaram uma nota reafirmando a "confiança e o respeito" ao presidente do tribunal, ministro Gilmar Mendes, e
"lamentando" a discussão entre ele e Joaquim Barbosa. Pela
gravidade do fato, a corte cancelou a sessão plenária de hoje.
Ontem, Mendes e Barbosa tiveram uma das mais graves discussões da história do STF.
Barbosa chegou a dizer que o
presidente da corte está "destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro". Com exceção de Barbosa, Mendes e Ellen
Gracie, que está em viagem ao
exterior, todos os outros se reuniram no gabinete da presidência para encontrar uma forma
de contornar a crise.
Assim que a sessão do STF foi
suspensa, dois ministros foram
ao gabinete de Barbosa pedir
que ele se retratasse publicamente. Celso de Mello, decano
do STF, e Carlos Ayres Britto,
considerado o grande mediador de conflitos da casa, ouviram um não como resposta.
O ministro disse aos dois colegas que lamentava o fato de
ter discutido publicamente
com Mendes, mas que aquele
era mesmo o seu pensamento e
que não retiraria "jamais" o que
disse. Afirmou ainda que Mendes nunca o respeitou e que
sempre se dirigiu a ele de maneira que considera desrespeitosa. Barbosa disse desconfiar
ainda que o presidente do Supremo "planta" notícias contra
ele nos jornais.
Diante da negativa de Barbosa, os dois se uniram aos outros
colegas e relataram o que definiram como "o sentimento" dele. Deu-se início então a uma
longa discussão, com os magistrados divididos em dois grupos: o dos que exigiam uma
censura pública, em termos duros, contra Barbosa, e o dos que
preferiam uma posição mais
ponderada, de solidariedade a
Mendes, mas sem ataques diretos a Barbosa.
Sobre a discussão em si, os
ministros disseram que Barbosa pode pensar o que for a respeito de qualquer coisa ou pessoa. Mas que, ao manifestar
opiniões pessoais de forma descontrolada, em sessão plenária,
ele contrariou a tradição do
STF e a liturgia do cargo. Durante a conversa, os ministros
lembraram as últimas brigas
protagonizadas por Barbosa.
Os que queriam uma censura
mais forte, como Cezar Peluso
e Carlos Alberto Menezes Direito, defendiam que fosse redigida uma nota com o uso de termos como "falta de ética", "discrepância com o comportamento habitual do Judiciário" e
"conduta incompatível com o
cargo". De acordo com um ministro contrário a essa solução,
"estaria aberto o caminho para
a proposta de impeachment"
de Barbosa. O impedimento,
porém, que só poderia ser decidido pelo Senado, seria uma solução improvável e sua discussão só faria agravar a crise.
Diante da possibilidade de
dissidências, os ministros mais
"duros" acabaram cedendo e
aceitando uma nota mais branda, em nome do consenso.
Decidiram, então, divulgar a
seguinte nota: "Os ministros do
Supremo Tribunal Federal que
subscrevem esta nota, reunidos
após a sessão plenária de 22 de
abril de 2009, reafirmam a confiança e o respeito ao senhor
ministro Gilmar Mendes na
sua atuação institucional como
presidente do Supremo, lamentando o episódio ocorrido
nesta data". Assinaram o documento Celso de Mello, Marco
Aurélio Mello, Cezar Peluso,
Ayres Britto, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito.
Ao final da reunião, apenas
dois ministros comentaram o
episódio. Enquanto Celso de
Mello disse que o clima estava
"natural" e atribuiu a demora
da reunião a problemas com a
impressora, o colega Marco Aurélio Mello foi incisivo: "O clima está o pior possível. O episódio, como assentamos na nota,
é lamentável sob todos os aspectos". Questionado sobre o
impacto do ocorrido na relação
entre os ministros, disse. "Evidentemente que não acabamos
de sair de uma lua-de-mel".
O artigo 46 do regimento interno do STF afirma que cabe à
presidência informar ao Ministério Público eventual ocorrência de desacato contra ministro
ou a própria instituição.
Segundo Marco Aurélio, que
preside a Comissão de Regimento do tribunal, o dispositivo não se aplica ao caso. Não
descartou, porém, a possibilidade de Mendes tomar providências que achar cabíveis.
O incidente ocorreu um dia
antes de Mendes completar um
ano na presidência do tribunal.
Até o fechamento desta edição,
a assessoria de imprensa do
STF não havia confirmado se
ele deixaria de cumprir sua
agenda pública para o dia.
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