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SISTEMA FINANCEIRO
João Alberto acha que investigação "anda bem" e ministro da Fazenda não teria o que acrescentar já
Relator acha inútil chamar Malan agora
do enviado especial ao Rio
Ex-comunista,
ex-arenista, sarneysista, o senador João Alberto
Souza (PMDB-MA), 63, relator
da CPI dos Bancos, acha que a
investigação tem andado bem,
mas ainda não há nenhuma prova
"conclusiva" contra ninguém.
"É importante não prejulgar ninguém", diz. João Alberto é contra,
por exemplo, convocar já, para depor, o ministro da Fazenda, Pedro
Malan. "Não descarto convocar
ninguém. A CPI vai apurar tudo.
Mas na hora certa".
Maranhense de Bacabal, ele acha
que a CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) dos Bancos deve se
portar como uma galinha que caça
uma barata: "A galinha vai bem
devagarinho, a passos lentos.
Quando está perto da barata, joga
o pescoço para trás e... tuf! Bica de
uma vez".
Polêmico, João Alberto era vice-governador do Maranhão em 1988
quando resolveu se candidatar a
prefeito de Bacabal. Ganhou a eleição e ficou alguns meses na prefeitura. Depois, reassumiu o cargo de
vice-governador -pois o então
governador deixaria o cargo para
concorrer ao Senado.
Em 1990, quando assumiu o governo do Maranhão, teve sua posse
contestada pelo presidente da Assembléia Legislativa local.
Entrincheirou-se no Palácio dos
Leões com um revólver calibre 38.
Se o presidente da Assembléia aparecesse, "enchia o peito dele de bala", conta.
A Folha acompanhou João Alberto nos últimos dias no Rio, onde o senador morou 11 anos (de
1955 a 1966) e agora está à caça de
provas para a CPI dos Bancos.
Indo do hotel para prédios da
Justiça Federal, ou almoçando no
restaurante Lamas, um dos mais
tradicionais do Rio, João Alberto
contou o que pensa sobre a CPI,
sobre seu passado comunista e a
vida de político no Maranhão.
Disse não gostar de nomear ídolos, mas cita o ex-presidente da República e conterrâneo maranhense
José Sarney como um político que
admira. "Quando eu era governador, em 90, o presidente era o Collor, mas no meu gabinete só tinha
o retrato do Sarney".
A seguir, os principais trechos da
entrevista com o homem que deve
redigir o relatório final da CPI dos
Bancos daqui a 120 dias.
(FERNANDO RODRIGUES)
Folha - Qual a sua avaliação dos
trabalhos da CPI depois de uma semana da instalação?
João Alberto Souza - Até agora,
encontramos muitas evidências,
mas nenhuma prova conclusiva. E,
por isso, é importante não prejulgar ninguém. Eu acho que Chico
Lopes terá de explicar muitas coisas, mas não posso dizer que ele seja culpado apenas com o que está
disponível.
Folha - Está havendo competição
entre as diversas frentes de investigação?
João Alberto - Podem até ter essa
impressão, mas eu digo que o clima é de colaboração total. E quero
falar que o Ministério Público tem
sido excelente. Esses procuradores
dão a vida para encontrar alguma
coisa. O que não pode é apressar as
coisas. A oposição fica querendo
convocar o Pedro Malan, e eu acho
que isso é inútil. Pelo menos neste
momento.
Folha - Por quê?
João Alberto - Porque ele não teria nada a acrescentar perante o
que já apuramos. Não descarto
convocar ninguém. A CPI vai apurar tudo. Mas na hora certa. Se não,
estragamos tudo. Tenho até uma
história muito engraçada que pode
servir de exemplo para a oposição,
que está muito apressada.
Há muito tempo, lá em Caxias,
uma cidade do Maranhão, o padre
ficou escandalizado com o passeio
noturno de oito pederastas. O padre botou a boca no trombone,
disse que era uma indecência que
tinha de acabar. Em vez de ir de devagar, foi logo propondo uma passeata contra os pederastas.
Aí veio a reação. Os pederastas
foram lá no padre com uma lista de
mais de cem bichas enrustidas da
cidade. Tinha até secretário de governo. Tudo foi abafado, não teve
passeata e a situação ficou na mesma. Quer dizer, não adianta ser
muito apressado que não dá certo.
Folha - O sr. era um político pouco conhecido antes de assumir ao
atual cargo. Não se sente incomodado com isso?
João Alberto - Nem um pouco.
Quando fui governador, tive de
cercar com policiais o Palácio dos
Leões (sede do governo maranhense) para manter-me no cargo.
Estou acostumado a trabalhar sob
pressão.
Folha - O sr. se refere ao episódio
em que era vice-governador e assumiu o governo do Maranhão?
João Alberto - Exatamente. Era o
ano de 1990. Como eu tinha sido
prefeito de Bacabal e vice-governador licenciado ao mesmo tempo, o
então presidente da Assembléia
Legislativa do Maranhão, Ivar Saldanha, achava que ele é quem tinha de ser o governador.
Eu cerquei o palácio e dei uma
ordem clara: "Se alguém quiser entrar sem ordem, fogo". Falei isso
pessoalmente para os soldados.
Voltei para o meu gabinete, coloquei um revólver 38 na cintura,
pus a faixa de governador no peito
e fiquei esperando.
Folha - O que o sr. pretendia fazer com o revólver?
João Alberto - Se o Ivar Saldanha
conseguisse entrar e viesse me dar
a mão dizendo que era o governador eu enchia o peito dele de bala.
Mas ele não veio e acabou tudo se
resolvendo.
Folha - O sr. se comportaria assim
ainda hoje?
João Alberto - Não, claro que
não. Uma pressão daquelas não se
repete. Mas sei o que fazer.
Folha - O sr. foi do Partido Comunista Brasileiro até quando?
João Alberto - Fui ligado aos comunistas de 1961 a 1992. A ligação
começou porque eu estudava economia no Rio e participei ativamente de uma greve dos bancários.
Eu trabalhei em vários bancos naquela época. Fui cooptado pelo
partidão.
Folha - Que tipo de livros o sr. lia
naquela época?
João Alberto - Eu era do tipo
mais prático do que teórico. Li o
"Manifesto Comunista" e vários
escritos de Che Guevara. Até hoje
tenho grande admiração por Guevara.
Folha - Alguma obra em particular?
João Alberto - O Che dizia nos
seus diários: "Nunca pise no pé do
inimigo quando ele quer que você
pise". Acho isso muito importante.
Folha - É a estratégia que o sr. vai
usar na CPI dos Bancos?
João Alberto - Mais ou menos.
Prefiro uma imagem mais própria
com a minha formação de homem
de Bacabal, interior do Maranhão.
Nós temos que fazer como uma
galinha que caça barata. A galinha
vai bem devagarinho, a passos lentos. Quando está perto da barata,
joga o pescoço para trás e... tuf! Bica de uma vez. É assim que a CPI
dos Bancos deve agir.
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