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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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PT SOB SUSPEITA

Segundo Promotoria, documentos apresentados por Rosângela Gabrilli para comprovar depósitos são verdadeiros

Quebra de sigilo revela pagamento a acusado

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Promotoria criminal de Santo André (SP) afirmou que Sérgio Gomes da Silva, amigo íntimo do prefeito assassinado Celso Daniel (PT), recebeu em sua conta bancária R$ 100 mil, que teriam sido depositados por empresários de ônibus da cidade em dezembro de 1998, ainda na gestão do petista. O valor foi confirmado na quebra de sigilo bancário.
Na ocasião, Gomes da Silva não trabalhava na prefeitura, mas exercia uma grande influência na administração e era favorecido pela amizade com o ex-prefeito, segundo informações prestadas ao Ministério Público de São Paulo por amigos e funcionários.
Um advogado do empresário disse "estranhar" e "desconhecer" os depósitos. Os valores, no entanto, foram anotados em um documento apócrifo encaminhado aos promotores pela empresária de ônibus Rosângela Gabrilli, há cerca de um mês. Ela foi a primeira a denunciar ser vítima do suposto esquema de cobrança de propina.
Esse papel seria, segundo a empresária, uma espécie de "prestação de contas" da propina, uma forma de garantir às empresas que as parcelas estavam corretas. Além de especificar a conta bancária de Gomes da Silva, são relacionadas sete empresas de ônibus, com a respectiva frota e o valor dos depósitos.
Com esse documento em mãos, a Promotoria solicitou a quebra do sigilo bancário. Por meio dos extratos, confirmou que os depósitos efetivamente ocorreram.
"Os papéis apresentados pela empresária estão integralmente confirmados pela quebra do sigilo", disse o promotor José Reinaldo Carneiro. "Entretanto, não podemos descer às minúcias porque a conta está protegida por sigilo."
O promotor Roberto Wider Filho, também responsável pelo caso, confirmou a autenticidade das informações. "Confirmamos a veracidade de todos os documentos apresentados por ela."
O terceiro promotor do caso, Amaro José Thomé Filho, não respondeu se os depósitos foram feitos em dinheiro ou em cheque.
Os seis acusados no suposto esquema de arrecadação de propina de empresários da cidade, incluindo Gomes da Silva e o vereador e ex-secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz Oliveira de Souza (PT), foram denunciados (acusados formalmente à Justiça) pelos crimes de formação de quadrilha e extorsão. Todos dizem negar as acusações.

Detalhes
A partir da quebra do sigilo bancário, a Promotoria irá rastrear o destino dado aos valores depositados na conta de Gomes da Silva.
No caso da Viação São José, por exemplo, que pertence à família Gabrilli, a parcela citada no documento (R$ 21.231) foi paga em duas prestações (R$ 9.981 e R$ 11.250), ambas em dinheiro e no dia 30 de dezembro de 1998. As demais empresas são: Ensa (Expresso Nova Santo André), Humaitá, Curuçá, Padroeira, São Camilo e Parque das Nações.
Segundo Rosângela, os depósitos eram exceções. "Pagávamos quase sempre em dinheiro. Não sei o que aconteceu para que depositassem o dinheiro", disse a empresária, que afirmou ter tido "sorte" ao encontrado os papéis na gaveta de documentos do pai, o empresário Ângelo Gabrilli Filho. "Meu pai está muito doente e não se recorda do que ocorreu."


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