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Rondeau diz que nem Palocci "agüentou"
Em conversa com Lula, ministro afirmou também não ter "costa dura" de José Dirceu para lidar com acusações da imprensa
Fato decisivo para a decisão de pedir demissão teria sido telefonema de sua mãe, que ligou chorando após ver denúncia na televisão
PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Silas Rondeau, em conversa
tensa com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ontem à
tarde, deixou claro o quanto tinha sido atingido pela Operação Navalha. Abatido, Rondeau
citou os ex-poderosos José Dirceu e Antonio Palocci, que tiveram de deixar seus cargos depois de meses de desgaste nas
páginas de jornais e nas TVs.
Lembrou que os dois tinham
estrutura e não agüentaram.
Afirmou não ter a "habilidade
política" de Palocci nem a "costa dura" de José Dirceu para lidar com um tiroteio contra ele
na imprensa. Não sou eu que
vou mudar a história, teria dito
o ministro a Lula, segundo relato de assessores do presidente.
Desde que a denúncia mais
forte contra Rondeau saiu, no
domingo, o ministro já estava
arrasado. Num dos pontos mais
decisivos, sua mãe, com cerca
de 80 anos, ligou chorando depois de ver um programa de TV
que citava as suspeitas da PF.
Na carta a Lula, o ministro
pede exoneração. Fala que sai
"a fim de proteger minha pessoa, minha família, minha honra e minha história e permitir
ao governo que siga com todas
as energias voltadas para o
crescimento do país, a implementação do PAC e o desenvolvimento do setor energético."
O Planalto tentou divulgar
uma versão menos ruim para o
ministro, de que o presidente
aceitou a demissão porque
Rondeau não tinha mais sustentação "psicológica e política" para ficar no cargo, mas tem
convicção de que as acusações
da PF são inverídicas.
A saída só foi confirmada ontem à noite, mas sua situação
vinha piorando desde sexta.
Quando acompanhava Lula em
viagem ao Tocantins e seu nome mal tinha surgido no noticiário, Rondeau dizia que o escândalo não o atingiria. "Absolutamente não." Sua paz durou
menos de 48 horas.
A situação era outra anteontem, no Paraguai. Na chegada à
Base Aérea, à noite, o ministro
teve uma conversa de mais de
uma hora com Lula e com o ministro da Justiça, Tarso Genro,
a quem a PF está subordinada.
O dia de ontem começou com
a reunião de coordenação política, em que Lula disse aos seus
ministros mais próximos que
considerava que Rondeau não
teria "estrutura" para agüentar
as acusações. Participaram da
reunião Tarso e a ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff.
O ministro voltou ao Planalto por volta das 19h30, onde esperou Lula por meia hora. Nesse meio tempo, ainda se reuniu
com o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins,
para redigir sua nota de saída.
Depois encontrou-se com o
presidente, por pouco mais de
15 minutos. Na derradeira conversa, pediu "desculpas".
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