São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2007

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Rondeau diz que nem Palocci "agüentou"

Em conversa com Lula, ministro afirmou também não ter "costa dura" de José Dirceu para lidar com acusações da imprensa

Fato decisivo para a decisão de pedir demissão teria sido telefonema de sua mãe, que ligou chorando após ver denúncia na televisão

PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Silas Rondeau, em conversa tensa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem à tarde, deixou claro o quanto tinha sido atingido pela Operação Navalha. Abatido, Rondeau citou os ex-poderosos José Dirceu e Antonio Palocci, que tiveram de deixar seus cargos depois de meses de desgaste nas páginas de jornais e nas TVs.
Lembrou que os dois tinham estrutura e não agüentaram. Afirmou não ter a "habilidade política" de Palocci nem a "costa dura" de José Dirceu para lidar com um tiroteio contra ele na imprensa. Não sou eu que vou mudar a história, teria dito o ministro a Lula, segundo relato de assessores do presidente.
Desde que a denúncia mais forte contra Rondeau saiu, no domingo, o ministro já estava arrasado. Num dos pontos mais decisivos, sua mãe, com cerca de 80 anos, ligou chorando depois de ver um programa de TV que citava as suspeitas da PF.
Na carta a Lula, o ministro pede exoneração. Fala que sai "a fim de proteger minha pessoa, minha família, minha honra e minha história e permitir ao governo que siga com todas as energias voltadas para o crescimento do país, a implementação do PAC e o desenvolvimento do setor energético."
O Planalto tentou divulgar uma versão menos ruim para o ministro, de que o presidente aceitou a demissão porque Rondeau não tinha mais sustentação "psicológica e política" para ficar no cargo, mas tem convicção de que as acusações da PF são inverídicas.
A saída só foi confirmada ontem à noite, mas sua situação vinha piorando desde sexta. Quando acompanhava Lula em viagem ao Tocantins e seu nome mal tinha surgido no noticiário, Rondeau dizia que o escândalo não o atingiria. "Absolutamente não." Sua paz durou menos de 48 horas.
A situação era outra anteontem, no Paraguai. Na chegada à Base Aérea, à noite, o ministro teve uma conversa de mais de uma hora com Lula e com o ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem a PF está subordinada.
O dia de ontem começou com a reunião de coordenação política, em que Lula disse aos seus ministros mais próximos que considerava que Rondeau não teria "estrutura" para agüentar as acusações. Participaram da reunião Tarso e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
O ministro voltou ao Planalto por volta das 19h30, onde esperou Lula por meia hora. Nesse meio tempo, ainda se reuniu com o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, para redigir sua nota de saída. Depois encontrou-se com o presidente, por pouco mais de 15 minutos. Na derradeira conversa, pediu "desculpas".


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