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PF dobrará contingente dentro da reserva Raposa/Serra do Sol
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal vai aumentar nos próximos dias em 100%
o contingente que ocupa a reserva indígena Raposa/Serra
do Sol, em Roraima. A corporação prevê o acirramento do
confronto entre índios e arrozeiros com a iminência de julgamento pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) do mérito
das ações sobre a demarcação
da reserva, homologada pelo
governo federal em 2005. O Supremo deve julgar o caso em
meados de junho, prevê o relator da matéria, ministro Carlos
Ayres Britto.
Atualmente, há no local 350
policiais (200 da PF e 150 da
Força Nacional de Segurança),
que monitoram principalmente os arredores da Fazenda Depósito, que foi palco de ataque
de funcionários do produtor e
prefeito de Pacaraima, Paulo
César Quartiero (DEM), a índios. O confronto ocorreu no
início do mês, e nove indígenas
ficaram feridos. Quartiero, o filho dele e seis funcionários ficaram oito dias presos por conta da ação, classificada pelo ministro Tarso Genro (Justiça)
como "terrorismo".
O aumento do contingente
na área para 700 policiais é
conseqüência de dois cenários
vislumbrados pela PF:
1) Se o STF derrubar a demarcação contínua das terras, a
revolta será por parte dos índios. O argumento de algumas
lideranças indígenas, já explicitado em conversas reservadas,
é o de que recorrer à violência
talvez possa ajudá-los;
2) Caso o Supremo confirme
a demarcação contínua, a resistência partirá principalmente
de Quartiero, avaliam policiais,
já que o prefeito de Pacaraima
explora o fato politicamente e
tem o apoio (inconsciente ou
não) de parte da população local. Há ainda o peso do aspecto
econômico -ele produz, em fazendas dentro da reserva, arroz
(principalmente) e soja.
"Vamos nos preparar para
enfrentar qualquer um dos lados do conflito", disse Fernando Segóvia, coordenador-geral
de defesa institucional da PF e
responsável pela Operação
Upatakon 3, iniciada em março
para retirar não-índios da Raposa/Serra do Sol.
Todo o trabalho na região está balizado em um relatório da
PF, feito há mais de um ano. "O
confronto, inclusive, já era esperado", reconheceu ele.
Há na reserva, de 1,7 milhão
de hectares, seis fazendas de
cinco proprietários (Quartiero
é dono de duas), além de 53 pequenas propriedades agrícolas,
diz o relatório. O total de não-índios chega a 200.
Na próxima terça, quando
Segóvia voltar à área, ele levará
um helicóptero Bell 412, com
capacidade para transportar 15
pessoas, que ficará à disposição
dos policiais. "Será importante
para o deslocamento rápido,
em alguma emergência", afirmou. O helicóptero estava em
manutenção, em Brasília.
A PF não tem prazo para deixar a reserva. O tempo mínimo
estimado é de seis meses, caso o
STF confirme a demarcação
contínua. Senão, o prazo deve
se estender por um ano.
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