São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Sócio da Rodvias, que presta serviços a cidades petistas, trabalha em secretaria da Prefeitura de São Paulo

Relação de empresa com PT é investigada

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Estadual, que nesta semana apresentou denúncia de cobrança de propina em Santo André para campanhas do PT, com base em depoimento de João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado da cidade, Celso Daniel, investiga suposto favorecimento da empresa Rodvias Engenharia Municipal.
A história da companhia é um exemplo da interligação que existe entre petistas, suas empresas e as administrações controladas pelo partido.
A Rodvias tem como sócio Ricardo Pereira da Silva, que hoje trabalha na Secretaria de Governo da Prefeitura de São Paulo, chefiada por Rui Falcão, membro da Executiva Nacional do PT.
Ela foi criada em fevereiro de 1997, ano em que o PT assumiu as prefeituras de Santo André, Mauá e Belém, entre outras.
Com essas três primeiras, manteve contratos que somam pelo menos R$ 5,2 milhões.

6.900%
O objetivo da companhia é prestar serviços de assessoria nas áreas de arquitetura e engenharia. O capital social, na época, era de R$ 5.000. Atualmente, é de R$ 350 mil -um aumento de 6.900% em cinco anos.
Capital social é o investimento que a empresa faz para começar a funcionar. Os lucros gerados pelo empreendimento podem ser reinvestidos na própria empresa, aumentando, assim, seu capital. Outra forma de incrementá-lo é por meio da entrada de novos sócios no negócio. No caso da Rodvias, isso não aconteceu.
Ricardo é engenheiro concursado da Prefeitura de São Paulo. Até 92, estava lotado na Secretaria das Administrações Regionais, durante a gestão da ex-prefeita petista Luiza Erundina, hoje no PSB.
Quando o PT perdeu as eleições em São Paulo, Ricardo mudou-se para Santos e foi secretário de Obras Públicas na administração de David Capistrano (93-96).
Na mesma época, Klinger Luiz de Oliveira Souza era chefe do Departamento de Vias Públicas, ligado diretamente à Secretaria de Obras Públicas. Em 1996, Ricardo foi substituído por Francisco Eduardo Pasetto Lopes.
Com a eleição de Celso Daniel (PT), em Santo André, Klinger foi nomeado, em janeiro de 1997, secretário de Serviços Municipais, onde está até hoje -na última eleição para a Câmara Municipal, Klinger foi eleito vereador, mas retornou às suas funções na administração da cidade.
Sob seu comando estão contratos com empreiteiras de lixo, pavimentação e obras em geral. A Empresa Pública de Transporte e Trânsito (EPT) lhe é subordinada.

Atestado
Em junho de 1997, Klinger contratou, sem licitação, porque o valor não exigia, a Progeconsult, com sede no Guarujá, para fazer avaliação técnica do Hospital Municipal. O valor do contrato foi de R$ 7.570. Um sócio da Progeconsult é Paulo de Ávila Pimenta.
Apesar de ser um serviço pequeno, a Progeconsult repassou parte da tarefa à Rodvias. O contrato entre ambas, de R$ 2.150, previa que a Rodvias faria uma "avaliação técnica dos elementos arquitetônicos do Hospital Municipal". Com o repasse, a Rodvias obteve um atestado técnico que a capacitaria para outras obras semelhantes. Meses depois, o dono da Progeconsult aparece em documento da Rodvias como integrante de seu quadro de técnicos.
Outro contrato com a Prefeitura de Santo André foi estabelecido com a Rodvias em janeiro de 98. Ela foi a única empresa a apresentar proposta para uma carta-convite que teve como objeto a execução de serviços de gerenciamento de obras no Hospital Municipal no qual havia trabalhado anteriormente. Valor: R$ 122 mil.
A presidente da comissão de licitação que escolheu a Rodvias para o serviço era Rosana de Senna. Em setembro do mesmo ano, Rosana atuou como advogada da Rodvias em um contrato com a Prefeitura de Belém (PA).

Auditoria
A empresa havia sido contratada naquela cidade para fazer uma auditoria técnica no terminal pesqueiro e, no relatório encaminhado ao procurador-geral de Justiça do Pará e ao Tribunal de Contas do Município de Belém constam o nome de Ricardo, do engenheiro naval Mauro Varella Borges, e da advogada Rosana de Senna.
A Prefeitura de Santo André fez mais um contrato com a Rodvias. Desta vez, no valor de R$ 1 milhão. O serviço a ser executado era gerenciamento e controle tecnológico de uma obra, cuja licitação havia sido vencida pela Emparsanco, de São Bernardo do Campo.

EPT
Mas o maior contrato assinado entre a Rodvias e a Prefeitura de Santo André foi firmado em maio do ano passado pela EPT, vinculada à secretaria comandada por Klinger. A concorrência previa a contratação de uma empresa para execução de projetos e gerenciamento de obras viárias e drenagem para a EPT. Só duas companhias foram habilitadas: além da Rodvias, a Ductor.
A opção pela primeira aconteceu com base em nota técnica e preço. Ela obteve nota 10 (a Ductor ficou com 9) e apresentou uma proposta de preço de R$ 4,096 milhões. A proposta de preço da Ductor foi de R$ 4,113 milhões, ou seja, R$ 16 mil a mais.
Em Mauá, a Rodvias foi contratada em janeiro deste ano para "elaboração de programa de prevenção de riscos ambientais e assessoria para implantação". Em maio do ano passado, houve uma ordem de pagamento de R$ 18 mil à empresa.
Ricardo nega que sua empresa tenha sido favorecida nos contratos com a Prefeitura de Santo André e disse que também trabalha para municípios que não são administrados pelo PT.



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