São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

35% dos eleitores do candidato petista pretendem votar no pepebista para governador de São Paulo

Eleitor paulista cria chapa Lula-Maluf

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Paulo Maluf (PPB) sempre trafegaram em campos ideológicos diametralmente opostos, mas nesta eleição os dois participam de uma "chapa" insólita detectada pelo Datafolha em São Paulo.
Nada menos que 35% dos eleitores que têm a intenção de votar em Lula para presidente da República dizem que vão escolher Maluf para governador.
Segundo pesquisa do Datafolha realizada em 14 de maio com 1.552 entrevistados, Maluf é o preferido dos eleitores de Lula. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) vem em segundo lugar, com 24% das intenções de voto dos partidários de Lula, e o pré-candidato do PT, José Genoino, só aparece em terceiro, com 13%.
Essa preferência do eleitor de Lula por Maluf pode aumentar se a estratégia do pepebista der resultado. Anteontem, o ex-prefeito anunciou aliança com o PL, partido que deve ratificar hoje coligação com o PT de Lula.
A Folha conversou com quatro eleitores da "chapa" Lula-Maluf. Eis seus argumentos.
O casal Nilma, 46, e Nilton Prado, 54 -ela dona-de-casa, ele, matemático aposentado- identificam em Maluf o "tocador de obras" e o "administrador competente" de que "São Paulo precisa". Nilma diz que Lula "merece uma chance para provar que é competente e que não é corrupto". Seu marido vê no petista alguém que "vai enfrentar o FMI e George Bush, que quer transformar a América Latina em quintal dos EUA através da Alca".
Sobre as divergências ideológicas entre eles, ele diz: "Se os próprios políticos brasileiros não têm consciência ideológica, como exigir que nós eleitores tenhamos?".
O advogado André Amaral, 58, também votará nos dois. "O Maluf é meio autoritário e prepotente, mas é um administrador competente, inclusive para cuidar da questão da segurança. Quanto ao Lula, acho que ele pode mudar esse quadro que está aí. Afinal, o país foi vendido por um preço mixo para os bancos por culpa do Fernando Henrique". Assim como o casal Prado, Amaral votou em FHC na última eleição.
A balconista Jovelina de Souza, 26, votou em Lula em 98, escolha que vai repetir neste ano. Para governador, porém, diz que votará em Maluf e não no pré-candidato do PT. "Eu votei na Marta e olha só como está a cidade. Se o desemprego diminuir um pouco com o Maluf, já é vantagem."
Essa visão do mundo político não deve causar estranheza, afirma o cientista político Fábio Wanderley Reis. "A consciência política não é perfeita. É um equívoco e uma pretensão querer detectar na massa do eleitorado a visão ideológica do mundo político das pessoas mais sofisticadas."
"O Maluf tem penetração na classe média, e Lula nesse quadro é uma coisa nova, que ocorre talvez por conta de suas posições contra a corrupção", afirma o professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para a socióloga Maria Victoria Benevides, da USP, essa contradição ideológica é típica de "uma classe média amedrontada e que tem pânico de se proletarizar, de perder status. Para essas pessoas, Maluf é o que faz, apesar do desequilíbrio social que causa. E Lula é o novidadeiro, o voto de protesto de quem foi penalizado por FHC." Quanto aos eleitores menos instruídos, a socióloga afirma que provavelmente escolhem Lula porque "querem que as coisas mudem" e Maluf, por causa do "pavor à criminalidade".



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