São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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CAMPO MINADO

Entre janeiro e maio, foram 213 ações; mesmo período de 2003 teve 99

Invasões de terra têm aumento de 115% neste ano

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O número de invasões de terra entre janeiro e maio deste ano avançou 115% em relação ao mesmo período do ano passado -de 99 para 213 casos.
O número, o maior já registrado nos cinco primeiros meses de um ano pela Ouvidoria Agrária Nacional, contradiz o discurso de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Às vésperas das eleições de 2002, o então candidato declarou que era a única pessoa "capaz de fazer uma reforma agrária tranqüila".
Segundo a ouvidoria, criada em 1999 e vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, só em maio ocorreram 48 invasões, um crescimento de 54% diante dos 31 casos do mesmo mês em 2003.
O total de invasões até 31 de maio deste ano já se aproxima do registrado em todo o ano passado, quando ocorreram 222 casos. Em 2002, foram 103 invasões de propriedades rurais.
A onda de ações no campo liderada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) dois meses atrás, no chamado "abril vermelho", registrou 109 invasões de terra -o maior número já computado num único mês pela ouvidoria. A onda vermelha, de acordo com o MST, começou na última semana de março e somente terminou na primeira quinzena de maio.
Para a ouvidora agrária nacional substituta, Maria de Oliveira, escalada pelo governo federal para falar sobre o relatório, a onda de invasões está relacionada ao ritmo lento do governo no cumprimento das metas de assentamento. "A cobrança é inevitável."
De acordo com o Incra, 17,7 mil famílias foram assentadas neste ano até 16 de junho. A meta é de 47 mil famílias até o final deste mês e de 115 mil até dezembro. Segundo o órgão, outras 13 mil já estão nas terras, mas com suas situações ainda não homologadas.
Neste ano, a maioria das invasões (95) ocorreu no Nordeste, seguido das regiões Sudeste (69), Centro-Oeste (25), Sul (19) e Norte (5). Entre os Estados, Pernambuco, com 50 casos, lidera o ranking. Na seqüência vêm São Paulo (34) e Minas Gerais (22).
Apesar de o ritmo de invasões ter batido seguidos recordes, o número de mortes decorrentes de conflitos fundiários caiu em 2004. Até 31 de maio, foram três assassinatos, sendo dois em Pernambuco e outro no Pará. Outras 11 mortes ocorridas neste ano ainda estão sob investigação policial.


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