São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Sem PSB, Lula terá Alencar novamente como seu vice

Petista define nome para não "expor" empresário, que reclamou de indefinição ontem

Em encontro com Eduardo Campos e Ciro Gomes, presidente foi informado de que socialistas não podiam fazer aliança formal com PT


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Ao se reunir com a cúpula do PSB e ouvir que seria difícil uma aliança formal com o PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a ministros e aliados que não poderia "expor mais" o vice-presidente José Alencar (PRB) e que repetiria a dobradinha de 2002. Em jantar à noite, Lula fez o convite, e Alencar aceitou. A chapa será anunciada amanhã na convenção do PT, em Brasília.
De manhã, Alencar dinamitou o clima do encontro de Lula com os aliados. Antes da reunião, demonstrou sua contrariedade em conversa com auxiliares de Lula e chegou a chorar. E deu uma entrevista logo em seguida, num tom de desabafo:
"Nunca falei que ficasse desconfortável, mesmo porque eu, quando fui candidato a vice, os quatro principais candidatos à Presidência [Lula, Serra, Ciro e Garotinho] me convidaram, com muita honra, isso em 2001 e 2002. Eu, por exemplo, provavelmente não tenha feito por merecer um novo convite. Naquele tempo eles gostavam de mim, eu era senador. Então agora eu não recebi convite de nenhum candidato", afirmou.
"Não existe candidatura a vice. O vice é objeto de um convite e de uma aceitação", disse. Questionado se foi convidado, Alencar respondeu: "Não". A seguir, começou responder de bate-pronto às perguntas. Espera ser convidado: "Não". Quer ser convidado: "Não". Se for convidado, aceita: "Isso é conjectura. Eu não posso raciocinar por hipótese".
Em seu desabafo, Alencar ainda misturou religião com seu futuro político. "Eu sei rezar uma oração que está no sermão da montanha, que é o "Pai-Nosso". E tem um trecho que diz assim: "Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu". Isso significa que, em qualquer circunstância, seja feita a vontade de Deus. E provavelmente Deus esteja me protegendo."

Tempo de TV
Lula pressionou a cúpula do PSB, em reunião ontem, a formalizar a aliança com o PT a fim de aumentar o seu tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Com os socialistas, teria cerca de oito minutos na TV. Agora, precisará confirmar a aliança com o PC do B e o PRB de Alencar para alcançar aproximadamente seis minutos.
Como combinado na semana passada, o presidente se reuniu ontem com o presidente do partido, deputado Eduardo Campos (PE), e com os ex-ministros Ciro Gomes e Roberto Amaral, além do presidente do PT, Ricardo Berzoini, e do ministro Tarso Genro (Relações Institucionais). Depois, todos assistiram juntos ao jogo do Brasil contra o Japão no Palácio da Alvorada.
Na reunião no Planalto, o presidente ouviu dos dirigentes do PSB e do PT que as dificuldades nos Estados não haviam sido solucionadas e que o partido correria o risco de não cumprir a cláusula de barreira (votação mínima exigida para que os partidos mantenham a representação formal na Câmara em 2007, acesso ao fundo partidário e maior tempo de TV).

"Aliança informal"
"O caminho hoje seria a aliança informal", afirmou ontem Eduardo Campos.
O presidente da sigla completou: "O PSB não tem neste momento como finalizar sua decisão". Campos disse que a busca pela vaga de vice e por uma aliança formal com o PT poderia rachar o partido. "Não queremos isso", disse.
O presidente foi informado por auxiliares que a situação de Alencar era constrangedora e que seria preciso decidir logo a vaga de vice, sob risco de não contar nem com ele.
No encontro, Lula disse a Campos e a Ciro, ambos cotados para a vaga de vice, que considerava o primeiro "quase um filho" e o segundo "um irmão". No entanto, diante da impossibilidade de coligação formal e do temor de afastar Alencar da campanha, afirmou que o vice o apoiou quando o mercado o via com descrédito e insegurança. Empresário, Alencar ajudou a Lula em 2002 a atrair apoios do setor produtivo.
O PSB cogita cancelar sua convenção nacional marcada para o dia 28. A idéia é que os principais dirigentes da legenda compareçam à convenção do PT amanhã em Brasília, expliquem a opção do partido pelo apoio informal e façam uma manifestação pró-Lula. O próprio Berzoini, ontem à noite, comunicou aos dirigentes do partido que a decisão estava tomada. (KENNEDY ALENCAR, MALU DELGADO, PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE E LETÍCIA SANDER)

Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.