São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE painel@uol.com.br

O sapo de cada um

Durante meses, as vozes menos beligerantes aconselharam Geraldo Alckmin a dar uma declaração cristalina de apoio a José Serra para presidente em 2010 como forma de viabilizar sua candidatura a prefeito. Alckmin resistiu o quanto pôde, pois seu candidato presidencial é, se a oportunidade surgir, ele mesmo, e, do contrário, o anti-Serra do PSDB, Aécio Neves.
Mas a corda se esticou demais, os kassabistas chegaram a ter chance real de vencer a convenção, e, na undécima hora, Alckmin fez a declaração. Oblíqua ("ele contará comigo"), mas fez. Ela não valerá nada depois da eleição -especialmente em caso de vitória do tucano-, mas, por ora, foi o sapo que ele teve de engolir.
Sapo, porém, menor que o de Serra, que pela segunda foi emparedado por Alckmin e optou por recuar.

Javanês 1. Com a tensão esvaziada após o recuo dos kassabistas, a nota de espanto da convenção ficou por conta do presidente municipal do PSDB, José Henrique Reis Lobo, que intrigou os presentes com um discurso em que conclamou o partido a ser "o novo Palmares" e disse que "a mão que balança o berço balança a humanidade", entre outras ininteligibilidades.

Javanês 2. Enquanto Lobo divagava, Serra, como os demais, tinha cara de quem não estava entendendo nada. No entanto, quando chegou sua vez de discursar, elogiou-lhe a fala "sucinta e técnica".

Preventivo. Alvo preferencial da ira dos alckmistas por ter se exposto até o limite em defesa do apoio à reeleição de Gilberto Kassab (DEM), o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman, circulou pela convenção na companhia de quatro seguranças.

Como um peixe. Ao longo do sábado, kassabistas mantiveram o prefeito informado sobre as conversas e reuniões que terminaram por evitar o embate na convenção. Com a frieza habitual, a todos ele disse que estava tudo bem.

Relax. As notas de empenho dos gastos da União no projeto "Cimento Social", de Marcelo Crivella (PRB-RJ), listam a compra de sete "poltronas reclináveis, de material impermeável, com apoio para os pés, acabamento acolchoado no encosto, braços e assento", por R$ 2.850,05.

Cadê? Quem conhece a rotina da liberação de recursos para obras estranha que a Operação João de Barro tenha passado ao largo da Caixa Econômica Federal. É graças a relatórios semanais da CEF que ministérios ordenam pagamentos a prefeituras.

Tem mais. A operação da PF apontou três empresas mineiras como eixo do esquema de desvio de recursos do PAC, mas o Ministério Público estadual investiga 23. Parte da verba é da Funasa e do Fundo Nacional de Saúde.

Operante. O ministro Márcio Fortes (Cidades) afirma que participou na sexta de reunião do conselho da fundação Roquete Pinto, no Rio, mas que, no mesmo dia, exonerou dois funcionários acusados de envolvimento nos desvios apontados pela PF.

Calendário 1. O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Reynaldo Fernandes, diz que, embora tenha sido alertado pelo secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, na terça, só na sexta "soube com certeza" que os números do Ideb de São Paulo estavam errados.

Calendário 2. Até sexta, continua Fernandes, havia apenas "a demanda" da prefeitura "alegando" que uma distorção de cálculo tinha piorado artificialmente o desempenho do município no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. "Eu não podia adiar a divulgação dos resultados somente com base nisso."

Calendário 3. Schneider responde: "É uma pena que o MEC continue a defender a divulgação de dados reconhecidamente errados".

Tiroteio

A oposição sofreu três derrotas na votação da CSS. A seleção perdeu dois jogos. Se perdesse, o terceiro, cairia toda a comissão técnica.


Do líder do PMDB, HENRIQUE EDUARDO ALVES (RN), apostando que a votação da nova CPMF na Câmara será concluída antes do recesso.

Contraponto

Centralismo democrático

Em 1997, quando era líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira reuniu a bancada para escolher a quem caberia a presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia. Na verdade, tratava-se de uma formalidade, pois o pernambucano já havia definido o nome em encontro com os caciques Marco Maciel e Jorge Bornhausen.
Logo no início da reunião, Inocêncio anunciou:
-O escolhido será o deputado Ney Lopes, que tem um projeto político e precisa de visibilidade.
Contrariados, vários postulantes ameaçaram ir embora. Ao que Inocêncio deu um murro na mesa e berrou:
-Ninguém sai! Este é um partido democrático, no qual até fato consumado tem de ser discutido até o fim!


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