São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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ENTREVISTA/SONINHA FRANCINE

"Sei admitir o que cada adversário fez de positivo"

Candidata do PPS apresenta, entre as propostas, reconfiguração do território da cidade

Alex Almeida/Folha Imagem
A candidata do PPS e vereadora Soninha, em seu gabinete


RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO

"À espera de um milagre", a vereadora Soninha Francine (PPS), 40, diz que sua candidatura à prefeitura paulistana era uma "ousadia tão possível como passar seis meses no Nepal em uma excursão fotográfica".
Ex-apresentadora de TV, ex-petista e colunista esportiva, Soninha -2% das intenções de voto, segundo o Datafolha- apresenta um leque de propostas como acabar com a relação fisiológica entre Executivo e Câmara e repovoar o centro.
Crítica do PT, Soninha também tem elogios ao ex-partido, como tem elogios a Kassab (DEM) e a Erundina (PSB).  

FOLHA - Para ir ao segundo turno, a sra. tem que tirar votos dos outros. Por que o eleitor de uma ex-prefeita, de um ex-governador, do prefeito, votaria na sra.?
SONINHA FRANCINE
- No mínimo, porque eu não tenho nenhum problema em admitir o que cada um deles fez de positivo. E de assumir o compromisso de continuar e, ao mesmo tempo, de fazer diferente aquilo de que a gente discorda. Sem esse vício fundamental da política que é dizer: "Nós temos todas as soluções, e os outros não têm e nunca tiveram". É desonesto.

FOLHA - O que houve de bom?
SONINHA
- Gostei muito da gestão da Erundina. Ela teve dificuldade extra com a Câmara. Não teve maioria nem rolo compressor, como outros...

FOLHA - Como a Marta?
SONINHA
- Marta sim, sem dúvida, uma maioria absolutamente fiel e quase acrítica. A Erundina teve toda a dificuldade do mundo e, ainda assim, aonde você vai na cidade tem alguma coisa que evoluiu até a Erundina, e da Erundina para cá nunca mais evoluiu na mesma velocidade. Se eu pensar bastante posso lembrar de alguma coisa boa na gestão do Maluf. Da gestão do Kassab, tem o óbvio, a Cidade Limpa.

FOLHA - E a gestão Marta?
SONINHA
- Mas eu só falei da Cidade Limpa, tem mais coisas. A reestruturação de quadros de servidores, muita obra na área de educação. Em educação, o cara teve um bom trabalho. E tem o aumento da arrecadação, sem aumentar impostos. Tem a Secretaria do Meio Ambiente.
Na Marta, o transporte coletivo. Não foi a gestão da Marta que inventou o Bilhete Único, mas teve o grande mérito de implantá-lo. Alguns corredores foram muitos importantes. O Parque do Gato, acho um modelo superinteressante na área da habitação. Os telecentros, os CEUs, defendi para caramba.

FOLHA - E o que está errado?
SONINHA
- A política, o relacionamento com a Câmara, o que acaba prejudicando a administração, quando você aceita negociar apoio a seus projetos em troca de indicação para cargos na administração sem avaliação de mérito e capacidade.

FOLHA - E sobre o trânsito?
SONINHA
- Algumas das propostas são de senso comum, como melhorar o transporte. Mas tem uma que, se não for feita, todas as outras juntas não vão adiantar, que é mudar a configuração do território da cidade.
No centro, você tem toda a infra-estrutura urbana, e cada vez menos gente morando. E a periferia, que é onde você tem déficit de tudo, cresce 10% ao ano. Se não reconfigurar o território, não vai ter sistema de transporte que dê conta disso.

FOLHA - Por que ser candidata?
SONINHA
- Disse ao PPS que adoraria ser candidata, mas que isso nunca iria acontecer porque o que você tem que fazer dentro de uma estrutura partidária eu não tenho saco para fazer. Eles discutiram com a Executiva Nacional, com o Roberto Freire, e ele achou ótimo.

FOLHA - Como a sra. responde às críticas do PT de que a sra. se alinhou ao governo Serra/Kassab?
SONINHA
- De fato me indispus com a bancada do PT para defender projetos do governo que a própria bancada do PT avaliava como positivos. Mas depois encaminhavam contra.

FOLHA - E a versão de que sua candidatura foi estimulada pelo Serra?
SONINHA
- Bobagem. Decidi ser candidata porque eu sempre quis e o PPS gostou da idéia. É bem típico da política achar que sempre tem conspiração.

FOLHA - Se perder, quem apoiará?
SONINHA
- Não sei. Mas o PPS não apoiaria o PT.

FOLHA - Alckmin e Kassab. Há problema para apoiar um ou outro?
SONINHA
- Problema dos dois lados e também motivos. Será um dilema para o partido.

FOLHA - E para a sra.?
SONINHA
- (silêncio) Não sei se posso me declarar neutra.

FOLHA - A sra. já disse que o título do livro sobre sua vida poderia ser: "De Como Tudo que Eu Planejava Deu Errado... E Tudo Bem". Tendo em vista as pesquisas, caminha para mais um capítulo?
SONINHA
- Talvez. Estou disputando uma eleição felicíssima da vida. E, se ganhar, fica "De Como Quase Tudo que Eu Planejei Deu Errado".


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