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350 servidores do Senado têm salário maior que STF
Pagamento acima de R$ 24.500 se baseia em parecer posterior ao teto constitucional
Funcionários engordam vencimentos ao participar de função comissionada e de comissões, cujo adicional é tratado como indenização
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado paga para cerca de
350 funcionários salários
maiores do que os dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O número de servidores
que recebem mais do que
R$ 24.500 por mês, teto definido pela Constituição para o serviço público, é 10% do total de
funcionários efetivos da Casa.
Os pagamentos se baseiam
em parecer da Advocacia Geral
do Senado de 2005, feito um
mês depois de a emenda constitucional que estabeleceu o teto
salarial ter sido sancionada.
O documento considera como indenização vários dos benefícios pagos pela Casa, manobra que impediu que servidores
tivessem cortes nos salários
com a definição do teto. Na
época, o Senado era presidido
por Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele não respondeu às ligações da Folha ontem.
A lei 8.112, que estabelece o
regime jurídico dos servidores,
prevê como verba indenizatória só os seguintes benefícios:
ajuda de custo, diária, transporte e auxílio-moradia. O Senado, porém, trata dessa forma
os pagamentos de adicionais
pelo exercício de função comissionada, de participação em comissão especial, em comissão
de sindicância e de gestor de
contrato, em vez de considerá-los como remuneratórios.
O Senado também não computa como salário o pagamento
do 13º salário. Sobre a lei 8.112,
a direção da Casa informou que
ela é de 1990 e está defasada,
uma vez que de lá para cá vários benefícios foram criados.
Até março deste ano, os pagamentos desses benefícios
não apareciam nos contracheques. A informação só foi detalhada no documento depois
que a Folha revelou que os valores não eram identificados.
Um servidor que tem cargo
comissionado FC-8, terceiro
mais alto na Casa, participa de
duas comissões (limite máximo) e recebe o teto da hora extra pode aumentar em até
R$ 9.964 seu salário por mês.
A reportagem apurou que ganham acima do teto em sua
maioria consultores, chefes de
gabinete e diretores que têm
mais de 15 anos de trabalho.
O parecer jurídico é assinado
por Alberto Cascais, na época
advogado-geral do Senado,
Shalom Granado, que era seu
adjunto e atualmente ocupa a
Secretaria de Controle Interno, e por Ralph Campos Siqueira, que respondia pela coordenadoria de processo administrativo. Atualmente, ele é o diretor de Recursos Humanos do
Senado. Segundo ele, a interpretação do Senado também é
adotada em outros órgãos.
Ontem a Folha revelou que o
ex-diretor-geral do Senado
Agaciel Maia recebeu salários
mensais acima de R$ 30 mil em
2006 e 2007. Agaciel engordava seu contracheque ao participar de comissões especiais, a
maioria criada por ato secreto.
Em 2007, após a Folha publicar que muitas dessas comissões eram de fachada, o então presidente do Senado, Tião
Viana (PT-AC), cancelou os pagamentos -restabelecidos por
Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Agaciel argumentou que tudo que recebeu "passou pela
Advocacia do Senado". Ele disse ainda que todos os benefícios extras incorporados a seu
salário-base também foram pagos aos demais servidores.
Os servidores do Senado
também recebem 14º e 15º salários graças à interpretação da
Casa para a resolução que trata
do pagamento adicional aos senadores. Os funcionários recebem um percentual de tudo o
que for pago a mais de gratificação aos parlamentares. O benefício é pago no final e início
de cada ano.
(ANDREZA MATAIS E ADRIANO CEOLIN)
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