São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2001

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ESPÍRITO SANTO
Carta de parente tenta inocentar governador, investigado por CPI

Cunhado de Ignácio assume desvios

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

Gentil Ruy, ex-secretário de Governo do Espírito Santo e cunhado do governador José Ignácio Ferreira (PSDB), divulgou ontem uma carta em que assume irregularidades encontradas na gestão estadual nos últimos meses.
A oposição considerou a atitude de Ruy uma manobra para tentar inocentar o governador, que é investigado por uma CPI da Assembléia que pode levar ao impeachment. Por sua vez, Ignácio considerou "de muita dignidade" a atitude do cunhado, que ele antes considerava inocente.
As denúncias vão de extorsão de dinheiro de empresários a desvio de dinheiro público para cobrir dívidas de campanha.
Na carta, Ruy afirma ser Ignácio "notável homem público, digno, honesto e honrado". Diz ainda que "traiu a confiança" do governador e que não estava preparado para ser secretário de Governo.
Ele assume a responsabilidade pela transferência de R$ 7,3 milhões para a Coopetfes (Cooperativa de Crédito dos Servidores da Escola Técnica), recursos públicos que a CPI suspeita terem sido usados para pagar dívidas da campanha eleitoral de 1998.
A cooperativa recebeu R$ 5 milhões da Secretaria de Educação, R$ 2,3 milhões do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e movimentou R$ 20 milhões da Cesan (empresa de saneamento).
O cunhado também assumiu ter autorizado Raimundo Souza Filho, coordenador da campanha, a fazer pagamentos de gastos pessoais e eleitorais do governador através das contas da cooperativa.
Ele diz na carta estar certo da "clara possibilidade do retorno" do dinheiro aos cofres do Estado, mas não fala como isso se daria.
Ruy foi exonerado de sua função no governo quando as denúncias de corrupção vieram à tona. Na época, no entanto, o governador disse que o cunhado fora afastado somente para não ser acusado de prejudicar as investigações.
O deputado estadual Cláudio Vereza (PT), integrante da CPI da Propina, não deu credibilidade à carta. "O governador, por exemplo, fez o saque de R$ 2,6 milhões a descoberto no Banestes para financiar a campanha. E, quanto às outras irregularidades, é impossível que não soubesse", afirmou.
O deputado ressaltou que o governador foi alertado pelo vice-governador, Celso Vasconcelos (PSDB), sobre a lista de cheques emitidos por Souza Filho.
O comentário de José Ignácio sobre esse novo lance da crise no Espírito Santo foi feito pelo seu porta-voz, José Nunes Dias.
Segundo ele, Ignácio considerou a carta de "extrema gravidade" e disse que, por enquanto, não fará julgamentos. "Mas [o governador" não pode deixar de admitir que o documento reforça sua obstinada e pública crença de que a verdade viria a público, mais cedo ou mais tarde".
Além de Ruy, a sua irmã e mulher do governador, Maria Helena Ruy Ferreira, é acusada de desvio de recursos da Secretaria do Trabalho e Ação Social, que dirigia.



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