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ALTA ESPIONAGEM
Advocacia Geral da União será acionada por meio de documento elaborado pela Secretaria de Comunicação, do ministro Gushiken
Governo Lula pretende processar espiões
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após um dia de intensas negociações, o governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu pedir que a
AGU (Advocacia Geral da União)
encontre os meios jurídicos adequados para processar tanto a
empresa de investigação norte-americana Kroll Associates como
a companhia Brasil Telecom.
Reportagem de ontem da Folha
revelou que, sob encomenda da
Brasil Telecom, a Kroll Associates
teve acesso a e-mails do ministro
Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica)
antes de ele tomar posse no governo, em 2003.
O objetivo formal da Brasil Telecom (controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity) era investigar a Telecom Italia -as empresas protagonizam
uma batalha judicial. A investigação da Kroll, porém, resvalou tanto em Gushiken como no presidente do Banco do Brasil, Cássio
Casseb, que teve monitorados
seus encontros com executivos da
Telecom Italia.
O pedido formal do governo,
por meio de um documento elaborado pela Secom (Secretaria de
Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), deve chegar hoje
às mãos do advogado-geral da
União, Álvaro Augusto Ribeiro
Costa. Não há prazo para que ele
conclua os estudos, que podem
ser encaminhados diretamente à
Justiça ou, numa terceira etapa,
ao Ministério Público Federal.
Ontem, em nota, Gushiken disse que "considera ilegais os procedimentos de espionagem noticiados e irá adotar as medidas jurídicas pertinentes".
No relatório da Kroll aparecem
mensagens eletrônicas trocadas
entre Gushiken e o empresário
Luiz Roberto Demarco, ex-sócio
de Dantas no Opportunity. Em
entrevista anteontem, o ministro
confirma a troca de e-mails com
Demarco entre 2000 e 2001, mas
nega irregularidades. Diz que, por
atuar à época na área da previdência, buscava informações sobre
Dantas em tal questão.
Ontem, pela manhã, Gushiken
conversou longamente por telefone com o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos. Encontrou-se ainda com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência, general Jorge Félix, e com Mauro
Marcelo de Lima e Silva, diretor-geral da Abin (Agência Brasileira
de Inteligência). A eles, disse que
há anos desconfiava que poderia
estar na rota de espionagem, mas
só tomou conhecimento de que
há documentos a respeito quando
foi procurado pela reportagem da
Folha para tratar do tema.
Concluíram que, neste momento, o melhor caminho é entregar o
caso à AGU. "No âmbito do governo, o assunto vem sendo
acompanhado pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça",
afirmou ontem Gushiken, em nota. O ministro da Secom, por ora,
não pretende estender o caso ao
presidente Lula, que viajou ontem
para a região Sul do país e embarca, neste domingo, para quatro
dias de visita a países do continente africano.
O ministro das Comunicações,
Eunício Oliveira, disse que sua
pasta está fora do caso. "É uma
disputa entre duas empresas privadas. O governo fará o que determina a lei: os atos ilegais serão punidos. É tudo caso para a polícia,
não para o Ministério das Comunicações", declarou.
(EDUARDO SCOLESE)
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