São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Advocacia Geral da União será acionada por meio de documento elaborado pela Secretaria de Comunicação, do ministro Gushiken

Governo Lula pretende processar espiões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após um dia de intensas negociações, o governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu pedir que a AGU (Advocacia Geral da União) encontre os meios jurídicos adequados para processar tanto a empresa de investigação norte-americana Kroll Associates como a companhia Brasil Telecom.
Reportagem de ontem da Folha revelou que, sob encomenda da Brasil Telecom, a Kroll Associates teve acesso a e-mails do ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica) antes de ele tomar posse no governo, em 2003.
O objetivo formal da Brasil Telecom (controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity) era investigar a Telecom Italia -as empresas protagonizam uma batalha judicial. A investigação da Kroll, porém, resvalou tanto em Gushiken como no presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, que teve monitorados seus encontros com executivos da Telecom Italia.
O pedido formal do governo, por meio de um documento elaborado pela Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), deve chegar hoje às mãos do advogado-geral da União, Álvaro Augusto Ribeiro Costa. Não há prazo para que ele conclua os estudos, que podem ser encaminhados diretamente à Justiça ou, numa terceira etapa, ao Ministério Público Federal.
Ontem, em nota, Gushiken disse que "considera ilegais os procedimentos de espionagem noticiados e irá adotar as medidas jurídicas pertinentes".
No relatório da Kroll aparecem mensagens eletrônicas trocadas entre Gushiken e o empresário Luiz Roberto Demarco, ex-sócio de Dantas no Opportunity. Em entrevista anteontem, o ministro confirma a troca de e-mails com Demarco entre 2000 e 2001, mas nega irregularidades. Diz que, por atuar à época na área da previdência, buscava informações sobre Dantas em tal questão.
Ontem, pela manhã, Gushiken conversou longamente por telefone com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Encontrou-se ainda com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Félix, e com Mauro Marcelo de Lima e Silva, diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). A eles, disse que há anos desconfiava que poderia estar na rota de espionagem, mas só tomou conhecimento de que há documentos a respeito quando foi procurado pela reportagem da Folha para tratar do tema.
Concluíram que, neste momento, o melhor caminho é entregar o caso à AGU. "No âmbito do governo, o assunto vem sendo acompanhado pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça", afirmou ontem Gushiken, em nota. O ministro da Secom, por ora, não pretende estender o caso ao presidente Lula, que viajou ontem para a região Sul do país e embarca, neste domingo, para quatro dias de visita a países do continente africano.
O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, disse que sua pasta está fora do caso. "É uma disputa entre duas empresas privadas. O governo fará o que determina a lei: os atos ilegais serão punidos. É tudo caso para a polícia, não para o Ministério das Comunicações", declarou.
(EDUARDO SCOLESE)


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