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ALTA ESPIONAGEM
PSDB e PFL querem apurar se houve interferência indevida em disputa privada; líder governista na Câmara afirma haver ameaça à democracia
Oposição questiona; governo diz ser vítima
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A notícia de que um caso de espionagem atingiu o primeiro escalão do governo dividiu opiniões
entre congressistas. Enquanto a
oposição questionava a suposta
interferência de integrantes da
gestão Lula numa disputa privada
e ameaçava recorrer ao Ministério
Público para cobrar investigação,
os governistas diziam que o Palácio do Planalto é vítima e classificavam a revelação como grave.
"Isso é uma ação entre empresas, uma discussão sobre um contrato e acho que o poder público
deveria estar distante disso. O governo não deve se meter em confronto entre empresas, para isso
existe agência reguladora", afirmou o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).
Ele cobrou ainda esclarecimentos sobre possíveis doações de
empresas ligadas à Telecom Italia
-que trava com o Opportunity a
disputa empresarial em questão- para políticos do PT, informação que consta nos relatórios
da empresa de investigação Kroll,
apesar de não haver provas.
Advogados da direção nacional
do PSDB avaliaram ontem a possibilidade de entrar com representação no Ministério Público
Federal sob o argumento de que o
ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, tiveram atuação em favor de
um dos lados, o da Telecom Italia.
"O governo e o Gushiken são vítimas nessa história. Essa arapongagem empresarial usa o avanço
da tecnologia para se aperfeiçoar.
O Estado deve ter instrumentos
mais modernos para se preservar,
já que os governos ficam ameaçados por esse tipo de coisa", disse o
presidente do PT, José Genoino.
"É gravíssimo que, no processo
democrático, empresas privadas,
nacionais ou internacionais, se
achem no direito de espionar integrantes do governo. É um cancro, coloca em risco a estabilidade
democrática e deve ser rechaçado
de pronto", disse o deputado Professor Luizinho (PT-SP), líder do
governo na Câmara. Para o líder
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), "é uma violência à Constituição brasileira. Houve violação de correspondência. Tem que
ser feita uma apuração rigorosa."
O fato é que, findo o recesso do
Congresso, os partidos de oposição pretendem apresentar requerimentos de informação sobre o
caso, além de tentar aprovar a ida
de Gushiken e de Casseb ao Congresso para prestar explicações.
O senador Arthur Virgílio
(AM), líder do PSDB, levantou a
suposição de que o governo pode
estar sendo chantageado. "Ele
[Daniel Dantas, controlador do
Opportunity] pediu R$ 1,3 bilhão
ao BNDES. Quero saber se esse dinheiro saiu", disse. "[Dantas] não
é nenhum exemplo para mim. Os
métodos são ilegítimos, mas aquilo que porventura foi recolhido
deve virar de domínio público. A
vida pública, com a tecnologia, é
devassada. Quem não for à prova
dessas devassas não tem condições de ficar na vida pública."
Virgílio afirmou esperar que os
e-mails de Gushiken aos quais a
Kroll teve acesso tratem de "zen-budismo". "Tomara que não tenha nada comprometedor. Não
tenho nada, absolutamente, contra o conceito de homem sério
que faço de Gushiken. Espero que
versem sobre zen-budismo."
Colaborou a Folha Online
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