São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

PSDB e PFL querem apurar se houve interferência indevida em disputa privada; líder governista na Câmara afirma haver ameaça à democracia

Oposição questiona; governo diz ser vítima

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A notícia de que um caso de espionagem atingiu o primeiro escalão do governo dividiu opiniões entre congressistas. Enquanto a oposição questionava a suposta interferência de integrantes da gestão Lula numa disputa privada e ameaçava recorrer ao Ministério Público para cobrar investigação, os governistas diziam que o Palácio do Planalto é vítima e classificavam a revelação como grave.
"Isso é uma ação entre empresas, uma discussão sobre um contrato e acho que o poder público deveria estar distante disso. O governo não deve se meter em confronto entre empresas, para isso existe agência reguladora", afirmou o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).
Ele cobrou ainda esclarecimentos sobre possíveis doações de empresas ligadas à Telecom Italia -que trava com o Opportunity a disputa empresarial em questão- para políticos do PT, informação que consta nos relatórios da empresa de investigação Kroll, apesar de não haver provas.
Advogados da direção nacional do PSDB avaliaram ontem a possibilidade de entrar com representação no Ministério Público Federal sob o argumento de que o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, tiveram atuação em favor de um dos lados, o da Telecom Italia.
"O governo e o Gushiken são vítimas nessa história. Essa arapongagem empresarial usa o avanço da tecnologia para se aperfeiçoar. O Estado deve ter instrumentos mais modernos para se preservar, já que os governos ficam ameaçados por esse tipo de coisa", disse o presidente do PT, José Genoino.
"É gravíssimo que, no processo democrático, empresas privadas, nacionais ou internacionais, se achem no direito de espionar integrantes do governo. É um cancro, coloca em risco a estabilidade democrática e deve ser rechaçado de pronto", disse o deputado Professor Luizinho (PT-SP), líder do governo na Câmara. Para o líder no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), "é uma violência à Constituição brasileira. Houve violação de correspondência. Tem que ser feita uma apuração rigorosa."
O fato é que, findo o recesso do Congresso, os partidos de oposição pretendem apresentar requerimentos de informação sobre o caso, além de tentar aprovar a ida de Gushiken e de Casseb ao Congresso para prestar explicações.
O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, levantou a suposição de que o governo pode estar sendo chantageado. "Ele [Daniel Dantas, controlador do Opportunity] pediu R$ 1,3 bilhão ao BNDES. Quero saber se esse dinheiro saiu", disse. "[Dantas] não é nenhum exemplo para mim. Os métodos são ilegítimos, mas aquilo que porventura foi recolhido deve virar de domínio público. A vida pública, com a tecnologia, é devassada. Quem não for à prova dessas devassas não tem condições de ficar na vida pública."
Virgílio afirmou esperar que os e-mails de Gushiken aos quais a Kroll teve acesso tratem de "zen-budismo". "Tomara que não tenha nada comprometedor. Não tenho nada, absolutamente, contra o conceito de homem sério que faço de Gushiken. Espero que versem sobre zen-budismo."


Colaborou a Folha Online

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