São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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NEUSA COSTA

"Só acreditei quando ouvi o nome dele pelo rádio; a partir daí minha vida acabou'

DA REPORTAGEM LOCAL

Na quarta-feira, a costureira Neusa Costa, 57, estava "com um vazio no peito" por causa da morte do filho, Denilson Lopes Costa, 29, no acidente da TAM. Naquele dia, ela pouco falou.
No sábado, após ter visto o pronunciamento do presidente Lula na TV na noite anterior e as cenas de assessores da Presidência, na quinta-feira, ela desabafou e disse à Folha que o vazio deu lugar à revolta.
Denilson morava em São Paulo, era casado e tinha um filho de nove anos. Ele trabalhava como suporte de computação do Habib's havia quatro meses e fazia sua primeira viagem pelo novo emprego. Leia a entrevista a seguir :  

FOLHA - O que a senhora achou do comportamento do governo?
NEUSA COSTA
- O presidente fez pouco caso da tragédia. Foi um desrespeito. Ele tinha obrigação de dar mais atenção. Se ele fosse sério, tentaria evitar o acidente. O pior é que pode acontecer de novo. Dessa vez fomos nós as vítimas, logo podem ser outras famílias. E seus assessores? Estou tão revoltada com tudo isso...

FOLHA - De quem a senhora acha que é a culpa?
NEUSA
- Acho que o aeroporto não estava em condições de estar em funcionamento. A pista é ruim, não podiam deixar aviões chegarem ali. Congonhas tem de ser fechado imediatamente. É um absurdo que continue em operação, com tantos vôos. Eu não quero nem chegar perto dali.

FOLHA - Como têm sido esses últimos dias para a senhora?
NEUSA
- Não dá nem para explicar. Imagina o que tiraram de mim... Não tenho mais coragem de sair de casa, de fazer nada. É uma dor grande. Um pedaço de mim se foi para sempre. Eu ando a casa toda e, onde vou, me lembro dele. Denilson morava aqui nos fundos, era muito carinhoso, atencioso. Amava café, polenta, virado de feijão. Nunca mais vou conseguir fazer de novo essas coisas.

FOLHA - Como a senhora soube do acidente?
NEUSA
- Eu cheguei do trabalho às 19h e meu marido estava vendo na TV. A gente ficou apreensivo. Eu achava que não era ele de jeito nenhum. Quando ligamos para a empresa e nos deram o mesmo número de vôo, me desesperei. Mas só acreditei mesmo que ele tinha morrido quando, já de madrugada, ouvi o nome todo dele pelo rádio. A partir daí, minha vida acabou.

FOLHA - O que tem dado força à senhora?
NEUSA
- Sou católica, mas me sinto abandonada. Não sei de onde vou tirar forças... (DT)


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