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NEUSA COSTA
"Só acreditei quando ouvi o nome dele pelo rádio; a partir daí minha vida acabou'
DA REPORTAGEM LOCAL
Na quarta-feira, a costureira
Neusa Costa, 57, estava "com
um vazio no peito" por causa da
morte do filho, Denilson Lopes
Costa, 29, no acidente da TAM.
Naquele dia, ela pouco falou.
No sábado, após ter visto o pronunciamento do presidente
Lula na TV na noite anterior e as cenas de assessores da Presidência, na quinta-feira, ela desabafou e disse à Folha que o vazio deu lugar à revolta.
Denilson morava em São
Paulo, era casado e tinha um filho de nove anos. Ele trabalhava como suporte de computação do Habib's havia quatro meses e fazia sua primeira viagem pelo novo emprego. Leia a
entrevista a seguir :
FOLHA - O que a senhora achou do
comportamento do governo?
NEUSA COSTA - O presidente fez
pouco caso da tragédia. Foi um
desrespeito. Ele tinha obrigação de dar mais atenção. Se ele
fosse sério, tentaria evitar o acidente. O pior é que pode acontecer de novo. Dessa vez fomos
nós as vítimas, logo podem ser
outras famílias. E seus assessores? Estou tão revoltada com
tudo isso...
FOLHA - De quem a senhora acha
que é a culpa?
NEUSA - Acho que o aeroporto
não estava em condições de estar em funcionamento. A pista
é ruim, não podiam deixar
aviões chegarem ali. Congonhas tem de ser fechado imediatamente. É um absurdo que
continue em operação, com
tantos vôos. Eu não quero nem
chegar perto dali.
FOLHA - Como têm sido esses últimos dias para a senhora?
NEUSA - Não dá nem para explicar. Imagina o que tiraram de
mim... Não tenho mais coragem de sair de casa, de fazer nada. É uma dor grande. Um pedaço de mim se foi para sempre. Eu ando a casa toda e, onde
vou, me lembro dele. Denilson
morava aqui nos fundos, era
muito carinhoso, atencioso.
Amava café, polenta, virado de
feijão. Nunca mais vou conseguir fazer de novo essas coisas.
FOLHA - Como a senhora soube do
acidente?
NEUSA - Eu cheguei do trabalho às 19h e meu marido estava
vendo na TV. A gente ficou
apreensivo. Eu achava que não
era ele de jeito nenhum. Quando ligamos para a empresa e
nos deram o mesmo número de
vôo, me desesperei. Mas só
acreditei mesmo que ele tinha
morrido quando, já de madrugada, ouvi o nome todo dele pelo rádio. A partir daí, minha vida acabou.
FOLHA - O que tem dado força à
senhora?
NEUSA - Sou católica, mas me
sinto abandonada. Não sei de
onde vou tirar forças...
(DT)
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