São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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GLÓRIA CASSOL

"Para governo e empresas, morreram 200 pessoas; para nós, é nossa filha querida'

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A ganância das empresas aéreas e uma seqüência de erros dos órgãos responsáveis pela aviação resultaram na tragédia ocorrida em Congonhas. Essa é a avaliação da bancária aposentada Glória Cassol, 55, mãe da médica Lina Cassol, 28, jovem talentosa, que colecionava títulos de excelência acadêmica.
Lina teve o corpo reconhecido pelo noivo pela aliança. A mãe, que não assistiu à TV nos últimos dias e, por isso, não comentou o pronunciamento de Lula nem o gesto de seu assessor, diz que só a união das famílias das vítimas ameniza sua dor. Leia a seguir:  

FOLHA - Já é possível apontar culpados pelo acidente?
GLÓRIA CASSOL
- Não dá para acusar. Estamos vendo que houve uma série de erros, de negligência. É a empresa com aquela ganância, as firmas envolvidas com aquela ganância, que querem tudo para já, que liberam o aeroporto sem condições. É a Anac que é omissa. O governo tem que fazer a parte dele. Estão tratando a vida humana com descaso. Para eles, morreram 200 pessoas. Para nós, é nossa filha querida.

FOLHA - Tem raiva de alguém?
GLÓRIA
- Estou revoltada. Mas não com atores do processo. Até porque estávamos envolvidos na busca do corpo e em chorar e chorar. Não quero culpar o governo agora.

FOLHA - Como a senhora vê a atuação da TAM?
GLÓRIA
- Não fui a São Paulo. Só tive contato quando fui ao aeroporto [enviar documentos para a identificação]. Nos deram um atendimento bom. De resto, nada. Ninguém me procurou.

FOLHA - O que foi mais doloroso?
GLÓRIA
- O mais doloroso foi quando o André [noivo de Lina] reconheceu a aliança. Quando meu filho ligou, soluçando, foi a confirmação. A verdade era que minha filha tinha morrido.

FOLHA - Como essa dor pode ser amenizada? Com indenização?
GLÓRIA
- Com a união das famílias [das vítimas]. E que isso, esse descaso, tenha um fim. Nossa situação [financeira] é tranqüila, mas acho que uma perda financeira grande para eles [empresa] é uma forma de dar uma cutucada para que se empenhem em mudar.

FOLHA - A tragédia une as famílias das vítimas e ajuda?
GLÓRIA
- Ajuda. Se fosse só uma, era pior. Quando abraçamos outros familiares de outras famílias, vimos que não era só com a gente que aconteceu.

FOLHA - Qual lembrança fica dela?
GLÓRIA
- Era aquela energia, aquele sorriso. Ela tinha brilho e uma capacidade de trabalho incrível. É assim que a vejo.


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