São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2008

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ENTREVISTA

CELSO PITTA


Ex-prefeito diz que sua prisão foi para atingir Kassab e Maluf

Preso pela Operação Satiagraha, Pitta afirma que irá mover ação contra a PF e denunciar violação de direitos humanos

SILVIO NAVARRO
DO PAINEL

Preso pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal -está em liberdade devido a um habeas corpus-, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, 61, afirma que foi vítima de ação eleitoral, por avaliar que seu nome "está associado" ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) e ao ex-prefeito Paulo Maluf (PP), candidatos na eleição paulistana. "Há uma disputa eleitoral próxima e meu nome está associado a dois candidatos, Gilberto Kassab e Paulo Maluf", disse à Folha, por telefone. Pitta nega envolvimento com operações ilegais de venda de precatórios da prefeitura, conforme apontou o inquérito da PF, e prometeu recorrer a tribunais internacionais por violação de direitos humanos. "Houve abuso ao entrarem na minha casa e permitirem que eu fosse filmado de pijama."

 

FOLHA - A Polícia Federal diz que há indícios de que o senhor estava envolvido em esquema de operações ilegais com precatórios.
CELSO PITTA
- Não há nada irregular nem ilegal na intermediação de títulos de pagamentos de precatórios, que, aliás, têm sido um artigo muito procurado pelas carteiras de crédito porque oferecem rentabilidade maior do que os tradicionais papéis. Sobre negociar tráfico de influência no Judiciário, é ilação absolutamente infundada. Tiraram essa conclusão não se sabe de onde, não informaram que Judiciário é esse. Isso vai ser objeto de ação que vou mover contra a Polícia Federal.

FOLHA - A ação será contra o delegado Protógenes Queiroz?
PITTA
- Meus advogados estão estudando. Houve abuso de poder ao entrarem na minha casa e permitirem que eu fosse filmado de pijama. Houve abuso de autoridade ao me algemarem, porque havia testemunhas de que não fiz resistência à prisão. Fui submetido à execração pública sem razão e sem direito de defesa.

FOLHA - E a relação do sr. com Naji Nahas [outro preso pela PF]?
PITTA
- É uma ligação de um cidadão para o outro pedindo dinheiro.

FOLHA - Mas qual a procedência desse dinheiro?
PITTA
- É dinheiro que pedi como um amigo pede para o outro. Ele é um capitalista, meu amigo há mais de 20 anos e, como eu estava numa situação delicada, pedi dinheiro emprestado a ele. Se isso é crime, pelo amor de Deus! Agora, associar isso ao fato de ele ter alguma ligação com o [banqueiro Daniel] Dantas, por outras razões, é um absurdo sem proporções. Pior ainda é dizer que eu tenho conta no exterior. Estou procurando uma entidade internacional de direitos humanos porque isso é um flagrante desrespeito. O mundo todo viu pela TV Globo a Polícia Federal invadindo a minha casa e eu sendo preso de pijama e algemado. Isso não vai ficar assim, vou colocar em fórum internacional.

FOLHA - Se não houve ilegalidade, o que moveu a ação da PF?
PITTA
- Ninguém é criança para achar que aconteceu ao acaso, sem um cronograma político. Há uma disputa eleitoral próxima e meu nome está associado a dois candidatos, Gilberto Kassab e Paulo Maluf. Nada é mais interessante do que atingir esses candidatos indiretamente, por meio da minha imagem. É visível. (...) Existe uma moldura política. Não vou ficar calado e não acho que deva. Já apanhei muito injustamente. Isso que aconteceu tem que servir de exemplo.

FOLHA - Voltando às escutas...
PITTA
- Não há fato incriminatório. Indique uma que mostre que o Pitta está envolvido em alguma falcatrua.

FOLHA - Do que se trata quando o senhor conversa sobre a liberação de um precatório de R$ 90 milhões?
PITTA
- Há precatórios que variam de R$ 150 mil a R$ 1 bilhão. Um título de R$ 90 milhões não é excepcional, o que há de significativo, o valor?

FOLHA - O inquérito diz que há indícios de operação ilegal.
PITTA
- Rechaço fundamentalmente e vou exigir reparação à Polícia Federal.

FOLHA - Então o senhor se dedica a esse ramo de atividade?
PITTA
- Sou um consultor de economia procurado por investidores para aconselhamento de aplicações. Eles sabem do meu conhecimento no setor público e no mercado financeiro. Sempre operei nessa área. Esse é um tipo de papel que tem atração muito grande porque tem garantia do governo e oferece rentabilidade superior aos papéis tradicionais. É um mercado em franca ebulição. Quero saber onde colheram a informação de que faço tráfico de influência no Judiciário, o que é uma grossa mentira.


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