São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escuta que revelou nepotismo agrava a situação de Sarney

Oposição critica senador após divulgação de conversas em que Sarney e seu filho discutem a nomeação do namorado da neta

Senadores querem convocar Conselho de Ética; aliados do peemedebista acusam a Polícia Federal de vazar os grampos para atingir Sarney

Celso Junior - 15.ju.09/Agência Estado
Fernando Sarney chega para depor na sede da PF em São Luís

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Senadores de oposição voltaram ontem a criticar a permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado depois que foram divulgadas gravações de conversas telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça.
Nas conversas, Sarney e seu filho Fernando negociam um cargo no Senado preenchido por meio de ato secreto.
A convocação do Conselho de Ética antes do término do recesso, em 1º de agosto, também foi defendida. O colegiado julgará se Sarney quebrou o decoro, o que pode resultar na cassação do mandato dele. Os aliados do peemedebista acusam a Polícia Federal de vazar os grampos para prejudicá-lo.
O jornal "O Estado de S. Paulo" revelou ontem uma série de diálogos entre Maria Beatriz Sarney, neta do peemedebista, Fernando e o próprio Sarney no qual eles tratam da nomeação do namorado dela, Henrique Dias Bernardes, para uma vaga que antes era ocupada pelo irmão de Maria Beatriz.
Com base na divulgação dos diálogos, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), anunciou que vai protocolar nesta semana a quarta denúncia no Conselho de Ética contra Sarney, desta vez por tráfico de influência. "As gravações são um atentado à República. Ele tem que sair já", disse Virgílio.
Há ainda no colegiado uma representação do PSOL que acusa Sarney pelos atos secretos. Nos últimos 15 anos, 544 atos deixaram de ser publicados no Senado, muitos beneficiaram parentes do peemedebista. "A continuar assim, já não vai ser mais de renúncia, vai ser de cassação", disse Cristovam Buarque (PDT-DF).
"São fatos graves que revelam uma relação administrativa inconveniente. Tornam a sua situação insustentável", afirmou o líder do DEM, José Agripino (RN).
Fernando estava grampeado porque era investigado pela Operação Boi Barrica, da PF. As conversas são de março a abril de 2008. Na semana passada, ele foi indiciado pelos crimes de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Nas conversas sobre a vaga para o namorado da filha, Fernando diz que vai procurar o então diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, homem de confiança de Sarney. Fernando relata o que teria ouvido do então diretor: "Ó, Fernando, isso daí só você conversando com o presidente (na ocasião, o senador Garibaldi Alves), ou então o seu pai (Sarney) conversando, eu não tenho autonomia".
Fernando procura o pai dois dias depois. Sarney demonstrou conhecer o assunto. "Já falou com o Agaciel?", perguntou. "Pedi pro Agaciel segurar com ele. Agaciel tá com dois currículos na mão dele, tá com tudo lá", respondeu Fernando.

Ato secreto
Oito dias depois, Henrique foi nomeado por ato secreto para um cargo de assistente parlamentar, lotado na Diretoria Geral do Senado e com salário de R$ 2.800. Valor que pode dobrar com benefícios como hora extra. Como foi nomeado por ato secreto e todos foram anulados, ele deve ser exonerado.
Garibaldi (PMDB-RN), que presidia a Casa na ocasião, disse não ter sido procurado por Fernando. "Essa nomeação foi assinada pelo Agaciel, mas não teve publicação correta." Ele avalia que, "se as denúncias contra Sarney se confirmarem, a situação dele baixará para uma insustentabilidade".
Henrique foi procurado no trabalho, mas às 16h a informação era que não estava mais no local. Agaciel não foi localizado.
"Esse negócio de procurar cargo vago para colocar indicado é normal. O que é estranho é a conversa vazar", diz Wellington Salgado (PMDB-MG).
O ministro Tarso Genro (Justiça) negou o vazamento. "O que sai da PF, sai por escrito e sai para o Ministério Público. O órgão não participa do debate político e não participará."


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.