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Escuta que revelou nepotismo agrava a situação de Sarney
Oposição critica senador após divulgação de conversas em que Sarney e seu filho discutem a nomeação do namorado da neta
Senadores querem convocar Conselho de Ética; aliados do peemedebista acusam a Polícia Federal de vazar os grampos para atingir Sarney
Celso Junior - 15.ju.09/Agência Estado
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Fernando Sarney chega para depor na sede da PF em São Luís
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Senadores de oposição voltaram ontem a criticar a permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado
depois que foram divulgadas
gravações de conversas telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça.
Nas conversas, Sarney e seu
filho Fernando negociam um
cargo no Senado preenchido
por meio de ato secreto.
A convocação do Conselho
de Ética antes do término do
recesso, em 1º de agosto, também foi defendida. O colegiado
julgará se Sarney quebrou o decoro, o que pode resultar na
cassação do mandato dele. Os
aliados do peemedebista acusam a Polícia Federal de vazar
os grampos para prejudicá-lo.
O jornal "O Estado de S. Paulo" revelou ontem uma série de
diálogos entre Maria Beatriz
Sarney, neta do peemedebista,
Fernando e o próprio Sarney
no qual eles tratam da nomeação do namorado dela, Henrique Dias Bernardes, para uma
vaga que antes era ocupada pelo irmão de Maria Beatriz.
Com base na divulgação dos
diálogos, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM),
anunciou que vai protocolar
nesta semana a quarta denúncia no Conselho de Ética contra
Sarney, desta vez por tráfico de
influência. "As gravações são
um atentado à República. Ele
tem que sair já", disse Virgílio.
Há ainda no colegiado uma
representação do PSOL que
acusa Sarney pelos atos secretos. Nos últimos 15 anos, 544
atos deixaram de ser publicados no Senado, muitos beneficiaram parentes do peemedebista. "A continuar assim, já
não vai ser mais de renúncia,
vai ser de cassação", disse Cristovam Buarque (PDT-DF).
"São fatos graves que revelam uma relação administrativa inconveniente. Tornam a
sua situação insustentável",
afirmou o líder do DEM, José
Agripino (RN).
Fernando estava grampeado
porque era investigado pela
Operação Boi Barrica, da PF. As
conversas são de março a abril
de 2008. Na semana passada,
ele foi indiciado pelos crimes
de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e
falsidade ideológica.
Nas conversas sobre a vaga
para o namorado da filha, Fernando diz que vai procurar o
então diretor-geral do Senado,
Agaciel Maia, homem de confiança de Sarney. Fernando relata o que teria ouvido do então
diretor: "Ó, Fernando, isso daí
só você conversando com o
presidente (na ocasião, o senador Garibaldi Alves), ou então o
seu pai (Sarney) conversando,
eu não tenho autonomia".
Fernando procura o pai dois
dias depois. Sarney demonstrou conhecer o assunto. "Já falou com o Agaciel?", perguntou.
"Pedi pro Agaciel segurar com
ele. Agaciel tá com dois currículos na mão dele, tá com tudo lá",
respondeu Fernando.
Ato secreto
Oito dias depois, Henrique
foi nomeado por ato secreto para um cargo de assistente parlamentar, lotado na Diretoria Geral do Senado e com salário de
R$ 2.800. Valor que pode dobrar com benefícios como hora
extra. Como foi nomeado por
ato secreto e todos foram anulados, ele deve ser exonerado.
Garibaldi (PMDB-RN), que
presidia a Casa na ocasião, disse não ter sido procurado por
Fernando. "Essa nomeação foi
assinada pelo Agaciel, mas não
teve publicação correta." Ele
avalia que, "se as denúncias
contra Sarney se confirmarem,
a situação dele baixará para
uma insustentabilidade".
Henrique foi procurado no
trabalho, mas às 16h a informação era que não estava mais no
local. Agaciel não foi localizado.
"Esse negócio de procurar
cargo vago para colocar indicado é normal. O que é estranho é
a conversa vazar", diz Wellington Salgado (PMDB-MG).
O ministro Tarso Genro
(Justiça) negou o vazamento.
"O que sai da PF, sai por escrito
e sai para o Ministério Público.
O órgão não participa do debate
político e não participará."
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