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RENÚNCIA FISCAL
Empresa diz que não fará demissões em SP até o final do ano
Metalúrgicos em greve
obrigam Ford a negociar
PAULO MOTA
em São Paulo
Após greve dos cerca de 1.450
funcionários de sua unidade do
Ipiranga, na cidade de São Paulo,
a direção da Ford fechou no final
da tarde de ontem um acordo
com o sindicato dos metalúrgicos
pelo qual se compromete a não
demitir esses funcionários até dezembro e a não transferir funções
da fábrica do Ipiranga para a sua
nova indústria que será instalada
na Bahia.
A Folha noticiou ontem que a
montadora já avisou informalmente o governo de que fechará a
sua unidade no Ipiranga.
A informação provocou uma
reação imediata dos funcionários,
que, em assembléia geral às 10h,
decidiram entrar em greve até
que a empresa se pronunciasse
oficialmente sobre o assunto.
Na assembléia, eles decidiram
que só retornariam ao trabalho se
a Ford assinasse um documento
no qual se comprometesse formalmente com a não desativação
da unidade do Ipiranga.
Os grevistas decidiram também
aprovar uma moção de repúdio à
"guerra fiscal" entre os Estados e
exigindo que o governo federal
elabore uma política industrial
para o país.
"O governo federal tem que tomar uma decisão e elaborar uma
política industrial para o país. Do
jeito que está, os Estados ficam
brigando para atrair investimentos com incentivos fiscais absurdos, que serão pagos pelos contribuintes", disse o presidente da comissão de fábrica da Ford do Ipiranga, João Batista Cavalcanti, 51.
Anteontem, o governo federal
anunciou que baixará uma medida provisória permitindo incentivos para a instalação de uma fábrica da Ford na Bahia.
Esses incentivos equivalem a
uma renúncia fiscal de R$ 180 milhões por ano. Além disso, a Ford
terá acesso a uma linha de financiamento de R$ 700 milhões.
Nota
Ainda pela manhã, a Ford divulgou uma nota (leia íntegra abaixo) na qual afirma existirem estudos "sobre a conveniência e oportunidade de se transferir aquela
unidade (do Ipiranga) para outra
região". A nota afirma ainda que,
em qualquer hipótese, a transferência "seria para outra região no
Estado de São Paulo".
A nota não foi considerada convincente pelos grevistas. Em outra
assembléia realizada às 13h30, os
trabalhadores decidiram continuar com a paralisação e foi criada uma comissão para discutir o
assunto com a direção da Ford. A
reunião foi realizada a partir das
16h, na sede da Força Sindical.
Depois de 1 hora e 30 minutos
de reunião, o diretor de Recursos
Humanos da Ford, Carlos Marino, anunciou que a empresa vai
continuar estudando a mudança
da unidade do Ipiranga, mas descartou a possibilidade de transferir funções da unidade para a fábrica na Bahia.
"Garantimos que nenhum trabalhador da Ford do Ipiranga será
demitido até dezembro e que nenhuma função dessa fábrica será
transferida para a Bahia. Se houver alguma mudança, será para
nossas outras unidades do Estado
de São Paulo", disse.
A fábrica do Ipiranga emprega
cerca de 1.450 pessoas entre operários e funcionários do setor administrativo.
A Ford tem fábricas ainda em
São Bernardo do Campo, com
4.700 funcionários, e em Taubaté,
com 1.020.
O deputado federal Luiz Antônio de Medeiros (PFL-SP), que
participou da reunião como diretor da Força Sindical, disse que a
Ford se comprometeu também a
negociar todo o processo de
transferência, caso ocorra, com o
Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo.
Mudanças na MP
Medeiros disse que ficou acordado também que os trabalhadores vão pedir ao presidente Fernando Henrique Cardoso que inclua na medida provisória que
trata dos incentivos para a Ford
na Bahia um item proibindo a
transferência de fábricas de outros Estados para as regiões beneficiadas com a MP.
O secretário-geral do Sindicato
dos Metalúrgicos de São Paulo,
Eleno Bezerra, disse que o acordo
realizado ontem não significa que
a greve iniciada ontem tenha fim.
A proposta deverá ser analisada
pelos trabalhadores em assembléia marcada para as 7h de hoje.
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