São Paulo, Sexta-feira, 23 de Julho de 1999
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RENÚNCIA FISCAL
Empresa diz que não fará demissões em SP até o final do ano
Metalúrgicos em greve obrigam Ford a negociar

PAULO MOTA
em São Paulo

Após greve dos cerca de 1.450 funcionários de sua unidade do Ipiranga, na cidade de São Paulo, a direção da Ford fechou no final da tarde de ontem um acordo com o sindicato dos metalúrgicos pelo qual se compromete a não demitir esses funcionários até dezembro e a não transferir funções da fábrica do Ipiranga para a sua nova indústria que será instalada na Bahia.
A Folha noticiou ontem que a montadora já avisou informalmente o governo de que fechará a sua unidade no Ipiranga.
A informação provocou uma reação imediata dos funcionários, que, em assembléia geral às 10h, decidiram entrar em greve até que a empresa se pronunciasse oficialmente sobre o assunto.
Na assembléia, eles decidiram que só retornariam ao trabalho se a Ford assinasse um documento no qual se comprometesse formalmente com a não desativação da unidade do Ipiranga.
Os grevistas decidiram também aprovar uma moção de repúdio à "guerra fiscal" entre os Estados e exigindo que o governo federal elabore uma política industrial para o país.
"O governo federal tem que tomar uma decisão e elaborar uma política industrial para o país. Do jeito que está, os Estados ficam brigando para atrair investimentos com incentivos fiscais absurdos, que serão pagos pelos contribuintes", disse o presidente da comissão de fábrica da Ford do Ipiranga, João Batista Cavalcanti, 51.
Anteontem, o governo federal anunciou que baixará uma medida provisória permitindo incentivos para a instalação de uma fábrica da Ford na Bahia.
Esses incentivos equivalem a uma renúncia fiscal de R$ 180 milhões por ano. Além disso, a Ford terá acesso a uma linha de financiamento de R$ 700 milhões.

Nota
Ainda pela manhã, a Ford divulgou uma nota (leia íntegra abaixo) na qual afirma existirem estudos "sobre a conveniência e oportunidade de se transferir aquela unidade (do Ipiranga) para outra região". A nota afirma ainda que, em qualquer hipótese, a transferência "seria para outra região no Estado de São Paulo".
A nota não foi considerada convincente pelos grevistas. Em outra assembléia realizada às 13h30, os trabalhadores decidiram continuar com a paralisação e foi criada uma comissão para discutir o assunto com a direção da Ford. A reunião foi realizada a partir das 16h, na sede da Força Sindical.
Depois de 1 hora e 30 minutos de reunião, o diretor de Recursos Humanos da Ford, Carlos Marino, anunciou que a empresa vai continuar estudando a mudança da unidade do Ipiranga, mas descartou a possibilidade de transferir funções da unidade para a fábrica na Bahia.
"Garantimos que nenhum trabalhador da Ford do Ipiranga será demitido até dezembro e que nenhuma função dessa fábrica será transferida para a Bahia. Se houver alguma mudança, será para nossas outras unidades do Estado de São Paulo", disse.
A fábrica do Ipiranga emprega cerca de 1.450 pessoas entre operários e funcionários do setor administrativo.
A Ford tem fábricas ainda em São Bernardo do Campo, com 4.700 funcionários, e em Taubaté, com 1.020.
O deputado federal Luiz Antônio de Medeiros (PFL-SP), que participou da reunião como diretor da Força Sindical, disse que a Ford se comprometeu também a negociar todo o processo de transferência, caso ocorra, com o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Mudanças na MP
Medeiros disse que ficou acordado também que os trabalhadores vão pedir ao presidente Fernando Henrique Cardoso que inclua na medida provisória que trata dos incentivos para a Ford na Bahia um item proibindo a transferência de fábricas de outros Estados para as regiões beneficiadas com a MP.
O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno Bezerra, disse que o acordo realizado ontem não significa que a greve iniciada ontem tenha fim.
A proposta deverá ser analisada pelos trabalhadores em assembléia marcada para as 7h de hoje.


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