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Servidores do INSS têm salários de até R$ 20 mil
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal identificou
dezenas de funcionários do INSS
que se especializaram em ganhar
causas na Justiça e assim engordar seus salários brutos para até
quase R$ 20 mil mensais. O problema existe em outros Estados,
mas caracteriza uma espécie de
máfia no Rio Grande do Norte.
Conforme lista oficial à qual a
Folha teve acesso, um médico
aposentado chega a receber R$
19.971,41 mensais e vários agentes
administrativos, que exercem
função de nível médio, têm salários acima de R$ 16.000,00. É um
valor muito maior do que o salário do presidente da República e
de funcionários graduados de outras esferas do Executivo que têm
mestrado e até doutorado.
O médico tem uma gratificação
PCCS (Plano de Carreira, Cargos
e Salários) de R$ 4.678,88 e mais
R$ 6.169,97 de outras causas ganhas na Justiça. Somando com o
salário base e outras vantagens, a
remuneração chega a R$19.971,41.
Seis agentes administrativos ganham mais de R$ 4.000,00 de
PCCS e mais de R$ 5.000,00 por
ações ganhas judicialmente. Um
deles recebe R$ 16.261,29, um outro, R$ 16.230,91, um terceiro, R$
16.043,46. E não são os únicos acima de R$ 16.000,00.
A lista foi obtida quando os funcionários do INSS (cerca de 33 mil
no total) entraram em greve reivindicando que o PCCS seja pago
para todos. Hoje, apenas em torno de 11 mil recebem a gratificação, concedida por decisão judicial ou "por extensão", ou seja,
por decisão das seções regionais
do INSS. Os primeiros 200 nomes
da lista, que segue a ordem do
mais alto para o mais baixo PCCS,
assustaram o Planalto e os ministérios de Orçamento e Gestão e da
Previdência Social.
A grande maioria é também
contemplada com pagamentos de
outras causas judiciais e ganha
verdadeiras fortunas.
Pela Constituição de 1988, nenhum funcionário público poderia ganhar salário maior que o do
presidente da República, hoje fixado em R$ 8.500,00. Com a reforma administrativa, o teto passou a incluir também os salários
dos ministros do Supremo Tribunal Federal e o dos senadores e deputados federais. A regra, entretanto, jamais foi regulamentada e
não está em vigor.
Na lista de 200 beneficiários dos
maiores PCCS, 152 (ou 76%) são
do Rio Grande do Norte, o que sugere um conluio entre o INSS local, os sindicatos, os funcionários
e setores da própria Justiça. O governo federal vai investigar.
Em segundo lugar, depois desse
Estado, vem Alagoas, com 25
(12,5%) funcionários milionários.
Ao todo, esses 200 representam
dez Estados. Deles, 110 estão na
ativa, 82 são aposentados, um está
cedido a outro órgão e sete recebem pensão. A maior parte é de
agentes administrativos, mas há
um procurador, vários médicos,
administradores e um sociólogo.
O único procurador é também o
único caso de São Paulo. Aposentado, recebe o maior PCCS de todos os 200: são R$ 5.290,73 que,
somados ao salário e outras vantagens, resultam numa remuneração mensal de R$ 15.975,54. Ao
contrário da maioria, ele não tem
nenhuma outra fonte graças a decisões judiciais. Ontem, a Previdência suspendeu o pagamento
de PCCS desse procurador, sob
uma alegação: a carreira de procurador já tem um plano próprio
desde agosto de 2000.
Nos cálculos do governo, são
gastos em torno de R$ 11 milhões
por mês com o pagamento de
PCCS de cerca de um terço dos
funcionários do INSS. Se essa bolada fosse dividida pelo universo
de funcionários do órgão, daria
uma gratificação extra igual para
todos de R$ 400 mensais.
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