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CONGRESSO
Base aliada se une à oposição, e projeto que reajusta tabela em 35,2% é aprovado em votação simbólica
Governo já admite negociar tabela do IR
LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Derrotado ontem pela própria
base aliada na votação do projeto
que reajusta em 35,2% a tabela do
Imposto de Renda da Pessoa Física, o governo já admite negociar
um alívio para os contribuintes. A
tabela está congelada desde 1996 e
sua correção, da forma como foi
aprovada ontem, reduziria a arrecadação da União em R$ 4 bilhões
ao ano, segundo cálculo de líderes
governistas.
O governo, que vinha resistindo
à possibilidade de corrigir a tabela, mudou o tom do discurso. Segundo o vice-líder do governo na
Câmara, Luiz Carlos Hauly
(PSDB-PR), o presidente Fernando Henrique Cardoso deve vetar a
proposta aprovada ontem, mas
poderá editar uma medida provisória reajustando a tabela.
A derrota de ontem do governo
aconteceu em votação simbólica
(sem registro de votos). A Comissão de Finanças e Tributação
aprovou a proposta do deputado
Mussa Demes (PFL-PI). O texto
será submetido a outras votações
antes de ir à sanção de FHC.
O PSDB tentou adiar a votação
para a próxima semana, na tentativa de elaborar uma proposta alternativa, mas não teve apoio do
PMDB e do PFL, que se aliaram à
oposição. A correção da tabela
tem forte apelo entre os congressistas num ano pré-eleitoral.
O projeto aumenta de R$ 900
para R$ 1.217,62 a faixa salarial
que é isenta de IR. As deduções
também serão reajustadas: os gastos com educação serão abatidos
até o limite de R$ 2.299,96 por dependente ao ano. Com dependentes, a dedução será de até R$
1.461,15 por dependente ao ano.
As mudanças passariam a valer
a partir de 1º de janeiro do próximo ano. O governo calcula que,
além de reduzir a receita da União
em R$ 4 bilhões ao ano, o projeto
vai gerar perdas de 15% para os
Estados referentes aos recursos
do FPE (Fundo de Participação
dos Estados).
Mais do que os deputados de
oposição, foram os governistas
que defenderam com maior ênfase o reajuste da tabela. "Ao contrário do que diz o governo, esse
projeto não representa ganhos.
Na prática, ao longo dos últimos
anos, o governo confiscou parte
dos salários do cidadão brasileiro", disse o deputado José Eduardo Dado (PMDB-SP).
O deputado Germano Rigotto
(PMDB-RS), ex-líder do governo
no Congresso, reclamou da falta
de correção da tabela do IR nos
dois mandatos de FHC. "Isso é
um absurdo. As tarifas públicas
aumentaram, a inflação projetada
para este ano é de 6%, mas a tabela não sofre correção", disse.
O projeto já foi aprovado pelos
senadores, mas terá de voltar ao
Senado porque sofreu modificações. Na Câmara, a próxima etapa
é a votação na CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça). Por ser
terminativo, o projeto só irá ao
plenário da Câmara se houver recurso apoiado por um terço dos
deputados. O relator do projeto,
Mussa Demes, disse que o texto
poderá ser modificado nas próximas etapas de discussão.
Na mesma sessão, a Comissão
de Finanças e Tributação aprovou
projeto do deputado Michel Temer (PMDB-SP) que acaba com a
cumulatividade (incidência de tributo em todas as etapas da cadeia
produtiva) das contribuições sociais PIS, Pasep e Cofins. O governo não se manifestou contra a
proposta porque um dispositivo
garante a manutenção da arrecadação atual, por meio do aumento de alíquotas.
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