São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2001

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CONGRESSO

Base aliada se une à oposição, e projeto que reajusta tabela em 35,2% é aprovado em votação simbólica

Governo já admite negociar tabela do IR

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Derrotado ontem pela própria base aliada na votação do projeto que reajusta em 35,2% a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, o governo já admite negociar um alívio para os contribuintes. A tabela está congelada desde 1996 e sua correção, da forma como foi aprovada ontem, reduziria a arrecadação da União em R$ 4 bilhões ao ano, segundo cálculo de líderes governistas.
O governo, que vinha resistindo à possibilidade de corrigir a tabela, mudou o tom do discurso. Segundo o vice-líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), o presidente Fernando Henrique Cardoso deve vetar a proposta aprovada ontem, mas poderá editar uma medida provisória reajustando a tabela.
A derrota de ontem do governo aconteceu em votação simbólica (sem registro de votos). A Comissão de Finanças e Tributação aprovou a proposta do deputado Mussa Demes (PFL-PI). O texto será submetido a outras votações antes de ir à sanção de FHC.
O PSDB tentou adiar a votação para a próxima semana, na tentativa de elaborar uma proposta alternativa, mas não teve apoio do PMDB e do PFL, que se aliaram à oposição. A correção da tabela tem forte apelo entre os congressistas num ano pré-eleitoral.
O projeto aumenta de R$ 900 para R$ 1.217,62 a faixa salarial que é isenta de IR. As deduções também serão reajustadas: os gastos com educação serão abatidos até o limite de R$ 2.299,96 por dependente ao ano. Com dependentes, a dedução será de até R$ 1.461,15 por dependente ao ano.
As mudanças passariam a valer a partir de 1º de janeiro do próximo ano. O governo calcula que, além de reduzir a receita da União em R$ 4 bilhões ao ano, o projeto vai gerar perdas de 15% para os Estados referentes aos recursos do FPE (Fundo de Participação dos Estados).
Mais do que os deputados de oposição, foram os governistas que defenderam com maior ênfase o reajuste da tabela. "Ao contrário do que diz o governo, esse projeto não representa ganhos. Na prática, ao longo dos últimos anos, o governo confiscou parte dos salários do cidadão brasileiro", disse o deputado José Eduardo Dado (PMDB-SP).
O deputado Germano Rigotto (PMDB-RS), ex-líder do governo no Congresso, reclamou da falta de correção da tabela do IR nos dois mandatos de FHC. "Isso é um absurdo. As tarifas públicas aumentaram, a inflação projetada para este ano é de 6%, mas a tabela não sofre correção", disse.
O projeto já foi aprovado pelos senadores, mas terá de voltar ao Senado porque sofreu modificações. Na Câmara, a próxima etapa é a votação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Por ser terminativo, o projeto só irá ao plenário da Câmara se houver recurso apoiado por um terço dos deputados. O relator do projeto, Mussa Demes, disse que o texto poderá ser modificado nas próximas etapas de discussão.
Na mesma sessão, a Comissão de Finanças e Tributação aprovou projeto do deputado Michel Temer (PMDB-SP) que acaba com a cumulatividade (incidência de tributo em todas as etapas da cadeia produtiva) das contribuições sociais PIS, Pasep e Cofins. O governo não se manifestou contra a proposta porque um dispositivo garante a manutenção da arrecadação atual, por meio do aumento de alíquotas.



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