São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2001

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SENADOR SOB PRESSÃO

Senadores dizem que depoimento de inspetor do BC "impressiona" por riqueza de detalhes sobre desvio

Jader diz que volta ao Senado em setembro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia em que o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) disse que pretende reassumir a presidência do Senado em 18 de setembro, sem prorrogar sua licença de 60 dias, seu principal algoz, o inspetor Abrahão Patruni Jr., convenceu senadores de que parte do dinheiro desviado do Banpará foi parar nas contas do senador.
Autor do relatório do Banco Central que aponta os indícios do envolvimento de Jader, Patruni "impressionou" os senadores com a riqueza de detalhes e a farta documentação sobre as operações bancárias com o dinheiro desviado, inclusive cópias de cheques assinados pelo paraense.
"Não há provas de que o dinheiro tenha ido parar nas mãos do senador [Jader], mas há resíduos de aplicações que foram parar nas contas dele", disse Romeu Tuma (PFL-SP), que coordena a comissão. "As evidências são muito fortes e inúmeras, como os cheques assinados por ele [Jader]", disse Eduardo Suplicy (PT-SP).
O próximo item da agenda dos senadores da comissão é ouvir Jader na quarta-feira da semana que vem. Até lá, vão usar o tempo para vencer seu maior desafio: provar que ele faltou com o decoro parlamentar e que, portanto, está sujeito a um processo de cassação.
No entanto, as acusações contra o peemedebista se referem a fatos ocorridos antes de ele assumir o mandato. O temor entre os senadores reside no fato de que, se aceitarem puni-lo por isso, estarão abrindo um precedente, que mais tarde poderá ser usado contra qualquer um deles.
A tarefa é difícil. Segundo seus colegas, Jader tem sido extremamente hábil e cauteloso ao se referir ao Banpará, o que dificulta a possibilidade de se identificar mentiras e contradições -que configurariam quebra de decoro.

Retorno
"Não há nenhum motivo para eu não retornar [à Presidência do Senado]", disse Jader ontem à Folha. O senador licenciou- se do cargo no último 20 de julho.
Segundo Jader, 60 dias é um prazo mais que suficiente para a comissão do Conselho de Ética do Senado esclarecer as acusações que pesam contra ele. "Não há absolutamente nada contra mim."
Apesar da confiança exibida por ele, o PMDB pretende discutir a sucessão de Jader após a convenção partidária de 9 de setembro. A idéia do núcleo governista é preservar seu mandato, mas levá-lo à renúncia da presidência do Senado para colocar em seu lugar outro peemedebista. No conselho, a oposição aposta suas fichas no depoimento de Jader. A expectativa é que ele caia em contradição.
Técnicos do BC reafirmaram, em relatório preliminar sobre a documentação acerca dos desvios do Banpará, que Jader deixou digitais nas operações fraudulentas com dinheiro público, ora completando aplicações, ora se beneficiando dos resgates das mesmas.
Os técnicos foram designados para assessorar os senadores da comissão que investiga as acusações. Os resultados iniciais dos trabalhos foram apresentados em uma reunião ontem de manhã.
"Se fossem só os rendimentos, já seria uma ilegalidade. Mas nem o [valor] principal [das aplicações] voltava para o Banpará", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM). As novas análises reafirmam que não há como eximir Jader de uma investigação sobre peculato. Hoje os técnicos do Banco Central estarão em São Paulo, trabalhando nos primeiros dados obtidos com a quebra de sigilo bancário do peemedebista.

Ameaça
Em meio às acusações contra Jader, surgiram supostas ameaças de peemedebistas ao coordenador das investigações. A interlocutores, Tuma tem-se queixado de que o "PMDB está jogando duro". Segundo Péres, Tuma lhe confidenciou que representantes do PMDB, entre eles o líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), ameaçavam fazer revelações sobre um suposto favorecimento do senador com verbas desviadas da obra superfaturada do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
"Isso é maluquice. Não tenho nem intimidade com o senador [Tuma] para ter esse tipo de conversa com ele", disse Geddel.
A ameaça contemplava também uma "troca": se cassassem Jader no Senado, o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM) também perderia o mandato. Pauderney é acusado de envolvimento na montagem de uma fita com conversa na qual se fala de propinas destinadas ao pemedebista.

Sabatina
Depois de muita polêmica, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou ontem a indicação do procurador-geral do BC José Coêlho Ferreira para ocupar uma vaga de ministro no Superior Tribunal Militar.
Coêlho ouviu de senadores que não tem notório saber jurídico -um dos requisitos para o cargo- , que desconhece o direito militar e que está sendo premiado por ter assinado o parecer do BC, em 1992, que foi usado por Jader como sua maior peça de defesa.



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