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SENADOR SOB PRESSÃO
Senadores dizem que depoimento de inspetor do BC "impressiona" por riqueza de detalhes sobre desvio
Jader diz que volta ao Senado em setembro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia em que o senador Jader
Barbalho (PMDB-PA) disse que
pretende reassumir a presidência
do Senado em 18 de setembro,
sem prorrogar sua licença de 60
dias, seu principal algoz, o inspetor Abrahão Patruni Jr., convenceu senadores de que parte do dinheiro desviado do Banpará foi
parar nas contas do senador.
Autor do relatório do Banco
Central que aponta os indícios do
envolvimento de Jader, Patruni
"impressionou" os senadores
com a riqueza de detalhes e a farta
documentação sobre as operações bancárias com o dinheiro
desviado, inclusive cópias de cheques assinados pelo paraense.
"Não há provas de que o dinheiro tenha ido parar nas mãos do
senador [Jader], mas há resíduos
de aplicações que foram parar nas
contas dele", disse Romeu Tuma
(PFL-SP), que coordena a comissão. "As evidências são muito fortes e inúmeras, como os cheques
assinados por ele [Jader]", disse
Eduardo Suplicy (PT-SP).
O próximo item da agenda dos
senadores da comissão é ouvir Jader na quarta-feira da semana que
vem. Até lá, vão usar o tempo para
vencer seu maior desafio: provar
que ele faltou com o decoro parlamentar e que, portanto, está sujeito a um processo de cassação.
No entanto, as acusações contra
o peemedebista se referem a fatos
ocorridos antes de ele assumir o
mandato. O temor entre os senadores reside no fato de que, se
aceitarem puni-lo por isso, estarão abrindo um precedente, que
mais tarde poderá ser usado contra qualquer um deles.
A tarefa é difícil. Segundo seus
colegas, Jader tem sido extremamente hábil e cauteloso ao se referir ao Banpará, o que dificulta a
possibilidade de se identificar
mentiras e contradições -que
configurariam quebra de decoro.
Retorno
"Não há nenhum motivo para
eu não retornar [à Presidência do
Senado]", disse Jader ontem à Folha. O senador licenciou- se do
cargo no último 20 de julho.
Segundo Jader, 60 dias é um
prazo mais que suficiente para a
comissão do Conselho de Ética do
Senado esclarecer as acusações
que pesam contra ele. "Não há absolutamente nada contra mim."
Apesar da confiança exibida por
ele, o PMDB pretende discutir a
sucessão de Jader após a convenção partidária de 9 de setembro. A
idéia do núcleo governista é preservar seu mandato, mas levá-lo à
renúncia da presidência do Senado para colocar em seu lugar outro peemedebista. No conselho, a
oposição aposta suas fichas no depoimento de Jader. A expectativa
é que ele caia em contradição.
Técnicos do BC reafirmaram,
em relatório preliminar sobre a
documentação acerca dos desvios
do Banpará, que Jader deixou digitais nas operações fraudulentas
com dinheiro público, ora completando aplicações, ora se beneficiando dos resgates das mesmas.
Os técnicos foram designados
para assessorar os senadores da
comissão que investiga as acusações. Os resultados iniciais dos
trabalhos foram apresentados em
uma reunião ontem de manhã.
"Se fossem só os rendimentos,
já seria uma ilegalidade. Mas nem
o [valor] principal [das aplicações] voltava para o Banpará",
disse o senador Jefferson Péres
(PDT-AM). As novas análises reafirmam que não há como eximir
Jader de uma investigação sobre
peculato. Hoje os técnicos do
Banco Central estarão em São
Paulo, trabalhando nos primeiros
dados obtidos com a quebra de sigilo bancário do peemedebista.
Ameaça
Em meio às acusações contra Jader, surgiram supostas ameaças
de peemedebistas ao coordenador das investigações. A interlocutores, Tuma tem-se queixado
de que o "PMDB está jogando duro". Segundo Péres, Tuma lhe
confidenciou que representantes
do PMDB, entre eles o líder do
partido na Câmara, Geddel Vieira
Lima (BA), ameaçavam fazer revelações sobre um suposto favorecimento do senador com verbas
desviadas da obra superfaturada
do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
"Isso é maluquice. Não tenho
nem intimidade com o senador
[Tuma] para ter esse tipo de conversa com ele", disse Geddel.
A ameaça contemplava também uma "troca": se cassassem
Jader no Senado, o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM) também perderia o mandato. Pauderney é acusado de envolvimento
na montagem de uma fita com
conversa na qual se fala de propinas destinadas ao pemedebista.
Sabatina
Depois de muita polêmica, a
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou ontem a indicação do procurador-geral do BC
José Coêlho Ferreira para ocupar
uma vaga de ministro no Superior
Tribunal Militar.
Coêlho ouviu de senadores que
não tem notório saber jurídico
-um dos requisitos para o cargo- , que desconhece o direito
militar e que está sendo premiado
por ter assinado o parecer do BC,
em 1992, que foi usado por Jader
como sua maior peça de defesa.
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