DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem que o Brasil precisa de alguém como Carlos Lacerda, líder da UDN cuja retórica contundente contribuiu para o suicídio de Getúlio Vargas (1954), para a renúncia de Jânio Quadros (1961) e para a deposição de João Goulart (1964).
FHC foi a um evento promovido pela União Paulista pela Ética e Cidadania, em São Paulo. Diante da platéia de cerca de 200 pessoas, o ex-presidente afirmou que o Brasil vive um processo que pode culminar em algo parecido com o que aconteceu na Venezuela, onde uma crise partidária, associada ao descrédito das instituições, permitiu a ascensão de Hugo Chávez.
Para FHC, crises surgem, entre outros fatores, por causa da indiferença com a corrupção. Nesse contexto, declarou que a população só voltará a se indignar e a agir quando houver um "curto-circuito". Era uma tentativa de explicar por que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera as pesquisas mesmo após o mensalão.
"O que é esse curto-circuito? É de repente alguém gritar basta." Em seguida, explicou o "basta" dizendo que, para mudar, alguém com destaque na sociedade precisa ter coragem para eletrizar o país. "Isso é possível, é quando a sociedade muda".
Após essa explicação, FHC falou de Lacerda: "No passado, tivemos pessoas com as quais eu não tinha nenhuma afinidade, Carlos Lacerda, mas que tinha essa capacidade de dramatizar e de cobrar. A meu ver, cobrava errado, mas tinha conseqüência. Precisamos disso no momento, de cobrança."
Ao final, questionado se o PSDB não deveria ser mais agressivo durante a campanha, FHC afirmou: "O que eu disse aqui foi um recado para o partido". (LB)

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