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GRUPO DO RIO
Presidente diz que país não quer ter relação carnal com ninguém, uma ironia a frase do chanceler argentino
FHC ironiza acordo entre Argentina e
EUA
MARTA SALOMON
enviada especial a Assunção
O presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou ontem a
aliança estratégica negociada entre
a Argentina e os Estados Unidos.
"Não queremos ter relações carnais com ninguém", afirmou
FHC, numa referência direta a
uma declaração do chanceler argentino Guido di Tella.
Tella classificou de "carnal" o
relacionamento entre os dois países, depois da recente escolha da
Argentina como aliado especial
dos EUA na área militar. O fato foi
interpretado como uma tentativa
dos EUA de minar o Mercosul.
FHC disse que não teme "conspirações" contra a associação do
Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e minimizou o efeito prático
da aliança entre Argentina e EUA,
assim como o fim do embargo à
venda de armas à região.
"Nós, brasileiros, não temos
uma preocupação doentia com o
que pensam nos Estados Unidos,
dizem os Estados Unidos", investiu o presidente em entrevista na
chegada ao Paraguai, onde participa da reunião anual com representantes de outros 13 países da América Latina e Caribe integrantes do
Grupo do Rio.
Conselho
Na véspera do encontro reservado com o presidente Carlos Menem, FHC insistiu na defesa da indicação de um país da América Latina para um assento permanente
no Conselho de Segurança da
ONU (Organização das Nações
Unidas), num critério diferente do
pregado pelo colega argentino.
O problema, segundo FHC, não
será resolvido na reunião do Grupo do Rio. "Cada um dos nossos
países terá suas visões, suas aspirações", avaliou o presidente. "Vamos manter nossas identidades,
mas saberemos preservar o essencial, que é o Mercosul" defendeu.
O governo manterá o projeto de
lançar o Brasil candidato a uma vaga permanente do conselho, mas
já sabe que não obterá apoio prévio à candidatura durante a reunião de Assunção.
A reforma do Conselho será discutida a partir de setembro na Assembléia Geral da ONU.
Sarney
Além de ironizar o chanceler argentino, FHC elogiou o senador e
ex-presidente José Sarney
(PMDB-AP), que apontou Menem
como "instrumento de divisão do
continente". Na última quarta-feira, Sarney disse que interesses comerciais contrariados dos Estados
Unidos ameaçavam o Mercosul.
Em nenhum momento, o presidente desautorizou a interpretação do senador. Ao contrário, disse que cumprimentara Sarney pelo
discurso. "O Congresso brasileiro
expressa o sentimento do país",
afirmou o presidente.
FHC disse que, na condição de
chefe de Estado, não podia fazer o
mesmo discurso de Sarney. "Minhas opiniões são balizadas pelos
interesses globais do Brasil e nas
suas relações internacionais", disse, sem deixar claro o que pensa.
O presidente considerou inoportuno o comentário feito ontem pelo porta-voz do Departamento de
Estado dos EUA, James Rubin, a
propósito do discurso de Sarney.
"Acho que nem é próprio do Departamento de Estado opinar sobre um discurso de parlamentar
brasileiro, um ex-presidente. O
Itamarati jamais opina sobre declarações de membros do Congresso americano."
Antes de FHC chegar a Assunção, o chanceler Luiz Felipe Lampreia disse que os EUA estavam
"colocando panos quentes" no
conflito entre Argentina e Brasil.
O porta-voz disse anteontem que
os EUA têm boas relações com os
dois países e que o status de "aliada militar íntima" à Argentina se
devia ao reconhecimento de uma
"boa cidadania mundial".
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