São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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Governo petista do Acre corre para inaugurar antes da eleição a obra que atravessou dez anos de escândalos

O canal amaldiçoado

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO

O Canal da Maternidade, a obra chamada de "amaldiçoada" pelos acreanos, transformada em símbolo da decadência da era Collor, está sendo concluída a toque de caixa pelo governo do PT no Acre.
Candidato à reeleição, o governador Jorge Viana corre contra o tempo para entregar ao menos os trechos principais no domingo, uma semana antes da votação. Hoje, 75% da obra está de pé.
Mesmo sem estar completo (a previsão é para o início de 2003), o Canal deve ser inaugurado a tempo de ser faturado eleitoralmente por Viana e, por tabela, pelo presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, que já o vem citando em discursos e entrevistas como marca do "modo petista de governar".
A canalização do degradado igarapé da Maternidade, aguardada há décadas em Rio Branco, tem enorme potencial de votos. Mais ainda porque o PT ampliou o projeto, agregando uma área de lazer -o Parque da Maternidade.
O governo também não economizou na propaganda. Distribuiu panfletos dizendo que "Rio Branco não será mais a mesma" e veiculou spots de 1 minuto em horário nobre na TV.
O Canal tornou-se célebre em 1992. Em fevereiro daquele ano, foi divulgada gravação de conversa em que o então ministro do Trabalho, Antônio Rogério Magri, supostamente dizia ter pedido propina da Odebrecht, que fazia a obra, para liberar recursos.
Em maio de 1992, o então governador Edmundo Pinto foi assassinado às vésperas de depor na CPI que apurava a liberação de recursos do FGTS para a obra. A polícia considerou crime comum, mas relatório da CPI da Pistolagem viu motivação política.
No final de 2000, a Justiça, atendendo a ação do Ministério Público Federal, que considerava a obra "de interesse público", condenou o Estado a realizá-la e a Caixa Econômica Federal a liberar financiamento.
O contrato com a Odebrecht foi cancelado e, em nova licitação, a obra foi dividida em seis lotes menores, a cargo de quatro empreiteiras locais. O custo caiu: os antigos US$ 36 milhões (cerca de R$ 120 milhões) reduziram-se a R$ 30 milhões, parque incluído.
O novo parque tem seis quilômetros, com ciclovias, pista de cooper e espaço cultural.
O governador, que teve a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral do Acre por uso da máquina (a decisão foi revertida pelo TSE), não pretende ir à inauguração -mas, com secretários e assessores presentes, o evento deve se tornar um ato político.
A oposição ao PT no Acre, encabeçada pelo candidato Flaviano Melo (PMDB), acusa o partido de "fazer campanha com dinheiro dos impostos da população".
Viana diz que o prazo previsto no início do trabalho, em março do ano passado, já era de 18 meses. Dá ainda uma explicação meteorológica: "Em outubro começa a época das chuvas. Ficaria mais fácil e mais barato inaugurá-la antes disso".


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