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ENERGIA
AIEA terá acesso às conexões das centrífugas, mas aparelhos ficarão cobertos
Brasil aceita inspeção nuclear em Resende com restrições
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro e a AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica) fizeram ontem acordo para a vistoria da unidade nuclear de Resende (RJ), tema que
vinha gerando pressões internacionais contra o país. Os inspetores poderão verificar a fábrica de
transformação de urânio enriquecido, olhar as conexões das centrífugas, mas os aparelhos, cobertos,
não poderão ser vistos.
No dia 4 de abril, o jornal "The
Washington Post" divulgou que o
Brasil estava vetando as inspeções
no local. O caso ganhou repercussão internacional. Na ocasião, o
Itamaraty divulgou uma nota na
qual declarou "inaceitáveis" as
acusações e que apenas estava
sendo acertada a forma como a
verificação seria conduzida.
O acordo, segundo a assessoria
de imprensa do Ministério da
Ciência e Tecnologia, foi firmado
entre o ministro Eduardo Campos e o egípcio Mohamed el Baradei, chefe da AIEA, na Áustria, sede da entidade. As centrífugas são
feitas com tecnologia nacional, e
avalia-se que produzem urânio
enriquecido a um menor custo
em relação à tecnologia existente
no mundo. Assim, para o governo, as inspeções no equipamento
poderiam colocar em risco a vantagem brasileira. Já a AIEA declarava que a vistoria era necessária
para garantir que não havia desvio do urânio para outros fins.
No acordo, os inspetores poderão verificar toda a unidade nuclear, mas um aparato de alumínio impedirá que vejam os aparelhos. Ali, haverá brechas, no alto e
na parte de baixo, o que permitirá
que sejam vistas as tubulações
que estão ligadas às centrífugas.
A mesma estratégia já era utilizada nos modelos das centrífugas,
que foram desenvolvidas no centro experimental Aramar, da Marinha, em Iperó (SP), segundo a
assessoria do ministério. O governo, segundo a Folha apurou, desconfia que as pressão para a vistoria total era feita pelos EUA. A inspeção será no dia 18 de outubro.
O Brasil é signatário do Tratado
de Não-Proliferação Nuclear, mas
não assinou o seu protocolo adicional, que permitiria inspeções
irrestritas e sem aviso prévio. Para
cada nova unidade, é firmado um
Tratado de Salvaguardas com a
AIEA, no qual são acertadas as
restrições das visitas. O Brasil, até
o momento, não possui duas das
etapas da produção de energia
nuclear: a transformação do urânio em gás e o seu enriquecimento. O gás de urânio, quando enriquecido, é transformado em pó e
depois compactado para fabricar
pequenas pastilhas, que são o
combustível das usinas nucleares.
A unidade de Resende é a primeira fábrica de urânio enriquecido do país e suprirá parte da demanda das usinas de Angra 1 e
Angra 2. A fábrica já está pronta
para operar, mas, além do acerto
com a AIEA, também precisa do
aval da Cnen (Comissão Nacional
de Energia Nuclear).
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