São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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ENERGIA

AIEA terá acesso às conexões das centrífugas, mas aparelhos ficarão cobertos

Brasil aceita inspeção nuclear em Resende com restrições

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) fizeram ontem acordo para a vistoria da unidade nuclear de Resende (RJ), tema que vinha gerando pressões internacionais contra o país. Os inspetores poderão verificar a fábrica de transformação de urânio enriquecido, olhar as conexões das centrífugas, mas os aparelhos, cobertos, não poderão ser vistos.
No dia 4 de abril, o jornal "The Washington Post" divulgou que o Brasil estava vetando as inspeções no local. O caso ganhou repercussão internacional. Na ocasião, o Itamaraty divulgou uma nota na qual declarou "inaceitáveis" as acusações e que apenas estava sendo acertada a forma como a verificação seria conduzida.
O acordo, segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi firmado entre o ministro Eduardo Campos e o egípcio Mohamed el Baradei, chefe da AIEA, na Áustria, sede da entidade. As centrífugas são feitas com tecnologia nacional, e avalia-se que produzem urânio enriquecido a um menor custo em relação à tecnologia existente no mundo. Assim, para o governo, as inspeções no equipamento poderiam colocar em risco a vantagem brasileira. Já a AIEA declarava que a vistoria era necessária para garantir que não havia desvio do urânio para outros fins.
No acordo, os inspetores poderão verificar toda a unidade nuclear, mas um aparato de alumínio impedirá que vejam os aparelhos. Ali, haverá brechas, no alto e na parte de baixo, o que permitirá que sejam vistas as tubulações que estão ligadas às centrífugas.
A mesma estratégia já era utilizada nos modelos das centrífugas, que foram desenvolvidas no centro experimental Aramar, da Marinha, em Iperó (SP), segundo a assessoria do ministério. O governo, segundo a Folha apurou, desconfia que as pressão para a vistoria total era feita pelos EUA. A inspeção será no dia 18 de outubro.
O Brasil é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas não assinou o seu protocolo adicional, que permitiria inspeções irrestritas e sem aviso prévio. Para cada nova unidade, é firmado um Tratado de Salvaguardas com a AIEA, no qual são acertadas as restrições das visitas. O Brasil, até o momento, não possui duas das etapas da produção de energia nuclear: a transformação do urânio em gás e o seu enriquecimento. O gás de urânio, quando enriquecido, é transformado em pó e depois compactado para fabricar pequenas pastilhas, que são o combustível das usinas nucleares.
A unidade de Resende é a primeira fábrica de urânio enriquecido do país e suprirá parte da demanda das usinas de Angra 1 e Angra 2. A fábrica já está pronta para operar, mas, além do acerto com a AIEA, também precisa do aval da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear).


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