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LIXO PAULISTA
Transcrição de conversas abre suspeita sobre manipulação de licitações e acordos entre empresas, inclusive na capital
Escutas sugerem atuação em 10 cidades
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO
ROGÉRIO PAGNAN
JOEL SILVA
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Ministério Público e a Polícia
Civil de Ribeirão Preto (SP) investigam uma suposta quadrilha formada por executivos de empresas
de lixo que estariam corrompendo servidores e manipulando licitações públicas em pelo menos
dez municípios de São Paulo.
Diálogos telefônicos, interceptados ao longo dos últimos cinco
meses com autorização judicial
no decorrer da apuração, indicam
supostos acordos entre representantes da empresa de lixo Leão
Leão, uma das maiores de Ribeirão Preto, e outras empresas participantes de licitações.
As informações constam do relatório das interceptações, encaminhado pelo Gaerco (Grupo de
Atuação Especial Regional para
Prevenção e Repressão ao Crime
Organizado) ao fórum de Ribeirão Preto e às delegacias seccionais de Polícia de Sertãozinho e de
Ribeirão Preto.
Também foram registradas
conversas que sugerem acertos
prévios entre empresas que participarão de concorrências do lixo e
de limpeza urbana da Prefeitura
de São Paulo.
Transcrições de parte das gravações que integram o relatório, obtido pela Folha, mostram que o
advogado Rogério Tadeu Buratti,
41, acusado de envolvimento no
escândalo Waldomiro Diniz,
também atua na disputa pelas
concessões em São Paulo.
A concessão do lixo está avaliada em R$ 10 bilhões por um prazo
de 20 anos. A da varrição, em R$
1,4 bilhão, por cinco anos.
"Eles me consultariam sobre o
ponto de vista de saber se tudo
[está] bem para mim, não muito
preocupados com você. Mas eles
me perguntariam pra mim se me
causaria problema. Eu tenho certeza", diz Buratti em 16 de junho,
ao saber do interlocutor que a
prefeitura paulistana poderia já
ter realizado uma "lista de empresas que vão assinar uma emergência [um contrato de emergência]
em outubro".
Esse trecho do diálogo trata dos
contratos de varrição, que vão expirar em outubro. Processo no
TCM (Tribunal de Contas do Município) apontou falhas na concorrência e tem impedido a prefeitura, desde abril, de concluir o
novo processo licitatório.
Ex-secretário de Antonio Palocci Filho na sua primeira gestão na
Prefeitura de Ribeirão Preto
(1993-1996) e presidente da Leão
Ambiental até março último, Buratti foi acusado por executivos da
multinacional GTech de ter sido o
nome indicado por Waldomiro
Diniz para receber R$ 6 milhões
como parte das negociações para
renovação do contrato de R$ 650
milhões da empresa com a Caixa
Econômica Federal.
O interlocutor de Buratti que
aparece nas transcrições é outro
ex-auxiliar do primeiro escalão da
segunda gestão de Palocci (2001-2002), Wilney Barquete, atual
presidente da empresa Leão Ambiental, braço do grupo Leão
Leão, empresa de coleta de lixo
com faturamento anual de R$ 200
milhões e 1.500 funcionários.
Barquete também demonstra
estar informado sobre o andamento da concorrência. "Os convites para o baile já foram distribuídos", diz ele a Buratti, mencionando um advogado como fonte.
O executivo da Leão Ambiental
diz a seguir ter recebido informações sobre as negociações entre
empresas que disputam o contrato. "[O informante] disse que tem
umas cisões já definidas: a Qualix
sendo vendida para a Queiroz
Galvão e a Camargo Corrêa sendo
vendida para a Vega", afirma.
"Charuteira"
Em outra conversa, gravada em
5 de maio deste ano, Buratti e Barquete também falam sobre os
contratos de limpeza urbana de
São Paulo. "Tá tudo pronto, tá tudo certo, mas aquela confusão de
quinta e sexta segurou as coisas",
diz Barquete a Buratti. "E ontem a
charuteira lá falou que o secretariado está esperando o tribunal se
posicionar", diz Barquete, sem esclarecer quem seria a "charuteira". O diálogo ocorreu uma semana depois de a Folha ter divulgado que registrara em cartório, 15
dias antes, documento que antecipava o resultado da licitação.
Buratti e Barquete são investigados pela Polícia Civil por suposta
formação de quadrilha. O inquérito foi aberto na semana passada,
com base nas mesmas apurações
do Ministério Público. Além deles, outros três diretores da Leão
Leão (controladora da Leão Ambiental) estão sob investigação:
Marcelo Franzine, Fernando Fischer e Luiz Cláudio Leão, também
sócio-proprietário da empresa.
Copeira
Os promotores de Justiça obtiveram ordem judicial para monitorar os telefones de Rogério Buratti e mais dois executivos da
Leão leão depois de descobrir que
a casa de uma copeira da diretoria
da empresa havia sido usada como endereço da sede de outra
empresa de Buratti, a BBS Consultores, a mesma que teria sido
indicada à GTech por Waldomiro
Diniz para receber recursos que
garantiriam a renovação do contrato com a Caixa.
No último dia 13, operações simultâneas na casa de Buratti e na
sede da Leão Leão apreenderam
dinheiro, documentos contábeis e
computadores, que estão sendo
analisados pela Polícia Civil.
De acordo com o relatório encaminhado à Justiça de Ribeirão
Preto, os promotores incluíram
São Paulo entre dez prefeituras a
serem investigadas. "[Além de
Sertãozinho], há inúmeros outros
elementos de prova seguros e
concretos no sentido de fraudes
consumadas e em andamento em
várias prefeituras, tais como Jaboticabal, Barretos, Monte Alto, Caçapava, Matão, Araraquara, Franca, São Paulo e Ribeirão Preto.
Contudo, somente depois de
transcritas as conversações restantes, será possível detalhá-las",
diz o documento.
Das prefeituras citadas, cinco
são administradas pelo PT, três
pelo PSDB e duas pelo PMDB.
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