|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Marcelo Coelho
Teatro das demissões
LULA SABIA ou não sabia? A dúvida foi intensa no escândalo
do mensalão, e se repete,
com menos ênfase talvez,
neste caso do dossiê contra Serra. É que, de certo
ponto de vista, a pergunta
deixa de ter relevância.
Com Lula sabendo ou
não, o essencial é que, sob
o seu governo, criou-se
um sistema criminoso de
aparelhamento do Estado
a serviço do PT. Vê-se agora que nada do que ocorreu durante a crise do
mensalão levou os dirigentes do partido a mudar
de comportamento. Para
cada Delúbio que sai, há
sempre um Gedimar, um
Freud, ou seja lá que nome
tenham, para manter a
máquina funcionando.
Lula promove algumas
demissões, mas o esquema se recupera prontamente, do mesmo modo
que uma árvore ganha força ao ser podada de vez em
quando. Se os escândalos
não tiveram, até agora,
grande impacto sobre a
popularidade de Lula, isso
em parte se deve à sua
pronta disposição para demitir quem quer que seja:
Zé Dirceu, Palocci, Gushiken, Genoino, e agora Berzoini, duram o quanto puderem durar.
A cada escândalo, Lula
se livra da tutela do PT,
sem perder as vantagens
que lhe traz uma organização disposta a tudo para
mantê-lo no poder. Seu
governo pôde mesmo, graças ao escândalo, beneficiar-se com um ganho de
eficiência. Coincidência
ou não, os resultados administrativos mais palpáveis começaram a aparecer depois da saída de Zé
Dirceu, em cujo gabinete,
ao que se diz, emperravam-se dezenas de comissões e projetos.
O teatro das demissões
não impede que o alto e o
baixo clero petistas se
comportem como se fossem donos do Estado brasileiro. O delírio aparelhista, as violações freqüentes
da lei, as investidas contra
o sistema republicano ganham livre curso, acompanhadas de quando em
quando por ataques à liberdade de imprensa,
enunciados com ares de
indignação e inocência.
É curioso que venham
das antigas bases sindicais
do PT os atos mais infames do governo. Delúbio,
Berzoini, Gushiken, Palocci, Freud Godoy, Jorge
Lorenzetti, Paulo Okamotto, não são nomes que
surgiram depois de instaurado o vale-tudo das
alianças com o PL e o PTB.
São petistas autênticos, de
longa data. Um passado de
lutas funciona como espécie de autorização interna
para a delinqüência. A duplicidade moral se torna o
modo de funcionamento
básico do governo Lula
que não sabe de nada, mas
não sabe sabendo.
É assim que o gangsterismo partidário convive
com a independência da
Polícia Federal. De certo
modo, Lula desenvolve a
tática do "cada macaco no
seu galho". Deixa o Banco
Central na mão dos ortodoxos, deixa o vice-presidente criticar os juros; põe
Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, e
faz aliança com deputados
adeptos da motosserra;
não impede as ações da
PF, muito menos as velhacarias dos companheiros
de partido.
Punam-se os culpados,
com rigor! Temos outros
para continuar o serviço.
MARCELO COELHO é colunista da Folha
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Eleições 2006/Datafolha: Para 52% dos eleitores, assessor de Lula participou de compra de dossiê Índice
|